Preciso me segurar nas paredes para não tropeçar com estes saltos e levemente embriagada do que jeito que estou. Não desvio o olhar do chão com medo de pisar em falso e levar uma queda até que minhas mãos se apoiam em algo que não é a parede.

Pele quente, contrastando com correntes de metal frio sob meus dedos. Levanto o olhar lentamente e vejo ele. Seu olhos escuros fixos em mim. Me fitando com tamanha intensidade que é impossível desviar o olhar.

— Você não deveria estar aqui, bella— ele traga o cigarro que está entre os dedos repletos de anéis.

Demoro um pouco para raciocinar o suficiente para elaborar uma resposta.

— Bom... isso não lhe diz respeito não é?— digo determinada, seguindo pelo corredor. Encontro a porta do camarim e levanto a mão para bater.

Eu deveria bater? Penso por um segundo e resolvo que não, já fui muito passiva nesse relacionamento e olha no que deu. Me arrependo dessa decisão no momento em que abro a porta e minha visão se firma o suficiente para que consiga enxergar o que acontece no camarim claro.

Pernas torneadas abertas, um vestido enrolado na cintura e uma calcinha pendurada em um dos pés. Eu poderia ver toda a intimidade da garota se uma cabeça loira não estivesse cobrindo-a com a boca. Dois dedos adornados por anéis enfiados nela— como ela fazia comigo.— e a garota geme sem parar — como eu fazia, menos de uma semana atrás.

Meus dedos apertam na maçaneta e eu quero gritar. Nenhuma das duas parece ter notado que a porta foi aberta. Quando não enxergo mais nada com as lágrimas não derramadas obstruindo minha visão, algo me desperta e bato a porta com força. Respiro fundo e mordo o lábio inferior.

Não estou mais triste, ou compreensiva.
Estou com raiva.
Quero expulsar aquela garota de lá.
Quero estar no lugar dela.

— Eu avisei — ouço a voz rouca vindo de trás.
Viro e acabo perto demais de Damiano.

—O que você quer?— não tenho paciência para suas provocações agora.

—- Ah Astrid, você tem que entender que Victoria não liga para você. Eu sei que ela pode fazer parecer outra coisa, mas Vic só queria seu corpo e nada mais.

Aperto as mãos em punho. Queria tanto socá-lo agora. Mas não o faço. Porque vejo, atrás de Damiano, a porta do camarim se abrir e a cabeça loira olhar de um lado para o outro, atordoada. Ela está vindo até nós.

— Damiano, você que..— Vic para quando eu envolvo a mandíbula angulosa com as duas mãos e puxo o rosto dele para um beijo.

Estou com raiva, bebi alguns drinques e não tenho a menor ideia do que estou fazendo. Queria parar e fingir que isso nunca aconteceu mas minha boca já está colado na dele. Não tem mais volta.

Ele abriu um pouco os lábios, provavelmente para dizer alguma coisa, mas eu aproveito a oportunidade para aprofundar o beijo. Sua língua tem um gosto mentolado refrescante, consigo sentir o gosto do cigarro também e um pouco de álcool. É sexy, apesar de tudo.

Só espero que Victoria não consiga ver as lágrimas que ainda molham meu rosto.

Quando me separo de Damiano, ele me surpreende. Envolve um braço na minha cintura, logo acima da bunda e com a outra mão, agarra minha nuca.

Em um segundo, minhas costas batem na parede e Damiano segura meu queixo com o polegar e o puxa para baixo, fazendo com que eu abra os lábios — totalmente hipnotizada — e ele se inclina para prender o inferior entre os dentes, passando a língua por ele.

Deus, ele é bom nisso.

E então, o motivo disso tudo pigarreia atrás de nós e finalmente nos separamos.

— Algum problema Victoria? — ele pergunta irônico, se virando para ela.

Vic não deve ter percebido que era eu até agora, porque está com os olhos arregalados em surpresa. Ela demora alguns segundos para falar novamente.

— Asty? Está tudo bem? — ela pergunta parecendo preocupada e meu coração quase amolece, quase. Eu concordo firmemente com a cabeça e ela continua — Bom, Dami... você viu quem abriu a porta?

— Desculpe, mas estava um pouco ocupado demais para ficar de vigia — ele tira a mão da minha cintura para tragar o cigarro que está nela.

— Hã...Claro. Deixa pra lá. — Victoria ainda parece atordoada quando dá meia volta e segue novamente para o camarim, onde a garota de antes está na porta, chamando por ela.

Espero o baque da porta para me desvencilhar de Damiano.
Estraguei tudo.
Preciso encontrar Sophie.
Preciso ir para casa.

— Fique à vontade para voltar sempre que quiser carino — ele diz com um sorriso de canto, e isso só me faz ter mais certeza de que fodi com tudo.

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Tradução.

"Eu não consigo lembrar de te esquecer
Eu continuo esquecendo
que eu deveria deixar você ir
Mas quando você me olha
A única memória é
de nós beijando sob a luz do luar."

Backstage Where stories live. Discover now