—Quem está sendo patético é você — Apontou — Seu pai precisa de mim porque é ganancioso e não se contenta com o que ja tem, está querendo mais e mais e nosso casamento vai dar isso a ele. Não adianta Leonardo, você vai ser obrigado a se casar comigo e não há nada que você possa fazer, tem muito mais do que dinheiro em jogo e você sabe disso.

É, ela sabia. Eu pedi para ele não contar para ninguém mas ele contou para ela, agora vai ser mais uma pessoa que vai querer me chantagear.

—Eu não vou me casar com você, e em relação a isso que pelo visto você já sabe — Me aproximei do seu rosto — Eu nunca vou me casar com você, eu vou dar o meu jeito e não vou Precisar nem mesmo do dinheiro do meu pai.

—Você me conhece muito bem e sabe que eu não desisto, você ainda vai implorar para se casar comigo — Sorriu
— vai vir correndo para mim quando o seu problema explodir.

Ela me lançou um sorriso cínico e saiu do quarto. Agora ela já sabe, e vai conseguir ser ainda mais filha da puta que o meu pai.

(...)

Me joguei na minha cama apenas de cueca após um longo e demorado banho. Ouvi vozes no andar de baixo e decidi que iria descer, já fazia um tempo que eu não via o meu pai e por incrível que pareça, eu queria saber como ele estava. Na verdade, eu não estava preocupado em saber como ele estava. Só estava curioso, já fazem quase um mês que ele estava fora de casa, o que não é nenhuma novidade.

Não é novidade ficar esse tempo todo fora, assim como não é novidade os chifres que Marta tem. Mas eu tenho certeza que ela faz questão de devolver os chifres para ele. Dois cornos conformados.

Olhei pela janela e vi que tudo estava escuro do lado de fora, a noite chegou e trouxe o frio com ela.

Vesti uma calça preta de moletom e desci para o andar de baixo, as pontas molhadas dos meus cabelos quase cobriam meus olhos.

Parei no último degrau vendo meu pai conversando com Marta, ele me olhou mas logo desviou o olhar. Nossa relação se resume em brigas, dias sem se ver e se falar. Nossa relação nunca vai ser boa, diferente dele, eu não consigo deixar o passado para trás. Não consigo simplesmente esquecer tudo o que aconteceu. O passado que me atormenta todos os dias, que tira o meu sono, meu apetite, as vezes até a vontade de continuar vivendo.

Eu fico indignado vendo como esses dois são falsos, eles fizeram tantas coisas ruins e agem como se nada tivesse acontecido. Parece até que eu sou o único que não esquece o passado. Mas mesmo se eu tivesse escolha, eu nunca esqueceria nada do que aconteceu.

—Leonardo — ele falou comigo pela primeira vez — Vai ficar aí mesmo? Venha comer, a mesa já está posta.

Marta segurou a mão dele e os dois passaram por mim indo em direção a mesa, mas antes ela me olhou e sorriu. Um sorriso que diz muita coisa, ela está aprontando alguma e eu vou acabar me fodendo.

Os dois se sentaram lado a lado, eu me sentei na ponta da mesa sem me importar por estar sem camisa.

Peguei um prato e me servi, eu nunca conseguia identificar essas comidas estranhas, Marta adorava uma refeição "de rico". Já eu, bom, eu daria tudo por um prato de arroz com feijão, bife e batas fritas.

—Porque contou sobre aquilo para Letícia? — Encarei ele — E não adianta dizer que não disse nada, ela deixou bem claro que sabe de tudo.

—Aquilo o que? — Me olhou confuso — Ah, aquilo...Eu não disse nada, nunca diria. Isso foi coisa do pai dela, você sabe que ele é meu melhor amigo e é a única pessoa de fora que sabe disso.

Uma grande filho da puta.

—Eu senti sua falta amor — Marta fez uma voz manhosa — A casa fica horrível sem você, é torturante não te ver em algum canto, no nosso quarto...

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora