Capítulo 24

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"— Vai pro quarto, filha. —  mamãe disse com a voz embargada.

Mas, mãe... —  falei baixo, olhando para o chão. Naquele momento, eu não tinha coragem de olhar para eles.

Para o quarto, Katherine! Agora! — meu pai gritou, alterado pela bebida. — Ou você quer tomar outra surra? — ele deu um passo em minha direção, mas minha mãe ficou na frente dele, impedindo que o mesmo avançasse.

Não toque nela, Michael. — ele deu um tapa no rosto da minha mãe. Eu não conseguia me mexer, meus pés pareciam estar colados no chão."

Acordei em um pulo, ficando sentada na cama. Quanto mais fundo eu respirava, mais difícil parecia ficar calma.

— Tá tudo bem, Kat. — falei comigo mesma. — Foi só um pesadelo...

Repeti isso tantas vezes que aquela frase não tinha mais sentido na minha cabeça. Eu tinha tido vários pesadelos ultimamente e é sempre a mesma coisa.

Sabe quando estamos em um meio-termo entre acordado e dormindo? Sentir o corpo na vida real, mas apesar disso, querer continuar no pesadelo para tentar ter um final feliz. Mesmo assim, sempre acordar com o coração acelerado e com vontade de chorar, como se tudo aquilo fosse muito real.

Bom, no meu caso, tudo é mesmo real. Eu só tinha 8 anos, porém, minha mente insiste em falar que eu deveria ter impedido, que é culpa minha. Meu pai começou a beber quando ele perdeu o emprego e não teve forças pra levantar, eu tinha 7 anos na época, então minhas memórias são fracas, mas dolorosas do mesmo jeito.

Depois que ele foi embora, minha mãe ficou um pouco...deprimida. Minha mente infantil não entendia o porquê daquilo, ele era um cara ruim! Por que ficar triste? Hoje eu entendo. Michael Campbell era o amor da vida da minha mãe, ele pode ter feito coisas muito ruins conosco, mas um dia ele foi o homem que encheu seu coração.

Olhei na direção de meu relógio, levantando da cama. 06:00 da manhã.

Passei a mão pelo rosto, indignada pelo sono, eu até quero dormir, mas não posso, estou com...medo. Medo de passar por isso de novo, ter que aguentar todas as sensações e ficar presa naquele inferno.

Tudo bem. Se eu não vou dormir, vou acabar qualquer resquício de sono que tenha neste corpo. Comecei a arrumar meu quarto, enchendo o cesto de roupa suja e arrumando a cama, para não ter chance de deitar nela novamente.

Eu não era uma pessoa desorganizada, claro, comparando com outros jovens da minha idade. Nunca gostei de bagunça, John B sabe de todas as vezes que coloquei ele a juntar roupa suja na casa dele.

Quando peguei uma calça jeans, um cartãozinho caiu em meu pé, joguei a calça no cesto e juntei o pedacinho de papel do chão. Era o cartão que Olivia Torres me deu no dia da entrevista de Pope.

Eu falo tanto que Pope merece sair desta ilha, e nunca penso no meu futuro, talvez eu também mereça sair daqui. Olivia disse que poderia me ajudar com os problemas da faculdade, e eu espero que ela tenha falado sério, porque eu acabei de mandar um e-mail para ela.

Ai, meu Deus! Eu mandei um e-mail para ela! Essa sensação é estranhamente boa.

Fui tirada do meu mini surto pelo barulho da minha mãe — pelo menos é o que eu espero, sou jovem demais para ser sequestrada — na cozinha. Preciso contar pra ela!

É estranho eu ficar animada para algo que nem estava cogitando dias atrás? Provavelmente. Não tenho a mínima ideia do que quero estudar, mas falar sobre a faculdade com alguém da área já é um começo, né?

Calma, Katherine, você nem fez uma inscrição de verdade. Isto é apenas uma opção a ser cogitada, talvez nem consiga uma bolsa...

Saí do quarto e caminhei em direção da cozinha com passos alegres, quase saltitando.

— Filha? — escutei a voz cansada de minha mãe, assim que entrei no cômodo. — Não está muito cedo pra levantar?

— Perdi o sono. — disse, me sentando em uma das cadeiras.

— Ainda com pesadelos? — ela colocou duas xícaras na mesa e serviu o café. Assenti, tomando um gol do líquido quente.

— Falei com uma avaliadora, ela falou que pode me ajudar com a faculdade. —falei rapidamente depois de um tempo em silêncio.

— Isso...isso é ótimo, querida. — minha mãe me lançou um sorriso. — Vai dar tudo certo.

— Sim, sim. — concordei, levantando da cadeira. — E como eu ainda não sou uma universitária, vou ir em uma festa hoje. — larguei a xícara na pia e corri para o corredor, fugindo de um suposto sermão.

Já era sexta-feira, graças aos deuses dos trabalhadores. Como eu havia dito, JJ convenceu todo mundo de ir na festa de Rafe. Sinceramente, eu estou só um pouquinho animada para a festa, é bom ter um motivo para aproveitar.

Decidi esta manhã que hoje vai ser minha última bebedeira! Os pesadelos me fizeram ter certeza de que eu não quero ser igual a ele, não quero mais beber. Não que eu não acredite no meu autocontrole, mas não é mais tão divertido, essas malditas lembranças tiraram a graça de encher a cara.

 


Postar uns capítulos a mais no fim de semana? hihi

𝙎𝙐𝙉𝙉𝙔 - 𝙍𝙖𝙛𝙚 𝘾𝙖𝙢𝙚𝙧𝙤𝙣 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora