Herdeira da Morte

01- Desperte para a morte

Tensa, Magie caminhava sem um pingo de pressa pelos corredores da escola. Mesmo com toda a boa iluminação natural que entrava pelas bem alinhadas vidraças ela não conseguia parar de pensar naquele percurso como algo sombrio.

Ela só havia passado cola para alguém, aquilo era mesmo motivo suficiente para ser chamada na diretoria? E, mesmo que fosse, por que só ela e não a outra pessoa? Pensar naquilo fez Magie se sentir quase injustiçada.

Era uma garota de personalidade curiosamente peculiar, mas isso não a tornava exatamente blindada contra qualquer coisa. Magie apenas tinha uma tendência negativa para as coisas. Ela dizia se considerar simplesmente realista, mas no fundo tinha consciência de seu pessimismo e falta de fé na sorte.

Era ela que estava andando devagar ou aquele corredor era realmente estupidamente longo? O som das botinhas pretas batendo contra o piso envernizado era quase inaudível. Ela fitava os pés quando ouviu outros passos.

Ele deveria ter acabado de sair da diretoria, pois estava pálido mesmo possuindo uma bela pele parda. Por um momento Magie se sentiu assustada de pensar sobre o que exatamente o diretor Salatiel havia falado com aquele rapaz, para deixá-lo com um semblante tão sério e quase assustado. Mas então seus olhares se cruzaram pela primeira vez.

Os olhos dele eram quase azuis, o que fez Magie demorar um pouco em reconhecer que aquilo era realmente verde. Já ele não teve dificuldade em identificar o tom das íris da menina: eram do verde mais lindo que já vira. Havia algo de misterioso neles.

Com um sorriso no canto dos lábios levemente rosados, Magie o cumprimentou silenciosamente. O garoto devolveu o sorriso, o que durou apenas uma fração de segundos. Então acabou.

Apenas o momento em que seus caminhos se encontraram brevemente, e aquela menina foi capaz de trazer uma estranha tranquilidade para Brian, mesmo num momento como aquele. E ele sentia certa estranheza quanto a isso, mas não importava. Não importava pois era apenas uma troca de olhares, uma única troca de olhares e eles jamais voltariam a se ver novamente. Apesar de que, em algum lugar, uma voz dizia que já haviam se encontrado antes. E que, quem sabe, ainda se encontrariam novamente.

Brian deixou o longo corredor da morte --- como os alunos da Mitridal carinhosamente o apelidaram --- um pouco menos aflito pelo que acabara de ouvir. Magie alcançou e adentrou a diretoria no exato momento em que ainda podia ver, pelo canto do olho, o estranho de olhos verdes sumir de vista.

--- Sente-se --- falou o diretor, sério.

Sua pele possuía um tom claro de marrom, e seus cabelos castanho claro eram penteados para cima de uma forma que tornava difícil acreditar que era mesmo diretor de uma respeitada escola e não um simples jovem adulto que ainda tentava passar no primeiro vestibular.

Ela ainda se sentia impressionada pelos olhos verdes, mesmo que agora os demais traços do rosto daquele desconhecido parecessem se esvair lentamente de sua memória. Logo restaria apenas uma vaga lembrança de íris verdes quase azuis.

Magie obedeceu a ordem, sentando-se na cadeira a frente da bela escrivaninha. Com detalhes de flores e anjos cuidadosamente talhados e envernizados em madeira pura, aquela escrivaninha era quase uma obra de arte.

A sala da diretoria era muito bela, com climatização e um cheiro de flor de laranjeira no ar. Havia também pesadas cortinas escarlate que tapavam a grande janela, deixando a iluminação por conta da bonita luminária de teto. Magie perguntou-se por um instante qual o sentido daquilo, e acabou concluindo que por algum motivo o diretor preferia assim.

Por um momento ela se viu distraída com um belo quadro, pendurado em uma das paredes. Nele havia uma criança que parecia reluzir como o sol, com um rosto triste e belas asas douradas. Magie estranhou pois, apesar de parecer inofensivo, os outros personagens retratados na pintura pareciam temer a criança anjo. A obra não possuía nada como uma assinatura ou qualquer coisa que indicasse sua data de criação e autor.