4 - Vou falar com você

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Doyoung se mudou para outro país e agora lidava com seu inglês mediano e sua natural timidez, morava em um pequeno apartamento, tão pequeno que ainda era menor do que dividiu com Taeyong por cinco anos.

O curso era bom, os professores gostavam dele e até fez amizade com alguns estudantes; na verdade com somente três, uma garota e dois garotos. Já era o suficiente, amigos eram preciosidades difíceis de encontrar.

Na primeira semana, a falta de Taeyong foi suportável, ele tinha que se adaptar a tantas coisas que aguentou a saudade que sentia, também ele estava com raiva do outro, estava muito magoado.

Já na segunda semana, teve que se controlar para não ligar ou escrever uma mensagem. Já não sentia raiva, a saudade era maior que a mágoa. Queria contar sobre o curso e até se gabar dizendo que os professores haviam o achado talentoso. Queria falar com Taeyong, queria ouvir a voz do outro nem que fosse só para ouvir o quão tedioso ele era. Se manteve firme e não entrou em contato, afinal, o próprio Taeyong falou que queria viver sem que ele o atrapalhasse.

De noite ele ainda chorava e após um mês já considerava que havia enlouquecido.

O motivo de acreditar em sua loucura era que todas as noites pegava o porta-retrato para conversar com o garoto sorridente que estava ao seu lado na imagem eternizado.

Ele conversava com o Taeyong da foto, contava o seu dia, contava suas conquistas e após o monólogo que teimava em repetir, beijava a foto, e então dormia abraçado ao porta-retrato.

Na Coreia, o grupo que havia formado com os amigos recebeu um interesse repentino de vários empresários e todas as noites que cantavam no bar de Chanyeol passaram a ter reservas concorridas. Conseguiram até uma reportagem em um dos grandes canais de TV e propostas para um contrato apareceram de várias agências.

Taeyong se lembrava de quando teve dúvidas entre fazer veterinária ou arte; entre cantar, compor ou cuidar de animais. Doyoung estava certo de que seguiria a carreira artística, mesmo assim, não iniciou a faculdade, esperou que Taeyong se descobrisse; esperou por quatro anos.

Faziam muitas coisas coisas juntos, desde a aulas de dança, passando por um grupo de leitura e por fim a faculdade. No tempo que se afastaram dos estudos, decidiram trabalhar. Arrumaram um serviço no mesmo mês; Doyoung em um escritório e Taeyong em um restaurante, ficaram tão felizes que decidiram alugar um apartamento juntos.

Estavam juntos desde sempre, até os amigos ao falar de um já mencionava o outro. Era sempre; 'Doyoung e Taeyong' ou 'Taeyong e Doyoung'.

"Vamos ensaiar, convide Taeyong-Doyoung"

"Daremos uma festa, chamem o Doyoung-Taeyong"

Para Taeyong, essas novas conquistas sem ter Doyoung por perto não pareciam tão extraordinárias, faltava ele.

Os amigos também comentavam a falta de Doyoung, comentavam que estariam melhor se tivesse um vocalista como ele.

Em uma mesma semana, Taeil mencionou sentir saudade das chatices de Doyoung, Heachan culpou o fato de ter perdido a prova pela falta de Doyoung; que provavelmente o lembraria da prova, e Yuta reclamou dos presentes de aniversário que não recebeu; se Doyoung estivesse ali, com certeza compraria um presente e um bom presente, advertiu o japonês.

O grupo vivia reclamando de Doyoung e falando como ele era um tremendo chato cheio de regras, mas na verdade, eles gostavam de o ver irritado e por isso provocavam; resumindo, Doyoung era muito amado pelos demais.

Se eles sofriam sem Doyoung, Taeyong sofria duas vezes mais; os amigos sabiam o motivo, só não comentavam.

Taeyong estava cada dia mais magro e apático, parecia triste e inseguro, e pela manhã seus olhos estavam sempre vermelhos como se houvesse chorado.

No segundo mês, Taeyong não aguentou. Era noite e uma tempestade castigava a cidade; raios, trovões e houve queda de energia.... Ele apenas digitou:

"Esta chovendo aqui e a energia caiu, tem muitos raios e estou com medo. Sinto sua falta"

Não pensou que o outro responderia, mas a resposta foi instantânea.

"Não precisa ter medo, Taeyong hyung. É só uma chuva"

Taeyong:

"Você não está aqui"

Doyoung:

"Sinto sua falta também"

Taeyong:

"Você é um idiota por ter ido embora"

Doyoung:

"Idiota é você. Idiota e medroso"

Eles continuaram a conversa por duas horas seguidas, até Doyoung dizer que tinha um compromisso.

Falaram tudo, contaram todas as novidades, só não mencionaram coisas pessoais. Taeyong não contou sobre o término do seu namoro e Doyoung não perguntou nada relacionado a Baekhyun.

Passaram a se falar todos os dias e a vida de ambos ficou novamante colorida.

Doyoung não precisava mais falar com o garoto do porta-retrato.

Às vezes eles se falavam por chamadas de vídeo;

Doyoung:

-Taeyong hyung, você está mais magro

Taeyong:

-Sem você para me lembrar dos horários, esqueço de comer

XxX

Doyoung:

-O peixinho do meu aquário morreu. Fiquei triste

Taeyong:

-O que houve de errado?

Doyoung:

-Não sei cuidar de um aquário sem você

E o tempo passou dia após dia e Dezembro chegou.

Taeyong:

-Você vem para o Natal?

Doyoung:

-Taeyong hyung quer que eu vá?

Taeyong:

-Tanto faz....

Doyoung:

-....

Taeyong:

-Doyoung, eu quero que venha, teremos uma apresentação na faculdade, seria legal se estivesse aqui

Doyoung:

-Que tal pedir?

Taeyong:

-Você é tão idiota

Por meses conversando e eles não tiveram coragem de falar sobre sentimentos.

O garoto do porta-retratoOnde histórias criam vida. Descubra agora