Palavras Finais pt3

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Wicca e Bruxaria: Palavras Sinônimas?
 
 
Quando a cristianização aconteceu na Europa, a palavra Bruxaria (do inglês Witchcraft), que era anteriormente aplicada somente às práticas religiosas Pagãs européias de culto à Deusa, foi largamente utilizada para descrever qualquer prática religiosa nativa de uma localidade existente antes do Cristianismo. 
Com isso, todas as vezes que os inquisidores cristãos se deparavam com novas práticas religiosas que não sabiam como denominar davam a ela o nome de Bruxaria. Muitas e muitas pessoas de outros subgrupos como judeus, ciganos, curandeiros, cientistas foram condenadas à fogueira pelo crime de Bruxaria. Isso trouxe uma confusão sobre quando a terminologia Bruxaria deve ou não ser utilizada que perdura até os tempos atuais.
O grande problema nos países de língua latina em relação ao correto entendimento dos dois termos é a semântica.
A palavra em inglês para Bruxaria é Witchcraft, que tem as mesmas raízes (Wicce, Wit, Wird, Wych e muitas outras) que a palavra Wicca. Logo, para americanos e europeus tais palavras estão intimamente relacionadas entre si, são consideradas sinônimas para representar a mesma coisa.
Quando esta terminologia é traduzida para o Português, muitas são as palavras aceitas para traduzi-la, o que faz com que alguns levantem hipóteses sobre determinadas e possíveis diferenças, de forma que a Wicca não pareça ser a mesma coisa que Witchcraft (Bruxaria, em português).
Atualmente há uma confusão de termos e muitos afirmam que Wicca e Bruxaria seriam coisas distintas. Quem nunca ouviu o famoso ditado: “Todos os Wiccanianos são Bruxos, mas nem todos Bruxos são Wiccanianos”?
Para compreendermos o porque desta confusão de uso de termos, precisamos pensar um pouco no cenário Pagão da década de 50 e sua evolução a longo da história de nossa religião. 
Lá, em meados da década de 50, falar sobre Bruxaria era considerado uma heresia e crime. Isso é compreensível em uma sociedade que era ainda influenciada por fortes preconceitos e conotações negativas atribuídas ao longo de processos de perseguições àquilo que se acreditava ser Bruxaria. Hoje, sabemos que na realidade muito disso era pura fantasia e invenção e que provavelmente a maioria das pessoas que morreram durante a Inquisição eram bons cristãos que incomodavam o pensamento da Igreja Católica (a religião dominante e a lei da época) por algum motivo e que por isso precisavam ser banidas da sociedade. Então elas eram nomeadas de hereges e consequentemente Bruxas e condenadas à execução. Isso foi criando uma verdadeira programação social e assim surgiu o uso comum da palavra Bruxa para denominar os praticantes de todos os tipos de práticas espirituais, religiosas ou mágicas diferentes e estranhas às convencionais e aceitas: as Cristãs.
Quando a última das leis contra a Bruxaria foi banida na Inglaterra em 1951 Gerald Gardner apareceu na cena afirmando que as Bruxas pré-medievais e medievais perseguidas, na realidade, eram praticantes da Antiga Religião da Europa. Segundo ele, esta religião teria sobrevivido clandestina através destas pessoas, que se encontravam nas florestas para celebrar seus Antigos Deuses Pagãos e que as muitas retratações e relatos atribuídos aos encontros de Bruxas, feitos na época da Inquisição ligando-as a um culto demoníaco era, na realidade, uma deturpação promovida por motivos religiosos e políticos para denegrir a imagem da Bruxaria, a verdadeira religião dos antigos europeus. Afirmou, ainda, que esta prática teria sobrevivido com um novo nome, cuja raiz chegaria até a palavra Bruxaria (em inglês Witchcraft) e que o nome moderno para esta antiga Religião era Wicca. 
Deixando as controvérsias sobre a veracidade das alegações de Gardner de lado, mas nos focando na história da evolução do uso comum das palavras Wicca e Bruxaria, pois é isto que nos interessa, no início, estas duas palavras eram vistas como sinônimas, usadas intercaladamente, representando um sistema mágicoreligioso promovido por Gardner e muitos dos Bruxos que se tornaram populares na época.
Janet Farrar, iniciada de Alex Sanders, disse em uma entrevista  concedida exclusivamente à 3ª Conferência de Wicca & Espiritualidade da  Deusa realizada em 2007, que o que o Alex Sanders fazia estava longe de ser o que hoje consideraríamos Wicca. Alex Sanders estudou Magia Cerimonial muito tempo antes de conhecer a Wicca e nela ser iniciado e encontramos várias incongruências em suas práticas. Quem já não viu suas famosas fotos dentro de um círculo de magia cerimonial com inscrições de  nomes como Adonai, El Shaday e muitos outros dizendo que estava  realizando um ritual Wiccaniano?! Pura contradição! 
Ela afirma ainda que ele, como muitos outros, no alvorecer da Wicca, estavam praticando um mix entre folclore Pagão europeu e Magia cerimonial cabalística fortemente influenciada por ordens como a Golden Dawn, que eram ainda muito influentes na época. Isso está distante dos caminhos da Wicca propostos por Gardner e aqueles caminhos que a Arte acabou por percorrer, se afastando cada vez mais de elementos judaico-cristãos para beber em fontes mais apropriadas ao espírito da Wicca: O Paganismo europeu autêntico, de bases puramente xamanísticas.
Janet Farrar, que foi uma das primeiras iniciadas de Alex Sanders, disse ainda as seguintes palavras sobre a discussão se Wicca e Bruxaria são a mesma coisa:  “Um santero, um sacerdote do Vodú ou um Xamã são Bruxos? Pela visão Cristã, sim. Qualquer Cristão chamaria um Santero, um praticante do Vodú ou um Xamã pelo termo Bruxo em função do uso comum da palavra. Mas eles não são Wiccanianos e um Wiccaniano seguramente não os chamaria de Bruxos. A palavra Bruxaria aparentemente é um termo especifico para o sistema de magia popular da Europa Antiga dentro da comunidade Neopagã atual"
 
No livro Progressive Witchcraft, escrito também por Janet Farrar e seu atual marido Gavin Bone, a autora diz:
 
"Nós, pessoalmente, não acreditamos atualmente que há qualquer diferença entre a palavra Bruxo e Wiccaniano. O significado das palavras, como demonstramos, vêm da mesma raiz. A diferenciação entre Bruxo e Wiccaniano se originou na década de 1960 quando Sanders se deparou com a rejeição por parte dos Gardnerianos e criou seu próprio caminho. Isso surgiu como resultado da não aceitação dos que não eram vistos como ‘corretamente’ iniciados ou tendo uma linhagem. As duas Tradições principais recusam a aceitar todos os de fora de sua Tradição como Wiccanianos e até mesmo como "Bruxos reais". Por muitos anos isso dividiu a Bruxaria em dois campos e tem confundido o significado da palavra Bruxo e Wiccaniano puramente por motivos políticos. Esta divisão tem sido perpetuada pelo ditado ‘Todos os Wiccanianos são Bruxos, mas nem todos os Bruxos são Wiccanianos’. Alguns de nós que estiveram no centro dos acontecimentos achamos isto descabido, pois lembramos que o ditado era ‘Todos os Bruxos são Pagãos, mas nem todos os Pagãos são Bruxos’. Nós, como muitos outros, vimos a natureza divisiva desta situação desde o seu princípio e sempre nos recusamos a aceitar esta divisão artificialmente criada".
 
Assim, vemos que esta confusão sobre o emprego do termo Wicca/Bruxaria não é recente. No entanto, a diferença é que na década de 50 a maioria das pessoas queria dizer que estava praticando Wicca/Bruxaria e isso trouxe uma superexposição à Wicca com práticas completamente esquisitas e esdrúxulas, que muitos começaram a criar uma separação artificial para os dois termos quando na realidade o que deveria ter sido combatido eram as práticas estranhas denominadas de Wicca/Bruxaria da época e que estavam distantes da verdadeira Arte.
Ao longo desse processo muitas formas diferentes de Wicca surgiram, o que fez com que muitos não considerassem esses caminhos como formas de Wicca, pois eram levemente diferenciados do caminho considerado por muitos o "original": o Gardneriano. O que precisa ficar claro é que Gardner jamais disse que somente o que ele fazia era Wicca e afirmou repetidamente em seus livros que existiam outras pessoas que praticavam em grupo ou solitariamente esta forma de religião e pontuou diversas vezes que as tradições de fé destas pessoas poderiam ser diferentes da sua, pois a Wicca/Bruxaria ao longo de sua história teria se tornado uma religião fragmentada, com cada pessoa ou grupo tendo acesso a uma parte ou partes dela. 
O que torna a compreensão do temo Wicca e Bruxaria ainda mais difícil é o fato de haver diferentes "escolas" e sistemas. Não existe uma Wicca/Bruxaria única. Existe, sim, um corpo de conhecimento composto de tradições que comparativamente são tão variadas e diferentes quanto seriam os climas dos diferentes estados ou regiões de um país que compartilham traços em comum para que sejam considerados pertencentes à mesma nação. 
Na Wicca/Bruxaria esses traços são simples de serem determinados: qualquer Tradição ou prática pessoal e solitária cuja cosmogonia reconheça a Deusa Mãe e o Deus Cornífero como princípios criadores da vida, observe tanto a Rede Wiccaniana quanto a Lei Tríplice, centre sua espiritualidade na Terra tendo como base os 4 elementos e possua um calendário litúrgico que se baseie na mudança dos ciclos sazonais e das fases lunares é Wicca/Bruxaria. Dentro disso, muitos elementos podem variar substancialmente, fazendo com que uma Tradição diferencie-se enormemente de outras.
O que precisa ficar claro aqui é a distinção entre uma Tradição ou prática pessoal específica dentro de uma religião maior e uma religião com os seus traços elementares e o que determina que indivíduos possam chamar-se ou considerar a si mesmos como membros e praticantes daquela religião. Assim, Wicca é a religião que engloba a Tradição Gardneriana, Alexandrina ou até mesmo uma prática pessoal e solitária específica e não o contrário. Poderíamos dizer, por exemplo, que o Gardnerianismo é subgrupo dessa religião, assim como o Dianismo, o Alexandrinismo ou o Georgianismo, e nenhuma dessas Tradições expressam a exclusiva identidade da Wicca, pois esta identidade é fragmentada. Os elementos que fazem uma religião incluem um conjunto de crenças relacionadas à forma e natureza da divindade, dias sagrados, símbolos, uma história compartilhada e um conjunto de diretrizes aceitas. Esse critério pode ser descrito como tribal, o laço que liga as pessoas e cria uma comunidade que compartilha valores em comum, tradições, rituais e costumes através dos tempos. Hoje, as muitas Tradições da Arte, apesar de suas diferenças em relação aos nomes das Divindades e variações em cosmologia, compartilham esses critérios. Qualquer Cristão que estiver viajando próximo a data da Páscoa pode esperar encontrar uma igreja em qualquer cidade, onde outros cristãos estarão celebrando a Páscoa. Da mesma forma, um Wiccaniano/Bruxo que esteja viajando para a Europa, Austrália, Espanha ou Brasil próximo à data de um solstício, equinócio ou dos Grandes Sabbats pode, em teoria, buscar por um Coven local e/ou por uma celebração pública onde ele poderá participar da cerimônia e se juntar a outros que acreditam no mesmo que ele. Dentro do ritual, ele poderá perceber que o tema e a estrutura da celebração do ritual será no geral, mas não especificamente, familiar, incluindo o lançamento de um Círculo Mágico, invocação aos quadrantes e Deuses, cânticos, elevação e canalização de energia e confraternização. Apesar das diferenças operacionais poderem ser diferentes das suas próprias, ou daquelas praticadas em seu grupo, Coven, Grove ou Círculo, a estrutura geral da cerimônia será a mesma. É precisamente e exatamente porque a Wicca/Bruxaria é uma religião que estes temas comuns podem ser reconhecidos e são familiares a qualquer praticante. Uma Tradição, por sua vez, é um corpo de conhecimentos e práticas que são passados para outros dentro da estrutura da religião. Mesmo que haja similaridade entre todas as demais Tradições, cada uma delas possui elementos de prática peculiares inerentes somente àquele caminho, com uma específica linhagem de iniciadores, instrumentos, práticas, cosmologia, conjunto de diretrizes e uma liturgia consistente que distingue aquela Tradição de todas as outras. 
Qual a real diferença entre Wicca e Bruxaria (Witchcraft)?
Basicamente nenhuma! Porém encontramos muitas pessoas que preferem dizer que praticam Witchcraft (Bruxaria) em vez de Wicca. Isso se dá pelo fato delas afirmarem que as práticas da Witchcraft compõem a Bruxaria Tradicional e são mais antigas que a Wicca. Outros, no entanto, preferem dizer que são Wiccanianos por que não querem ver seus nomes associados à Bruxaria, por causa das inúmeras conotações estigmatizadas e negativas a ela atribuídas através dos tempos. 
Quando alguns desejam fazer diferença entre Wicca e Bruxaria estão apontando, na realidade, as diferenças existentes entre Paganismo e Wicca/Bruxaria. 
Ao contrário de Wicca/Bruxaria, Paganismo sim é um termo amplo que inclui muitas tradições de fé baseadas na Terra ou Natureza. Assim, o termo Wicca, Bruxaria e Paganismo estão inter-relacionados. Isto demonstra que Wicca e Bruxaria são consideradas palavras sinônimas por muitos, mas que nem toda forma de Paganismo é Wicca.
Os traços que muitos apontam para classificar sua prática pessoal simplesmente de Bruxaria e não de Wicca, como por exemplo celebrar a natureza livremente sem uma estrutura forma ritualística ou não ter nenhuma relação devocional com a Deusa é o que eu chamaria de Paganismo. O Paganismo estaria muito mais de acordo com a visão de uma espiritualidade intuitiva de relação com a natureza e seus ciclos. Inclusive etimologicamente, se pegarmos a palavra Paganismo, veremos que ela vem de "paganus', aquele que mora nos "pagus", resumidamente significando "povo ou morador do campo". É compreensível que um morador do campo que viva em conexão com a natureza livre também pratique uma forma de espiritualidade mais solta, menos rígida, dogmática e sacerdotal, buscando na natureza a inspiração para seu modo de vida e espiritualidade sem que para isso haja uma relação devocional com a Deusa ou com Deuses específicos.
A palavra Bruxaria, por outro lado, tem uma etimologia diferente. Se pegarmos a mesma palavra em inglês, que é Witchcraft, veremos que sua etimologia se estende ao radical que forma a palavra Wicca (que vem de Wicce) onde encontramos outras palavras com radicais como wit, wise, wizard todas elas significando sábio ou sabedoria. Assim, a Bruxaria é a Arte dos Sábios, ou seja uma forma de espiritualidade com um conhecimento restrito e mantido por um grupo específico de pessoas ou casta: os "sábios".
Assim, a Wicca/Bruxaria é uma forma de Paganismo por manter os traços apontados acima (conexão com a natureza, buscar inspiração na forma de espiritualidade do povo do campo e etc), mas muitas formas de Paganismo não são Bruxaria. Aliás, existem muitas formas de Paganismo que assimilaram traços da religião cristã e é o que hoje se chama de Cristopaganismo. As rezadeiras e benzedeiras, que muitos insistem dizer que praticam Bruxaria, por compreenderem equivocadamente o significado desta palavra, estariam  na realidade praticando uma forma de Cristopaganismo e não Bruxaria em si. O que muitas pessoas hoje afirmam ser Bruxaria (Witchcraft) parece ter começado a tomar forma somente a partir da década de 70 ou 80, numa tentativa de separar determinadas formas de práticas  da Wicca massacrada e superexposta da época. O mesmo fenômeno está acontecendo atualmente entre os Wiccanianos Tradicionais que estão passando a usar o termo Wica, com apenas um C, para distinguir suas práticas daquelas expostas pelas muitas Tradições contemporâneas de Wicca.
Naquela época, o uso da palavra Bruxaria (Witchcraft) foi adotado por muitas Tradições e pessoas que não queriam ser confundidas como sendo Wiccanianas ou não queriam ser acusadas de praticar Wicca sem terem recebido uma Iniciação formal em uma tradição "válida".
Muitos em meados da década de 70 e 80 começaram a se dizer praticantes de Witchcraft, pois não se encaixavam nos padrões esperados a um Wiccaniano. Desta forma, começaram a praticar uma espiritualidade intuitiva, mesclando isso com muitas formas de espiritualidade e sistemas de magia nada europeus. Parece que o termo Bruxaria passa a ser empregado para denominar qualquer sistema individual ou de um grupo que seja muito mais flexível e eclético no conjunto de práticas, cujo único ponto de ligação entre ele e a Wicca seja a prática da magia, a observação dos fluxos da natureza e a reverência a ela.
Os Wiccanianos e os Bruxos Tradicionais Britânicos nunca aceitaram que o que estas pessoas praticam seja Bruxaria e até hoje há uma briga política para encontrar uma verdadeira classificação para as práticas individuais destas pessoas. Talvez esse seja o maior obstáculo a ser transposto em nossa religião na atualidade! 
Os Wiccanianos e Bruxos Tradicionais Britânicos estão certos quando afirmam que essas práticas pessoais não são Bruxaria, assim como os que praticam uma forma de espiritualidade intuitiva, sem qualquer ligação com a Wicca, estão certos quando dizem que o que eles fazem é Bruxaria. A Bruxaria que cada um deles se refere são dois sistemas diferentes entre si.
Poderíamos dizer que a Bruxaria que muitos praticam e dizem ser diferente de Wicca ganhou notoriedade depois da década de 70/80 e trata-se de um conjunto e práticas individuais cujo pilar central indiscutivelmente se baseia na Wicca, acrescidos alguns adornos pessoais para arrematar o sistema. É nisso que reside seu grande fascínio. Enquanto muitas Tradições de Wicca são fechadas, engessadas e inacessíveis, essa forma de prática é acessível, universal e abrange todos os sistemas. 
Talvez Feitiçaria (do inglês Sorcery) fosse um termo melhor para descrever estas práticas individuais e intuitivas. A palavra feiticeiro(a), do inglês warlock,  vem do anglo-saxão waerlog que significa "aquele que rompe o juramento". Muitos do que afirmam que praticam “Bruxaria” e não Wicca estão, na realidade, apontando que suas práticas não se vinculam mais ao conjunto ético e estrutural inerentes a Wicca (por onde muitos entraram no Paganismo). Logo, estão rompendo com ela e muitas vezes com os seus juramentos se um dia tiveram passado por uma Iniciação. Desta forma, etimologicamente, Feiticeiro(a) é um termo muito melhor apropriado para nomear tais pessoas do que Bruxo(a), que indica um Sacerdócio e vínculo à uma estrutura religiosa específica. Isso torna o que cada um faz melhor ou pior? Não!!! São apenas formas diferentes de Paganismo.
Há um movimento em curso que deseja nomear de Bruxaria toda e qualquer coisa ligada à magia e isso é uma incoerência terminológica e histórica sem tamanho. O que os haitianos praticam não pode ser considerado Bruxaria, por exemplo. A religião deles tem um nome e é Vodu. Uma benzedeira pratica um misto de Cristianismo e magia popular folclórica e ela não é Bruxa por isso. O mesmo exemplo pode ser aplicado às muitas outras formas de espiritualidade Pagãs que não são Wicca/Bruxaria. O que uma Stregga pratica, é Stregheria; o que um reconstrucionista egípcio pratica é Kemetismo; o que um reconstrucionista grego pratica é Helenismo; o que um Druida pratica é Druidismo. Tudo o que foi citado acima é Bruxaria? Um Cristão diria que sim, em função do uso comum da palavra, mas na essência sabemos que cada um desses caminhos pratica coisas completamente distintas. Estamos unidos porque somos todos Pagãos, mas o que praticamos é completamente diferente a ponto de não ser a mesma religião e seguramente nenhum dos caminhos supracitados é Bruxaria.
Creio que o primeiro passo para que as brigas ideológicas internas deixem de acontecer dentro do Paganismo é começarmos a usar termos corretos para distinguir nossas práticas.
A Wicca é ainda muito jovem se comparada às outras formas de religião e ainda precisa de muito para crescer.  Estamos apenas aprendendo como nos chamamos e o que verdadeiramente praticamos.
Pagar ou Não Pagar, Eis a Questão!
 
Muito tem se discutido sobre o pagamento de honorários por Treinamentos mágicos e cursos de Wicca.
Alguns praticantes de Wicca são contra tal pagamento, outros são a favor.
Os que são a favor do pagamento de honorários pelo ensino da Arte dizem que é chegado o momento de nos libertarmos do pensamento provinciano, feudalista e cristão de que o dinheiro é mal e sujo. Muitos Bruxos acreditam erroneamente de que como nossas Tradições provêm de áreas rurais pobres, os Bruxos devem continuar vivendo um estilo de vida que reflita a pobreza de nossos ancestrais. Outros ainda acreditam que dinheiro e espiritualidade não devem se misturar. Há até as religiões que valorizam a pobreza como ideal a ser alcançado. Este absolutamente não é o caso da Bruxaria, que vê o dinheiro como uma energia sempre em movimento, necessário para que sejamos saudáveis, plenos e felizes e até mesmo para que possamos equilibrar as necessidades espirituais e materiais.
Os que são contra o pagamento de tais honorários, dizem que o fazem desta maneira porque no Livro das Sombras está escrito que não se deve cobrar pelo ensino da Arte.
Mas será que isto realmente está escrito no Livro das Sombras Gardneriano e Alexandrino? Ou as pessoas que fazem tais afirmações estão realizando interpretações arbitrárias das famosas 140 Leis da Bruxaria? Ou ainda, será que estas pessoas realmente já leram essas passagens do Livro das Sombras?
Para que não haja mais dúvidas, transcrevo abaixo as leis do Livro das Sombras que se relacionam exatamente ao pagamento e uso do dinheiro na Arte, para que possamos fazer uma interpretação acurada destas passagens: 
 
XC: E se algum dos irmãos de Círculo realizar, de fato, alguma tarefa, é justo que se lhe dê seu galardão; Porque não se trata, aqui, de receber paga por obra da Arte, mas sim recompensa pelo trabalho honrado.
 
XCI: Isto a Lei permite, com retidão, E mesmo os que se dizem Cristãos falam assim: "O trabalhador é digno de seu salário", e tais palavras estão em suas Escrituras. Entretanto, se algum dos irmãos quiser trabalhar, pelo bem da Arte, e por amor que lhe tem, sem receber qualquer recompensa ou galardão, isto será a maior honra. A Lei o permite, pois assim foi ordenado e que assim seja. 
 
Mais adiante encontramos mais estas passagens das Leis da Bruxaria:
 
 
CIXX: Que todos os membros dos nossos círculos se mantenham no respeito da Lei, venerável e antiga.
 
CXX: E que nenhum dos nossos aceite, nunca, pagamento por serviços da Arte, pois o dinheiro é como nódoa que mancha aquele que o toma. Em verdade, sabemos que somente os maléficos- que praticam a Arte Negra e conjuram os mortos e os sacerdotes da igreja- aceitam dinheiro pelas suas artes e nada fazem sem que haja bom pagamento. E vendem, ainda, o perdão das almas, para que os maus se furtem à punição dos pecados.
 
CXXI: Que nossos irmãos não sejam como tais. Se um dos adeptos aceitar dinheiro, ficará passível de tentações, usando da Arte para a causa do mal. Mas, se não o fizer, assim não será, certamente.
 
CXXII: Todos, contudo, podem utilizar a Arte em seu proveito e bem próprio, ou para a glória e bem da Arte, desde que haja certeza plena de que ninguém, com isto, será prejudicado. 
 
Vamos analisar então as Leis... 
Da lei 90 até a lei 91 vemos a afirmação de que se algum irmão da Arte realizar alguma tarefa é justo que ele seja pago por isso. É dito também que isso não deve ser visto como um pagamento pela Arte, mas recompensa do trabalho honrado.
Fica claro que estas leis se referem ao tempo disponibilizado para muitas coisas dentro de um grupo, inclusive ensinar. O ato de ensinar outros, por exemplo, demanda esforço, dedicação, compartilhamento da sabedoria adquirida e gasto de energias pessoais e cada pessoa é livre para decidir como deseja que o uso dessa energia seja recompensado.
Das leis 119 até a 121 é estabelecido que não se deve receber pagamento por serviços da Arte, incluindo na sequência referências àqueles que realizam feitiços e encantamentos para terceiros em troca de pagamento.
Fica claro aqui que estas leis se referem à venda de feitiços, ao uso da magia nas artes da cura, banimento e etc. Estas artes sempre devem ser realizadas sem nenhum pagamento em troca, pois estamos utilizando uma energia que não nos pertence para realizá-las, a energia da natureza e dos Deuses. Somos apenas um canal da energia natural ou divina para que uma cura se promova, por exemplo. Fora do Brasil, onde a Wicca já é praticada há muitos anos, esse tipo de assunto não é mais visto com maus olhos pela maioria. Sacerdotes das diferenciadas linhas da Wicca, Bruxaria e Paganismo vêm recebendo há muito tempo honorários para ensinar e treinar outros na Arte. São incontáveis os sites de Sacerdotes renomados das Tradições Feri, Gardneriana, Alexandrina, Diânica e muitas outras que deixam bem claro que se uma pessoa deseja treinar com eles deverá colaborar com honorários. Poderia fazer uma relação imensa de sites destes sacerdotes, alguns muito renomados e aclamados, que chegam a cobrar US$800,00 (oitocentos dólares) mensais para treinar pessoas em suas Tradições. Mas por motivos éticos, não os citarei e deixarei para que você mesmo faça essa pesquisa e constate a veracidade de minhas afirmações.
Se podemos pagar e aprender através de livros, porque não podemos pagar pelos cursos, sejam eles à distância ou presenciais, e por Treinamentos?! Será que chegará o tempo em que vamos pedir para que todas as editoras e autores que escrevem sobre Wicca também publiquem os seus livros e os distribuam nas livrarias gratuitamente aos leitores?!
Cursos on-line ou presenciais, assim como os livros, não têm a característica de interação iniciador/iniciado, mestre/discípulo. São apenas veículos de transmissão de informação e experiências pessoais que podem auxiliar a outros em seu processo de instrução. É algo completamente diferente de entrar para uma Tradição e ter uma relação mágica com o seu Dedicador/Iniciador. Ninguém se inicia através de cursos, aconteçam eles pela Internet ou não. Se alguém oferecer esse tipo de coisa, saia correndo pois é picaretagem das grandes. É inegável que cursos, quando ministrados com responsabilidade e por pessoas competentes e fidedignas, auxiliam e muito àqueles que estão iniciando na Arte agora a filtrar o tanto de bobagem que existe disponível por ai. Treinamentos em um Coven ou Tradição exigem que a pessoa disponibilize horas livres para ensinar. Neste caso a instrução se dá presencialmente e alguns grupos realizam Dedicações e Iniciações ao término do Treinamento. Como tempo e energia são disponibilizados é justo que se pague.
É necessário que se entenda que ao contribuir com honorários para fazer um curso ou Treinamento as pessoas não estão pagando para serem iniciadas. Simplesmente estão dando uma retribuição justa pelo tempo e energia que serão dispensados a elas por outros. Esse tipo de contribuição não é pagamento por Iniciações. Iniciações são impagáveis, seu preço é incalculável. Não existe dinheiro no mundo capaz de pagar uma Iniciação. Honorários pelo tempo dedicado aos Treinamentos ou cursos é, sim, uma troca justa pelas horas utilizadas elaborando materiais de referências, digitando textos ou imprimindo módulos de apostilas para serem disponibilizados. Este tempo dispensado seria remunerado à pessoa em questão caso fosse destinado à qualquer atividade profissional tida como "oficial". Assim sendo, nada mais justo do que remunerar àqueles que disponibilizam seu tempo e energia para a instrução de outros, seja qual for a área em questão.
Qualquer pessoa que se der alguns minutos para estudar a biografia de ocultistas e magos de renome perceberá que é largamente sabido que eles cobravam por suas consultas e ensinamentos. John Dee era sustentado pela Rainha Elizabeth e juntou muito dinheiro com suas consultas e previsões à realeza inglesa. Crowley cobrava altas somas de dinheiro para instruir seus discípulos e cobrou uma pequena fortuna para nomear Gerald Gardner membro da OTO e há quem diga que cobrou mais ainda para ajudá-lo a redigir o Livro das Sombras; Papus cobrava por suas sessões de hipnose e por ai vai... 
Desde tempos imemoráveis, sacerdotes são suportados pelas comunidades às quais servem. Da curandeira de um vilarejo que recebe galinhas em retribuição às suas curas aos magos da realeza medieval, pagamento por serviços "espirituais" prestados sempre existiu e sempre existirá!
É nas formas do totemismo e animismo que vemos as raízes daquilo que podemos chamar de xamanismo e um de seus desenvolvimentos se tornou naquilo que atualmente chamamos de Bruxaria. Conforme a humanidade se desenvolveu e se estabeleceu em um modo de vida baseado na agricultura, o trabalho mágico da tribo evoluiu. Em uma vila, famílias específicas eram responsáveis por atividades hereditárias como a arte da forja, trabalho com metais, confecção de tochas, carpinagem, etc. Esta é a origem dos sobrenomes como Ferreira, por exemplo. Os que trabalhavam com magia se tornaram os Sacerdotes e Sacerdotisas da Vila. Suas funções incluíam traçar os ciclos das estações e realizar os rituais sazonais. Isto envolvia fazer oferendas aos Deuses locais e espíritos para boas colheitas e caçadas. Estes rituais eram importantes em uma sociedade baseada na agricultura e para performá-los os sacerdotes precisavam compreender os ciclos da natureza das estações e precisavam ser os guardiões dos mistérios do nascimento, morte e renascimento. Eles cuidavam dos doentes com o conhecimento popular sobre as ervas que eles tinha acumulado de geração em geração. Eles eram os responsáveis pelo banimento dos espíritos malignos, que causavam a morte. Por estes serviços prestados, os Sacerdotes recebiam "pagamentos" como galinhas, frutas, grãos, sal para que eles pudessem se manter e continuar servido espiritualmente a tribo e assegurar seu bem-estar. Não podemos esquecer que a origem da palavra Bruxaria em inglês (Witchcraft) envolve a palavra Craft que quer dizer literalmente arte, ofício, trabalho.
Durante muito tempo permaneci na dúvida se deveria cobrar ou não por Treinamentos dados por mim. Durante mais de 10 anos de militância pública e ensino da Arte, percebi que as pessoas na maioria das vezes não valorizam aquilo que não tem um valor. Quantas e quantas vezes pessoas vieram até o meu grupo, foram dedicadas, iniciadas, absorveram o conhecimento que levei muito tempo para adquirir e aperfeiçoar através da leitura de diversas obras em inglês caríssimas e foram embora sem se quer agradecer pela minha presteza em compartilhar o que sabia com elas. Sem contar os livros e livros que perdi, emprestando para um ou outro, porque tais pessoas alegavam que não tinham como comprá-los. No entanto, estas mesmas pessoas não deixavam de comprar o tênis da moda, a roupa de marca ou o último modelo do celular. Isso me fez parar para pensar. Se as pessoas podiam despender o seu dinheiro para comprar coisas tão fúteis, porque não podiam fazer o mesmo quando assunto se tratava do seu aprendizado mágico, que ficava sempre em segundo plano?
Foi quando então recorri à outros Bruxos mais experientes para obter uma segunda opinião sobre o tema. Todos eles foram unânimes em dizer que já tinham passado por problemas semelhantes e que chegaram a conclusão de que aquilo que é ensinado sem valor é desvalorizado. Aliás, quem chamou a minha atenção para a interpretação equivocada das leis do Livro das Sombras foram dois Sacerdotes Gardnerianos.
Paulatinamente fui revendo os meus conceitos e mudando minha visão sobre o recebimento de honorários por Treinamentos. Até que passei a efetivamente cobrá-los. É necessário salientar que esses honorários não representam o pagamento por Iniciações, mas sim uma retribuição pelo tempo que disponibilizo para treinar outras pessoas, para que elas tenham condições intelectuais para um dia receber uma Iniciação. Obviamente existem casos e casos e se uma pessoa sem condições chega até em mim e eu percebo sua real vontade de estudar, aprender e celebrar os Antigos de todo coração, não negarei isto a ela. 
"Pagar" por algo tem uma função que vai além do sentido material em si: Tudo o que é fornecido sem um  valor deixa de ser valorizado.
Qualquer pessoa para aprender algo precisa pagar de alguma forma, mesmo que isso se dê a nível simbólico. 
Você pode até argumentar: “Este pensamento está errado, pois existem muitos livros em PDF na Web que podem ser baixados sem serem pagos”. 
Poderíamos dizer que, inicialmente, para fazer isso, você já está pagando para acessar à Internet. Mesmo que faça o download do local onde trabalha, você ainda estará pagando, pois precisa  “mostrar serviço”, caso contrário, seu chefe irá demiti-lo. Mesmo que seu acesso a Internet seja gratuito, você paga pela luz que utiliza para acessá-la; se não paga pela luz, provavelmente pagou para obter o computador; se não pagou pelo computador, mesmo assim, pagará para ler o PDF pois os processos biológicos de seu organismo são feitos a base de troca, que não deixam de ser uma forma de pagamento. Enfim, de qualquer maneira, você paga para fazer as coisas...
Podemos perceber então que os problemas morais que envolvem o conceito de "pagamento" por algo se aplica somente ao ato de pagar o indivíduo por aquilo que ele está realizando. Isto é o que se chama de desvalorização. O pensamento lógico nos leva à seguinte conclusão: qualquer pessoa que seja desvalorizada não tem a mínima obrigação de compartilhar aquilo que possui com os demais. 
Todas as vezes que assuntos como pagamentos por ensinamentos na Arte são levantados e as pessoas se inflamam em indignação, me sinto no meio de um bando de Cristãos que valorizam a pobreza e acham o dinheiro sujo e pecaminoso, em vez de naturalmente desejarem valorizar aqueles que disponibilizam seu tempo e energia para a instrução de outros.
Existe uma reflexão muito interessante de Gurdjieff, que foi complementada por seu discípulo Ouspensky no livro "Psicologia da Evolução Possível ao Homem":
 
"O pagamento é um princípio. O pagamento é necessário, não para a escola, mas, para as próprias pessoas, pois sem pagar não obterão nada. A idéia do pagamento é muito importante e deve ser compreendido que é absolutamente necessário pagar. Podemos pagar de uma forma ou de outra, mas todos tem que descobrir isso por si mesmos. Ninguém pode possuir nada sem pagar por isso. As coisas não podem ser dadas, só podem ser compradas. Isto não é uma coisa simples, é magia. Se temos conhecimento, podemos dá-lo a outra pessoa, mas a outra pessoa só poderá tê-lo se pagar por ele. Isto é uma lei cósmica."
 
Nem é necessário mencionar o quanto é justo a contribuição por parte dos membros de um grupo para cobrir gastos relativos ao pagamento do aluguel de uma sala, contas de água, luz, telefone, compra de velas, incensos, óleos, ervas e material impresso de estudos que um Círculo de estudos, Coven ou Grove ativo possui. Rateie isso igualmente e mensalmente para cada um, em um grupo de 13 pessoas, e chegaremos a uma soma mensal razoável. Existem grupos onde as pessoas estão felizes e satisfeitas em fazer as reuniões um dia na casa de um membro e outro dia na casa de outro. Mas existem aqueles grupos onde as pessoas sentem que precisam de um espaço exclusivamente reservado para suas práticas e ai é impossível não haver contribuição alguma. O grande problema com o qual nos defrontamos no tipo de debate que estamos tendo é que as pessoas julgam as outras baseadas em suas próprias experiências e decisões. Não é porque um grupo decidiu que se reunirão alternadamente na casa dos membros do Círculo e/ou uma pessoa decidiu disponibilizar o seu tempo, o seu espaço e o seu conhecimento sem requerer nenhum honorário por isso que outros sentirão igual e serão obrigados a agir da mesma forma. A experiência de um nem sempre funciona para outros.
Se a palavra pagar o ofende, utilize o conceito mais antigo: o de trocar uma coisa por outra. Afinal, nenhuma pessoa tem o dever de disponibilizar horas e horas para redigir material de estudos e ainda por cima imprimir, pagar a postagem, enviá-lo pelo correio de graça sem uma ajuda justa por todo este trabalho. Isso seria dar, que em outras palavras é o mesmo que esmolar e a esmola faz parte de outra religião, não da Wicca!
Ninguém é obrigado a disponibilizar seu tempo, disposição, energia, conhecimento e dispensar horas e horas para redigir material de estudos, gratuitamente. Existem aqueles que não sentem a necessidade de cobrar por isso, como um professor ou médico que faz serviços voluntários em suas horas vagas, e outros que acreditam veementemente que os anos gastos em sua instrução e aperfeiçoamento devem ser retribuídos. Cada pessoa é livre para decidir como essa retribuição se dará.
Leis da Bruxaria
 
 
As leis da Bruxaria foram criadas por Gardner e circulam pela Internet com o título equivocado de Leis Celtas ou Leis da Tradição Celta.
Muitos as utilizam para reger seus Covens alegando que datam de um tempo antiqüíssimo e que eram usadas pelas Bruxas na época da Inquisição para manter a segurança de suas comunidades.
Apesar da história ser muito bonita, nos transportando a um passado lúdico que mexe com a fantasia de todos nós, ela está longe de ser verdadeira. Estas Leis da Bruxaria foram criadas por Gardner e não são tão antigas quanto ele afirmava e fez elas parecerem e/ou quanto alguns ainda acreditam que elas são. Na realidade, elas foram criadas para justificar a saída de Doreen Valiente do Coven de Gardner num momento de conflito interno. Gardner queria que Doreen cedesse seu lugar para uma Sacerdotisa mais nova e para justificar essa decisão, criou as famosas Leis da Bruxaria. Assim, tais Leis só estão presentes nos Livros das Sombras Gardnerianos que foram redigidos após a saída de Doreen do grupo.  Frederic Lamond, iniciado no Coven do próprio Gardner em 1957, faz relatos e revelações interessantes e surpreendentes sobre o surgimento das Leis da Bruxaria no seu mais novo livro chamado Fifty Years of Wicca.  Eu transcrevo partes do texto do livro onde ele faz essas revelações abaixo:
 
“CAPÍTULO 2 - Página 10 a 13
 
UM SENSUALISTA SEM VERGONHA 
Se uma entrevista com o Western Mail em Março de 1957 foi a ocasião para a quebra entre Gerald e os antigos membros do Coven liderados por Doreen Valiente, isso não é X da questão. Gerald era um sensualista sem vergonha e poderíamos dizer até mesmo inocente.
Um asmático por toda a vida, ele encontrou nas amarrações e açoitamento o único método através do qual conseguia alcançar estados alterados de consciência, e ele era absolutamente obcecado por isto. Ele introduziu isto não somente nas cerimônias de iniciação e elevação de 2° grau- que pode até mesmo tê-lo antecedido- mas em um rito de purificação no início de cada ritual, e no método de elevação de poder quando se trabalhava magia. Quando ele mesmo estava sendo açoitado, permanecia dizendo "Mais forte! Mais forte!" isto era saudado com uma expressão de considerável desconforto na face dos membros mais antigos. E ele introduziu referências a isso no início da Carga da Deusa e na consagração da água e do sal.
Na época em que eu tinha sido iniciado em Fevereiro de 1957, o Coven estava se encontrando na reconstruída Cabana das Bruxas nos 5 acres de terra do Clube Nudista que pertencia a Gardner. Uma vez que os encontros poderiam durar até razoavelmente tarde, membros sem carro ou que moravam muito longe dormiam em um abrigo nas proximidades da Cabana das Bruxas. Gerald gostava de se "envolver" com quem quer que fosse sua Alta Sacerdotisa: Ele era muito velho para se engajar em sexo penetrativo, mas apreciava carícias afetivas. 
Doreen Valiente achava isso desagradável. Temperamentalmente monogâmica, ela também era casada com um marido espanhol muito ciumento que não pertencia a Arte. Ela obviamente não informava a ele os detalhes do que se passava nos encontros do Coven- seu juramento de segredo impedia isso de qualquer forma- mas ela obviamente sabia que qualquer conhecimento sobre os envolvimentos com Gerald colocaria seu casamento em risco. Assim, ela freqüentemente se mantinha afastada dos encontros do Coven: ela não esteve presente em minha iniciação e foi a Donzela Dayonis que me iniciou.
Dayonis não tinha tal inibição. Ela possuía um relacionamento deveras aberto com Jack Bracelin e era afetuosa e calorosa em temperamento. Se envolver com ela era muito mais agradável para Gerald do que se envolver com a reservada Doreen, e ele ficou muito interessado por ela. No início de 1957 ele escreveu uma carta para Doreen onde dizia que "de acordo com as Leis da Arte" chega um tempo em que uma Sacerdotisa deve ceder seu lugar a uma mais jovem . Isto era um abuso de uma Tradição onde se dizia que o ritual de fertilidade de Beltane- e somente nele- deveria ser realizado por casais férteis e isso era improvável pois Doreen teve sua menopausa somente em 1957. Esta carta provavelmente se relacionava com a ausência de Doreen em minha Iniciação. Donna, esposa de Gerald, uma enfermeira aposentada, não pertencia a Arte mas era muito tolerante com suas atividades. De acordo com Cecil Williamson (uma fonte que não é das mais confiáveis) ela disse em uma ocasião : "Eu não me importo quantas mulheres jovens Gerald arrume para o chicotear, desde que eu não tenha que estar envolvida nisso!"
 
UMA IMAGINÇÃO DESENFREADA 
A invocação de Gardner das "Antigas Leis da Arte" em sua carta para Doreen, sugerindo que ela declinasse de sua posição de Alta Sacerdotisa é somente um dos muitos exemplos de uma atitude criativa desviada para a verdade efetiva. Depois desta quebra o coven de Doreen solicitou para continuar a se encontrar na Cabana das Bruxas no Clube Nudista até que eles pudessem encontrar sua própria base. Gerald poderia ter respondido "O Clube Nudista e a Cabana são minha propriedade. Se vocês não estão dispostos mais a se reunir comigo não podem se reunir em minha propriedade!" Ao invés disso ele respondeu "Há uma antiga lei que data da Época das Fogueiras" (a favorita expressão dele) "que afirma que por razões de segurança nenhum coven de bruxos pode se reunir a menos de 25 milhas de distâncias do local de encontro de um outro coven". A nova Alta Sacerdotisa Dayonis tinha uma face élfica e parecia ter saído de uma tela de Arthur Rackham. Gerald disse aos repórteres que ela vinha de uma família de Bruxas hereditárias, quando na verdade sua família era de Judeus armênios residentes em Cardiff. Tendo conhecido através dela um pouco mais das porquices de Gerald eu me preocupei, a meras oito semanas de minha iniciação, se o velho fraudulento teria inventado toda a Bruxaria. [...]
Recentemente me ocorreu que estas mentiras factuais podem, no entanto, conter verdades míticas. Quase certamente não há uma linha ininterrupta de iniciações das Bruxas Medievais- vamos deixar a Idade das Pedras em paz- indo até o nosso Coven, mas há uma ligação entre elas e nós ao menos no nível do inconsciente coletivo. E mulheres como Dayonis, que expressam a parte jovem magnética da Bruxa tão bem, podem ter cedido seu carisma para encarnações prévias de Sacerdotisas e Xamãs. [...]
Gerald Gardner foi um homem do seu tempo, e todos os movimentos esotéricos do final do século 19 e início do 20 eram ainda influenciados pela crença Cristã de que toda verdade é herdada do passado. A Francomaçonaria, na qual Gerald foi iniciado em 1909, clamava traçar seu conhecimento arcano a Hiram, o arquiteto do Templo de Salomão, quando a Francomaçonaria especulativa surgiu no século 16 na Escócia. René Guénon, o esotérico francês, intitulou a si mesmo como um "Sacerdote da Ordem de Melquisedek". E os fundadores da Ordem da Golden Dawn clamavam ter recebido uma carta de um Iniciado Rosacruz alemão- Fräulen Sprengel. Não é de se admirar que Gerald ou o Coven de New Forest tenham sentido que deveriam retratar o movimento do renascimento da Bruxaria através de uma longa linhagem iniciática”
 
O que concluímos com tudo isso?
Primeiro que as Leis da Bruxaria foram inventadas e não servem como parâmetro para guiar qualquer Coven. Segundo que os próprios Gardnerianos estão olhando para a sua história e desfazendo os erros e equívocos do passado. Isso é uma atitude admirável e corajosa!
Talvez não só as Leis da Bruxaria, mas também o Livro das Sombras e provavelmente a própria Wicca tenham saído da cabeça criativa e inventiva de Gardner. Ao longo de todos esses anos não se encontrou comprovações sérias da ligação de Gerald com qualquer Coven cujas origens possam ser rastreadas até a Época das Fogueiras, muito menos foi possível contato real com qualquer pessoa que pertencesse originalmente ao grupo que ele afirmava tê-lo iniciado. Todas as possíveis provas foram forjadas ou partiram de pessoas suspeitas devido às fortes ligações e relação de amizade com Gardner.
Levando em conta que o modelo escolar de alfabetização nasceu há pouco mais de dois séculos, precisamente em 1789, nenhum escrito datando da época da Inquisição poderia ter sido encontrado. As pessoas simplesmente não sabiam ler, nem escrever. Logo, um Livro das Sombras ou qualquer outro tipo de texto com os conhecimentos relacionados à Bruxaria Medieval seria obra de pura Magia já que virtualmente 99% da população era analfabeta. 
A classe alfabetizada era a da Monarquia e dos clérigos Cristãos, que estavam mais interessados em evangelizar e/ou praticar os sofisticados sistemas de Magia Cabalísticos e Judaico-cristãos, que eram nada campesinos ou Pagãos. Muitos Grimórios de Magia são, inclusive, anteriores ao século XVIII. Talvez seja por isso que, para aparentar uma pseudo-antiguidade, Gardner tenha usado fragmentos inteiros das Clavículas de Salomão para rascunhar as primeiras versões do que se tornaria o Livro das Sombras Gardneriano.
É certo que Gardner se tornou membro de um dos ramos da OTO de Crowley, mesmo que sua filiação a ordem fosse somente nominal. Gardner foi apresentado a Crowley por Arnold Crowther em 1946. A própria Doreen Valiente afirmou em dezenas de seus livros que a influência de Crowley no material de Gardner era bastante aparente nos rituais  e que Gardner dava a desculpa de que os rituais que ele teria recebido de seu antigo Coven eram fragmentados e que ele teve que completá-los com material adicional. Foi a própria Doreen que adicionou sua poesia à liturgia Gardneriana e se hoje percebemos poucos traços da influência de Crowley na Wicca, devemos isso a ela.
Para dar um exemplo das frases de Crowley que são bastante familiares aos wiccanianos modernos poderíamos citar:
 
“Eu dou inimagináveis bênçãos à Terra, certeza, não fé, vida sobre a morte; paz, descanso , êxtase, e não demando nada em sacrifício”
 
“Eu sou vida, e a doadora da vida, mesmo o conhecimento de mim seja o conhecimento da morte”
 
Desta forma, fica claro que a a Missa Gnóstica de Crowley influenciou profundamente diversos escritos de Gardner.
 
Muitos alegam uma conhecida história no meio Wiccaniano de que Crowley teria pertencido a um dos Covens liderados por George Pickingill para justificar a semelhança entre os textos. No entanto, esta alegação parece também ter sido forjada, assim como a própria existência do Old George é colocada em cheque diversas vezes.  A foto que figura em livros e na Internet como sendo de Old George foi forjada. A foto trata-se, na realidade, de um trabalhador de uma das estações inglesas de trem que tempos depois foi encontrado e inquirido sobre sua relação com a Bruxaria. O ferroviário, um bom cristão, deu boas gargalhadas e disse que se lembrava do episódio, quando alguém solicitou para tirar uma foto dele e foi embora sem dar maiores explicações.
Mesmo as pretensões feitas por figuras como Liddell de que haveria uma foto dele, Crowley e Bennet juntos com Pickingill foram por terra, quando a foto convenientemente desapareceu, além do que ninguém admite tê-la visto uma só vez sequer.
Há ainda os que afirmam que Crowley teria colaborado com o material para a construção da liturgia Wiccaniana. Para esta teoria existem duas possibilidades: ou Gardner pagou para que Crowley fizesse isso (todos sabemos o quanto ele era interesseiro e estava carente de dinheiro no final de sua vida) ou Gardner plagiou despreocupadamente grande parte do material escrito por Crowley. Ronald Hutton provou em seu livro The Triumph of the Moon, com comprovações documentais, que Gardner teria comprado uma dúzia de livros de Crowley em sua visita feita a ele. Mostra também uma discrepância sobre a ocasião da visita registrada nos diários de ambos: No diário de Crowley, há uma breve citação da visita de uma pessoa que ele nem lembrava o nome e que teria comprado uma dúzia de seus livros e um rápido agradecimento por ele ter conseguido dinheiro para comer naquele dia por esse motivo. No diário de Gardner há páginas e páginas de como Crowley teria ficado extasiado em ter encontrado um outro praticante da sobrevivente Bruxaria, quando ele achava que o culto havia morrido. Parece que Gardner estava muito mais interessado em Crowley do que Crowley nele.
É chegada a hora de darmos um basta nas histórias das avós iniciadoras, linhagens iniciáticas ininterruptas antiqüíssimas, Livros das Sombras Medievais e todo esse “blá blá blá” hereditário. Nada disso é real e quem afirma tal coisa está enganando, sendo enganado ou agindo de má fé.
A Wicca e a Bruxaria Moderna, como um todo, são fenômenos modernos. Nada sobreviveu ao Cristianismo! 
Pensemos juntos, se religiões muito mais poderosas como a egípcia, grega ou romana não sobreviveram ao genocídio espiritual e cultural do patriarcado e do Catolicismo, porque a Bruxaria (uma religião bem mais tímida e minoritária) sobreviveria?
Isso é comprovadamente improvável do ponto de vista histórico! Fazendo um trocadilho, "isso é história pra inglês ver!"  Tudo isso torna a Wicca uma religião menos válida?
De forma alguma!
Toda religião foi criada por alguém um dia e o fato da Wicca ter sido criada por Gardner não a torna uma religião menos válida que qualquer outra. A validade de qualquer religião não está em seu passado histórico, mas nas respostas que ela é capaz de fornecer aos anseios e indagações da alma humana. Nisso a Wicca tem sido altamente eficaz, tanto que é considerada pelos estudiosos como a religião que mais cresce no Ocidente na atualidade.
Uma religião não deve ser definida por aquilo que um dia foi, mas por aquilo que ela é e pelo o que os seus praticantes fazem hoje.
Gardner deu impulso a um movimento espiritual que não parou de crescer. Este movimento evoluiu, cresceu e se transformou na Wicca que hoje conhecemos. Assim como tudo o que cresce, a criatura saiu da mão do seu criador e ganhou vida própria.
É hora de lançarmos luz em nosso passado para criarmos um novo futuro. Se não honrarmos o nosso passado, jamais saberemos caminhar no futuro. Honrar o passado significa, entre outras coisas, reconhecer os erros e equívocos de nossos ancestrais para não repeti-los.  Aceitar isso é importante para conquistarmos a dignidade espiritual que merecemos. 
Provavelmente, com tantas mentiras e falácias, Gardner não tenha conseguido dar à Wicca um passado espiritual Neolítico e antiquíssimo como um dia ele projetou. Mas nós, os atuais praticantes da Arte, podemos fazer isso. Como?!
Dando a atual Wicca um passado espiritual conceitual e enfatizando a ligação espiritual arquetípica, como Fred Lamond sugeriu no trecho reproduzido anteriormente. 
Damos a Wicca sua ancestralidade espiritual quando diariamente eliminamos os resquícios de magia judaico-cristã que ainda permanecem na Arte, quando buscamos nos rituais xamanísticos dos antigos povos inspiração para recriar rituais modernos para celebrar os Deuses, quando entendemos que a Wicca é na realidade a "Antiga Religião" do futuro.
Não conseguiremos dar a Wicca o seu passado espiritual clamando linhagens medievais inexistentes; não conseguiremos isso clamando uma hereditariedade Pagã falsa para respaldar o que acreditamos ou fazemos; não conseguiremos isso perpetuando os mitos e inverdades do passado. 
O novo amanhecer da Arte se dará ao passo que reconhecermos nossas vulnerabilidades como religião, desfazendo os equívocos perpetuados até o presente momento. 
O alvorecer da Arte só acontecerá quando nos conscientizarmos que mesmo sem esse passado lúdico, que todos um dia sonhamos e quisemos, estamos aqui hoje e fomos trazidos para este caminho e de alguma forma transformados nesta busca. É somente isso o que importa. Algo muito maior nos une e nos impulsiona em seguir adiante e continuar caminhando nesse "velho-novo" caminho que chamamos Wicca.
De onde veio essa inspiração que motivou Gardner a dar surgimento a Arte como a conhecemos e que continua impulsionando tantos a recriá-la diariamente? Da Anima Mundi (Alma do Mundo)? Talvez!!!
A Alma do Mundo carrega conhecimentos muito antigos e talvez esteja nos inspirando diariamente na construção da Wicca, afinal a capacidade e inspiração para conceber novas idéias religiosas não  acabou com as culturas do passado. Somos seus herdeiros diretos e temos tanto ou mais capacidade e maiores conhecimentos, científicos e/ou tecnológicos, para dar vida às novas formas de religião que respondam aos anseios, expectativas e visão de mundo do homem contemporâneo.
Que esta Alma continue a nos inspirar constantemente, sussurrando em nossos ouvidos aquilo que foi esquecido e precisa ser relembrado.
Ela é a origem do que fazemos, a nossa verdadeira anciã e ancestral.
É até ela que podemos traçar nossa linhagem e ancestralidade espiritual e ninguém mais!
 
CONHEÇA AS LEIS DA BRUXARIA:
 
Teoricamente, as Leis da Bruxaria foram passadas a Gardner pelo Coven que o introduziu na Wicca. A questão é que não sabemos até mesmo se o Coven de New Forest realmente existiu.
Como próprio Fred Lamond demonstrou, as antigas Leis da Bruxaria são trabalho do próprio Gardner e elas não existiam até 1957, quando ocorreu o episódio já relatado envolvendo a saída de Doreen Valiente do grupo de Gerald.
Podemos facilmente perceber que o texto foi forjado de alguma forma, pois ele traz uma mistura entre o inglês arcaico e o moderno. Assim, ou ele foi redigido deliberadamente por Gardner ou ele juntou fragmentos de antigas Leis, que poderiam até ter existido, com outras criadas a partir de suas próprias idéias .  Outra curiosidade é que o texto traz um erro histórico crasso, já que aponta para o castigo de queimar Bruxas na Inglaterra, onde elas eram na realidade enforcadas e não queimadas. Fogueiras foram usadas como condenação em outros países, incluindo a Escócia, mas não na Inglaterra.  
As Leis da Bruxaria encontradas abaixo são baseadas nas 140 Leis redigidas a mão pelo próprio Gardner e que foram posteriormente ampliada e complementadas por Alex Sanders com 22 leis adicionais. Muitas outras versões com uso de ortografias e palavras variadas existem e foram redigidas em livros de Wicca e Bruxaria ou estão disponíveis em diversos sites para consulta através da Internet. 
A maioria das Tradições e Covens da atualidade vêem essas leis como sendo demasiadamente ultrapassadas e atualmente desnecessárias, além de serem sexistas e paranoicamente saturadas com a idéia do Tempo das Fogueiras:
I                  - Esta é a Lei, antiga e aceita, tal como se prescreveu.
II                - Ela foi feita para os adeptos, por guia, ajuda e conselho em todas as suas aflições.
III              - Cumpre aos adeptos reverenciar os Deuses e Deusas, obedecendo-lhes a tudo que for dito, na conformidade de seus mandamentos; eis que foram propostos para esses mesmos adeptos, e isto se fez por seu bem; assim como a reverência aos Deuses e Deusas bem é de sua conveniência. Na verdade, os Deuses, assim como as Deusas, amam os que se confraternizam e chama-se irmãos, nos círculos dos iniciados.
IV              - Tal como um homem ama a sua mulher, não devem os adeptos ocupar o domínio dos Deuses e Deusas, mas sim promovam amá-los através de atos e manifestações deste sentimento.
V               - É necessário que o círculo dos adeptos, o qual templo é dos Deuses e das Deusas, seja levantado e purificado, pois assim lugar merecido será, onde estarão Deuses e Deusas em presença.
VI              - E os adeptos se prepararão, e estarão purificados, a fim de que possam ir à presença dos Deuses e diante das Deusas.
VII            - E os adeptos elevarão forças com poder, desde seus corpos, para que, repletos, tornem o poder aos Deuses e Deusas, tanto com amor quanto reverência no íntimo de seus corações.
VIII           - Tal como doutrina foi estabelecida, do passado; pois tão-somente assim é possível haver comunhão entre homens e Deuses; e entre Deusas e homens; visto que nem podem os Deuses, assim como as próprias Deusas, estender seu auxílio aos homens, sem a mesma ajuda destes.
IX              - E uma haverá a Alta Sacerdotisa, a qual regerá o círculo dos adeptos, como elo de ligação dos Deuses, assim como das Deusas.
X               - E haverá um Alto Sacerdote que a sustentará nos seus feitos, como representante dos Deuses, assim como das Deusas
XI              - E a Alta Sacerdotisa escolherá a quem bem queira, desde que baste em hierarquia, para que lhe dê assistência, na condição de Alto Sacerdote.
XII            - Atentando-se a que, tal como o próprio Deus lhe beijou os pés, a Arádia (Deusa Suprema), e por cinco vezes a saudou, depondo seus poderes aos pés da Deusa, em submissão - pois que era ela juvenil e dotada de toda beleza, e em si havia gentileza como havia doçura; sabedoria como justiça; humildade e generosidade.
XIII           - Assim mesmo a ela confiaram todos os poderes divinos que eram de sua própria característica. 
XIV          - Eis que porém, a Alta Sacerdotisa deve ter em espírito que todos os seus poderes emanam do Deus.
XV            - E os poderes lhe são cedidos tão-somente por uns tempos, para que deles use; com sabedoria e bom-senso.
XVI          - E portanto, sempre que esta Sacerdotisa vier a ser julgada pelo Conselho dos que são adeptos, a ela caberá aceitar a renunciar o poder - de boa vontade - em favor de uma mulher que seja mais jovem.
XVII        - Porque a Alta Sacerdotisa, quando legítima, há de reconhecer que uma de suas virtudes mais sublimes é ceder a honra de sua posição, em gesto de boa vontade, para aquela outra mulher que deve sucedê-la.
XVIII       - E por compensação de seu ato, ela voltará a esta posição de Alta Sacerdotisa numa vida futura, com poder e suprema beleza, sempre aumentados, pois assim é a prescrição da Lei.
XIX          - Ora, nos tempos antigos, quando a Lei entre os adeptos se estendia aos longes, vivíamos em gozo de liberdade; e nossos cultos e ritos tinham por local os mais nobres dos tempos.
XX            - Mas correm agora dias infelizes, em que precisamos celebrar em secreto os nossos sagrados e santos mistérios.
XXI          - E hoje que esta seja a Lei: que ninguém que não seja adepto possa estar presente a estes nossos mistérios; porque muitos são aqueles que não nos tem afeto; e a língua do homem na tortura se desata.
XXII        - E hoje que esta seja a Lei: que nenhum Coven saiba onde o outro se reúne.
XXIII       - E nem saibam quem são nossos membros, com exceção apenas do Alto Sacerdote e da Alta Sacerdotisa, bem como aquele que conduza as mensagens nas anunciações.
XXIV      - E não se estabelecerá relação entre um e outro círculo de adeptos; salvo por mediação daquele que faz a anunciação dos Deuses, ou leva a palavra das convocações dos círculos.
XXV        - E quando tudo esteja muito a salvo, é dito aos círculos dos adeptos que se encontrem em lugar determinado, em segurança, para celebração das grandes festas.
XXVI      - E enquanto ali se acharem, nenhum dos presentes dirá de onde veio, nem seus nomes reais se farão conhecidos.
XXVII    - E isto é para que, se algum deles for torturado ou interrogado, não possa, em sua agonia, dizer o que lhe mandam, pois não o sabe.
XXVIII   - E fique este mandamento: que nenhum irmão ou irmã diga a um estranho à Lei, quem são os adeptos; que não declare nomes,; nem contará onde se reúnem; nem por qualquer forma ou maneira, trairá algum de nós aos que nos perseguem para a morte.
XXIX      - Nem se dirá onde fica o lugar do Grande Conselho dos Adeptos.
XXX        - Nem tampouco, a sua própria sede, onde se encontram os seus companheiros de Círculo, em particular.
XXXI      - Nem onde serão os encontros do Círculo que fazes parte.
XXXII    - E se alguém infringir as Leis, ainda que na sua agonia dos suplícios, sobre sua cabeça desabará a maldição da Grande Deusa, de tal modo que nem venha a renascer nestes elementos conhecidos por nós, e que sua permanência eterna seja no inferno dos que se dizem cristãos.
XXXIII   - E que, cada uma dentre as Altas Sacerdotisas presida sobre seu próprio Círculo, distribuindo amor e justiça, com ajuda e conselho do Alto Sacerdote, e dos mais antigos, dando ouvido em constantes ocasiões, ao que traz a mensagem dos Deuses, nas anunciações que ocorrerem.
XXXIV  - E ela dará ainda mais ouvidos às observações dos que se dizem irmãos; e todas as disputas e diferenças que haja entre eles sejam de sua responsabilidade.
XXXV    - Entretanto, força é reconhecer que haverá em todos os tempos, adeptos discutindo com rivalidade para forçar suas decisões e vontade a outros.
XXXVI  - Não que isso em si seja mau.
XXXVII- Porque muitas vezes, se expressam boas idéias; e as que sejam boas devem ser discutidas em Conselho.
XXXVIII              - Mas havendo divergência ou incoerência quanto às idéias, no confronto dos irmãos e irmãs
XXXIX  - Ou se for dito: " Não aceitarei as ordens da Alta Sacerdotisa",eles serão levados diante do Conselho.
XL            - É bom que se saiba: a Lei antiga sempre foi da conveniência dos adeptos unidos, e assim se evitarão disputas.
XLI           - E quem discordar terá o direito de estabelecer um novo círculo de adeptos; e isso também é necessário quando um de seus membros precisar afastar-se, indo morar em local distante das Sedes, ou quando as vinculações ficarem perdidas entre o Círculo e esse adepto em particular.
XLII         - E qualquer um que tenha sua moradia perto das Sedes dos Círculos dos adeptos, mas se mostre desejoso de estabelecer novo Círculo, assim o dirá aos mais antigos, declarando-lhes sua intenção. E isto dito, poderá afastar-se na mesma hora, e buscar outro lugar distante.
XLIII       - Ainda assim, os que sejam membros de um Círculo antigo poderão mudar-se para o novo. Mas se o fizerem, é necessário removerem-se para sempre, do local do Círculo antigo, do qual faziam parte.
XLIV       - Os mais antigos, do novo e do velho Círculo, porém, decidirão em entendimento mútuo, e com amor fraterno, sobre os novos rumos em que devem se firmar, na separação dos dois Círculos de adeptos da Lei.
XLV        - E os praticantes da Arte que tenham suas moradias em local distante dessas ambas Sedes, fora de seus limites, poderão pertencer a um ou outro destes, e não aos dois no mesmo tempo.
XLVI       - Entretanto todos poderão sob permissão dos mais antigos, comparecer aos festivais solenes, desde que haja paz e fraternal afeto entre os presentes.
XLVII     - Mas quem leva a desavença ao seio dos Círculos dos adeptos é réu de punição severa, e para tanto se fizeram as velhas leis: assim, que a maldição da Suprema Deusa lhe desabe sobre a cabeça, a toda Lei que desconsiderar. E tal é o mandamento.
XLVIII   - E se tu tiveres contigo um Livro Das Sombras, que este seja escrito por tua letra e de teu punho. Mas se qualquer dos irmãos ou das irmãs, for desejoso de ter uma cópia, assim será por certo; mas não deixes nunca que tal livro te saia das mãos; e nem tragas contigo, nem tenhas sob tua guarda aquilo que outra pessoa escreveu e que o seja de letra e punho deste.
XLIX       - Eis que se tal livro for encontrado com outra pessoa, e seja de tua letra, esta pessoa poderá ser levada a julgamento.
L                - E que cada um tenha consigo o que seja de sua mesma escrita e próprio punho, destruindo o que deva ser destruído, toda vez que estiver sob ameaça e risco maior.
LI              - E que o que aprenderes seja perfeitamente sabido; mas, passado o perigo e afastados os riscos, escreverás em teu Livro, quando houver segurança; e o que antes tiveres escrito e destruído, nessas ocasiões o reescreverás.
LII             - E se for sabido que algum dos adeptos morreu, será dever a destruição deste seu Livro Das Sombras, e de semelhantes, para que não caia em mãos erradas, entre profanos.
LIII           - Prova constituirá, certamente, contra aquele profano que tiver o Livro de um dos irmãos da Arte, pois não é filho da Lei.
LIV           - E contra também aos profanos que nos oprimem e dizem: "Ninguém é bruxo e está sozinho".
LV            - Portanto todos os teus parentes e amigos podem se encontrar sob risco de torturas e investigações,
LVI           - E isto é a razão porque tudo o que se escreveu deve ser destruído.
LVII         - Mas se teu Livro Das Sombras for achado contigo, isto se demonstrará contra ti e somente tu serás citado às cortes profanas.
LVIII       - Guarda em teu coração aquilo que se sabe da Arte.
LIX           - E se o suplício for tamanho que não possas suportar, então dirás: "Confessarei porque não sou capaz de resistir a estes tratos." LX - Mas que pretendes dizer?
LXI - E se tentarem fazer com que fales sobre teus companheiros, não o faças. LXII - Mas se tentarem fazer com que fales de coisas impossíveis, das que não são usuais entre bruxos, tal como voar com cabos de vassouras; ter pactos com demônios, desses em que crêem os cristãos; sacrifícios de crianças,
LXIII      - sacrifício de Virgens e inocentes; ou insinuações de canibalismo; poluição e profanação de hóstias; missas negras que se rezam nos ventres das mulheres devassas; poços de urina onde se profanam as coisas santas; ungüentos de invisibilidade; secar os leites das vacas; fazer cair granizo; moverem-se objetos pesados; danças em Sabbats presididos por Satanás, que recebe no ânus o beijo dito infame; se por fim, indagarem destas coisas, 
LXIV     - Dirás para que tenhas alívio dos padecimentos que te inflijam: "Sim! Acho que tive pesadelos; ou meu espírito foi arrancado; ou me parece que tive um momento de insanidade e loucura".
LXV       – Na verdade algumas autoridades têm compaixão; e se houver pretexto, poderão até agir com misericórdia. Cautela com frades e fanáticos.
LXVI     - Se disseres algo, porém, que te comprometa, ou a outros companheiros, não te esqueças de negá-lo depois, desmentindo tudo, para afirmar - durante os maus-tratos - que nem saibas do que falavas. LXVII - E se te condenarem, não tenhas cuidado.
LXVIII  - É que teus irmãos, dos Círculos dos adeptos, são gente de poder e te ajudarão a fugir, desde que não percas a firmeza nem desates a língua. Se contudo, te traíres, ou aos demais, já não te restará esperança de salvação, nem nesta vida nem na futura.
LXIX     - Não te inquietes: se em tua firmeza te conduzirem à fogueira do suplício - para o desfrute dos cristãos e de seus demônios - , teus irmãos te ministrarão drogas suavizantes, e te haverá conforto, e nem sofrerás dores. Para a morte partirás tranqüilo, e para o consolo do além, que é o êxtase nos braços da Deusa Suprema.
LXX       - e teu gozo nao será o da carne, mas sim do espírito, que é na sua purificação, e elevação, que os adeptos se dedicam as suas obras.
LXXI     - Mas para evitar que sejas descoberto, teus instrumentos de Arte serão bem simples, como os que são encontrados nas casas comuns dos profanos; e entre eles não se dirá nada. 
LXXII   - É bom que os pentáculos sejam feitos de cera, de modo que logo se rompam, e mais rápido sejam derretidos, como qualquer obra artesanal. LXXIII - Em tua casa não terás armas, nem espada, a menos que as permita tua hierarquia no Círculo.
LXXIV - Em tua casa nao gravarás símbolos, nem sinais, nem nomes que soem estranhamente. Nem em nada os escreverás.
LXXV   - Quando for necessário seu uso, então escreverás com tinta, o que tiveres de traças e escrever, no momento das consagrações; e passadas estas, com a obra terminada, tu apagarás tudo tão logo não seja necessário continuar escrito.  LXXVI - Nos punhos das armas quando te forem permitidas, mostrarás quem és entre os adeptos, mas não o saberão os profanos, nem os que te perseguem.  LXXVII - Nelas não farás gravuras, nem inscrições, para que pelos símbolos não conheçam tua condição, que assim serias traído.
LXXVIII - Não te esqueças nunca que és um dos filhos secretos da Deusa Suprema; assim não desgraçarás a ti, nem a teus irmãos, nem a entidade divina. LXXIX - Seja modesto; Não uses de ameaças; não digas jamais que desejarias a perda alheia, ou que te seria possível causar dano a alguém.
LXXX   - E se por acaso alguém que não seja do Círculo dos adeptos, se referir à Arte, lhe dirás: "Não me fales dessas coisas, que elas me apavoram".
LXXXI - E o motivo para que assim procedas é que os que se declaram cristãos costumam por espiões por toda parte. Eles se gostam da perda e danos alheios, e pretextam e protestam afeto. E muitos são fingidos por sentir afinidade com a Arte e desejar reverenciar os deuses antigos.
LXXXII                 - Muitas vezes os propósitos cristãos são maus. Aos tais se negue sempre o conhecimento das verdades ocultas.
LXXXIII               - A outros interessados na Arte porém se dirá: "Falem aos homens que feiticeiras e bruxos que voam pelos ares cavalgando vassouras é pura estupidez. E para que isto fosse possível, haveriam de ter pelo menos a leveza dos flocos que a brisa sobre das árvores. E se diz que bruxas e bruxos são feios e vesgos; sempre velhos e feios. Que prazer terá alguém em estar nas suas assembléias ou Sabbats, segundo o personagem criado que estes profanos dizem existir?" LXXXIV - E acrescente: "Os homens de bom senso sabem que tais criaturas não existem de verdade". 
LXXXV - Procura sempre ter como passageiras estas tais coisas; que algum dia hão de acabar as perseguições e a intolerância, quando voltaremos em segurança, a reverenciar os Deuses do passado. LXXXVI - Oremos para que venham dias mais felizes.
LXXXVII             - Que as bênçãos da Suprema Deusa e dos Deuses sejam com todos aqueles que respeitam estas Leis e obedecem aos mandamentos.
LXXXVIII           - E se por acaso há alguma propriedade característica da Arte, seja ela mantida, cooperando todos a preservá-la em sua simplicidade e pureza, para bem de cada um dos adeptos. 
LXXXIX              - E se algum dinheiro ou valor do bem comum for confiado a qualquer um dos adeptos, que ele cuide de agir honestamente.
XC           - E se algum dos irmãos do Círculo realizar de fato alguma tarefa, é justo que se lhe dê uma recompensa; porque não se trata aqui de receber pagamentos por obra da Arte, mas sim por recompensa de trabalho honrado.
XCI         - Isto o permite a Lei, com boa-fé. E mesmo os que se dizem cristãos falam assim: "O trabalhador é digno de seu salário", e tais palavras estão em suas Escrituras. Entretanto, se algum dos irmãos quiser trabalhar, em algum serviço para o bem da Arte, e por amor que lhe tem, sem receber qualquer recompensa, a ele e a todos do Círculo lhes recaíram grande Honra. A Lei o permite, e o mais que se ordenou.
XCII        - E havendo alguma disputa ou discussão entre os adeptos, rapidamente a Alta Sacerdotisa reunirá os mais antigos, ouvindo-se todos os fatos e partes, cada um por sua vez e ao final em conjunto.
XCIII      - A seu tempo se decidirá com justiça, sem que o sem razão seja favorecido.
XCIV     - Sempre se reconheceu existirem aqueles que não concordam em trabalhar sob ordens dos outros.
XCV       - Mas ao mesmo tempo foi reconhecido que existem os que são incapazes de julgar com justiça, ou dirigir com boa-fé.
XCVI     - E quanto aos que são incapazes de obedecer, mas só cismam de mandar e dirigir, eis o que se lhes dirá:
XCVII    - "Não fiquem neste Círculo, ou estejam em outro, ou ainda saim a organizar seu próprio Círculo, ou nele mandem, levando consigo os que os acompanhem".

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