Sentimentos expostos

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Ao chegar na Almacén Thebaldi, a galeria que sediaria a exposição de Xavi, Nina ignorou os olhares curiosos em sua direção, ela passava  pelos corredores olhando para si mesma a procura de algo em sua roupa ou cabelo que estivesse errado, mas tudo parecia no seu devido lugar. O tecido leve e preto de seu vestido a envolvia com perfeição, ressaltando sua cintura com uma marcação de corpete e tornando-se mais livre e solto a medida que se abria numa saia midi de tule, ela havia optado por um salto dada a natureza do evento, mas começava a se perguntar se seria seu modo atrapalhado de caminhar com eles que atraia tantos olhares em sua direção. Quando finalmente alcançou o ala leste, onde a exposição de fato acontecia, Nina se viu parada no lugar, a boca levemente entreaberta, pupilas dilatando a medida que os desenhos e quadros entravam em foco. Era ela, em cada quadro, desenho e pintura ali, seu rosto, suas feições, ora feliz e sorridente, ora taciturna, melancólica, por vezes com seu livro em mãos, outras apenas sentada a janela de seu apartamento. As memórias das tardes em que Xavi a observava escrever por horas com seu bloco de desenho em mãos vieram como uma enxurrada, como ela não havia percebido? Ele sempre respondia a mesma coisa quando questionado pela morena do porquê escolhia trabalhar ali: "Você é minha melhor inspiração." Nina havia pensado que isso fosse um modo de dizer que gostava de sua companhia, mas agora se dava conta de que ela era literalmente sua inspiração.

— Gostou da surpresa? — A voz de Xavi surgiu calma e baixa atrás da morena, ela se virou tentando recuperar a fala.

— Eu... Eu não esperava por isso. — Ela confessou hesitante. Uma onda de sentimentos crescendo dentro de si, os olhares e comentários direcionados a ela se tornando cada vez mais evidentes aos seus sentidos o que fazia o ar se esvair de seus pulmões. Aquele era o seu pior pesadelo, uma sala repleta de pessoas que focalizavam sua atenção única e exclusivamente nela. Se sentia observada, exposta, violada. As versões de si que estavam penduradas nas paredes eram o que mais a incomodava, aqueles eram retratos dela em seus momentos mais sagrados, concentrada em seu livro, abrindo sua alma e a transcrevendo em palavras num manuscrito. Era pessoal, íntimo, seu, particular e agora estava estampado em dezenas de obras que eram suficientes para preencher um salão. Nina sentiu o nó em sua garganta se intensificar e seus olhos arderem a medida que se enchiam de lágrimas. Ela girou sobre os próprios calcanhares e deu passos rápidos galeria a fora, alcançando em menos de um minuto a calçada externa onde deixou seu corpo relaxar, curvando-se e apoiando as mãos sobre os joelhos enquanto expirava com força tentando se recuperar do que acabara de acontecer. Xavi a seguiu, encontrando a morena ainda em frente a galeria e a conversa que se seguiu foi o fim de tudo entre eles. Nina percebeu a medida que ele justificava seu trabalho e a escolha dela por tema, defendendo sua paixão e visão que ele sequer percebia o problema. A verdade era que ele não a conhecia, não profundamente, não ao ponto de entender o que aquele tipo de exposição significaria para ela. Nina percebeu em algum ponto da discussão que Gastón teria a entendido, teria compreendido como aquilo a afetava e porque não podia continuar nem mais um segundo ali ou fingir que aceitava aquilo e tal percepção a levou a conclusão definitiva de que tudo entre ela e Xavi estava acabado. Não pelos quadros, mas por ela. Por quem ela era e por ele conhecer e entender tão pouco disso ao ponto de não ser capaz de compreender a magnitude daquilo.

A morena se afastou do prédio descendo a rua principal que dava acesso a ele e se lembrou de um parque não muito distante dali, onde poderia processar tudo que havia acontecido e entender o que significava.

...

Uma hora mais tarde ainda sentada no banco do parque ela percebeu: significava que ainda amava Gastón Perida. Seu coração acelerou as batidas quando as memórias mais recentes com o moreno tomaram sua mente. Ela se lembrou da sessão de fotos e de como ele compreendeu seus sentimentos e a ajudou, fazendo-a se sentir o mais confortável possível com aquela situação. Ela riu da ironia de tudo aquilo. Dez anos, dez anos se passaram e em algumas semanas Gastón já tinha reconquistado seu coração completamente. Nina fechou os olhos por um longo minuto absorvendo as implicações daquilo e então suspirou com pesar deixando seus ombros caírem. Ela ainda amava Gastón Perida e mais uma vez o amor impossível do colégio se repetia. Como podia viver aquele ciclo de novo?! Apaixonada por alguém indisponível, tendo seu coração tomado completamente pelas mais singelas e atitudes ao ponto de não ser capaz de tirá-lo de sua mente. Ela bufou. 

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⏰ Last updated: Nov 04, 2023 ⏰

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