Desse dia em diante foi só ladeira a baixo, qualquer coisinha que eu fazia já era motivo para ele me trancar em casa. Eu não sei como não repeti de ano, foi muita sorte ter passado mesmo tendo faltado por três meses.

A um tempo atrás, a dona Aparecida, vó do Samuel, tentou me levar para morar com ela. Mas não deu certo, armando ficou ainda mais louco e disse que ia fazer da vida da senhora um verdadeiro inferno, eu não queria colocar o peso dos meus problemas em mais ninguém, então eu me Afastei.

As vezes eu tento bloquear da minha mente tudo de ruim que ele já fez, tento esquecer para que a convivência se torne um pouco suportável. mas é quase impossível quando se acontece todos os dias.

Ele tem mudanças de humor repentinas, ao mesmo tempo que está rindo e se divertindo, ele fecha a cara e procura os mínimos motivos para arrumar uma confusão. Até mesmo se eu olhar para ele, o mesmo grita querendo saber o por que de estar o olhando.

Esse um mês que ele ficou sem beber foi incrível, sem brigas, sem surras, sem o cheiro forte de álcool misturado com cigarro. Mas tudo passou, a máscara caiu e ele voltou a ser o que era antes.

Eu não acho que ter dormido fora, tenha sido motivo para isso tudo.

Ou foi? Será que apenas isso foi motivo para ele se comportar dessa maneira? Será mesmo que ele está certo e a errada sou eu?

Eu já não aguento mais, eu não tenho como sair disso tudo...ou talvez eu já esteja tão acostumada a viver assim, que não vejo saída.

Eu perdi todas as esperanças quando tinha dez anos, minha mãe ligou no meu aniversário, ela ligou depois de um ano. Eu pedi para ir morar com ela, falei tudo o que o meu pai fazia e ela me disse que eu dava motivos para apanhar. disse que não ia me buscar, que eu tinha que me comportar e obedecer meu pai.

Ela pode ser tudo, menos mãe.

Abri a porta vendo Leonardo esparramado na minha cama, não falei? Muito intimidade, não estou gostando.

-O que tem aí? - Olhei para sacola da padaria.

-Coxinha, pão de queijo e toddynho.

-Combinação meio estranha, não acha?

-Não - sorriu - O que importa é encher a barriga, isso sim importa.

Concordei com a cabeça e me sentei ao lado dele que estava quieto encarando o teto.

Eu queria falar sobre o que estava acontecendo, essa amizade com ele está muito confusa e eu não sei o que está acontecendo. Mas não sei nem o que falar, não sei por onde começar porque eu sequer sei o que sinto.

Amigos não transam, ou transam?

-ontem você disse algo que ficou na minha mente - ele me olhou - algo como "não quero sentir outra vez o que eu senti hoje". O que você quis dizer com aquilo?

Ele me encarou sério e suspirou fundo, se sentou ao meu lado e desviou o olhar para as suas mãos.

-Eu fiquei com medo, medo dele te machucar. Fiquei com raiva porque você não foi embora comigo, fiquei com mais ódio ainda de ver como ele tratou você - suspirou - mas o que realmente me quebrou, foi ver o quanto você estava assustada e parecia estar desesperada. Eu só...eu só queria proteger você.

Ele falava tudo baixinho e com calma, parecia realmente sentido com tudo o que aconteceu. Ele me olhou com olhar vago, naquele momento eu percebi que ele não tinha dito toda a verdade, ele estava escondendo alguma coisa. Mas o que?

-Eu ainda não sei lidar com toda essa atenção e preocupação, é tudo muito novo para mim - Seus olhos azuis estavam fixos no meu rosto - mas muito obrigada por se preocupar, obrigada por estar aqui.

Só por uma noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora