Caminho em passos lentos até a sala de jantar. Observo pelo corredor — nas paredes — os quadros, fotografias e até mesmo pinturas dos antepassados de minha família. Os quadros que predominam são de homens, todos em seus ternos elegantes, exercendo suas funções na política. Em alguns anos, estarei em algum lugar ao lado deles. 

— Boa noite, pai. — Sinto minha língua dormente ao dizer a última palavra.

Lewis levanta o olhar para mim e abre um grande sorriso.

— Meu filho! Estávamos te esperando para jantar. Rachel me disse que você estava pintando. — Seu sorriso se dissipou assim que terminou a frase. — Você deveria estar lendo aquele livro que te indiquei.

Indicar na língua de Lewis significava obrigar. 

— Boa noite Louisa. — Sorri para minha irmã mais nova antes de sentar a esquerda do meu pai. —  Meu querido pai, irei começar aquele livro esta noite na biblioteca.

— B-boa noite! — Louisa respondeu animadamente, olhando em minha direção. Papai coçou a garganta olhando para ela com uma expressão fechada. O sorriso de Louisa desapareceu e ela abaixou o rosto, olhando para o prato vazio sobre a mesa. 

— Espero encontrá-lo ás nove na biblioteca então. — Disse autoritário. — Judith!

Judith que estava ao lado da cadeira de Lewis, se aproximou rapidamente murmurando um "Sim senhor?". O jantar logo estaria na mesa. 

Assim como Louisa, mamãe estava com os olhos focados no prato. Ela tinha uma expressão triste e abatida no rosto, aquilo me machucava tanto.

— Louis, daqui uma semana suas aulas voltam! Logo meu filhão estará terminando o ensino médio e começando a faculdade de ciências políticas. — Ele deu um sorriso presunçoso, olhando diretamente para mim. — Assim como eu fiz alguns anos atrás.

Senti minha garganta se fechar e não consegui fazer nada além de apenas balançar a cabeça. Quando Lewis me olhava daquela forma, sentia tanto medo de discordar de algo que ele dizia, que sempre tinha uma reação automática. Ao meu lado, minha irmã parecia nervosa. Louisa levantou o olhar e começou a mexer a perna sem parar, parecia extremamente ansiosa. Coloquei a mão sobre o ombro dela e sorri.

— Louisa também vai voltar — A feição de Lewis mudou quando eu disse o nome de minha irmã. — E ela vai começar o ensino médio! Isso é incrível! Muito incrível. 

— E-eu es-estou um pouco nervosa, espero m-m-me sair b-b-bem. — Ela desviou o olhar de mim, envergonhada por gaguejar na mesa de jantar.

O rosto do meu pai expressava puro desdém. 

— No seu lugar eu também ficaria. Além da gagueira, a notícia de que você foi diagnosticada com TDAH já deve ter se espalhado pela cidade toda. — Ele se inclinou, observando o prato de espaguete que estava sendo colocado sobre a mesa. — Ontem mesmo minha secretária levou uma cópia do jornal local no meu escritório. Adivinha quem estava protagonizando a primeira página?

Louisa apertou a barra do vestido azul que usava com força. Pude ver seus olhos escuros se enchendo de lágrimas. A raiva me consumia pouco a pouco. Lewis tinha prazer em ver sua filha mais nova aflita.

-— "Louisa Theodore, filha caçula do querido prefeito Lewis Theodore, foi diagnosticada com TDAH. A gagueira da Theodore mais nova já não era novidade para ninguém, mas todos tinham esperanças de que ela..." — Meu pai repetia as palavras inclinado sobre Louisa. 

E como sempre acontecia: Louisa levantou rapidamente da mesa, correndo para fora da sala de jantar. Mamãe iria atrás dela, mas Lewis pegou seu pulso sem a menor delicadeza.

PrimaverilWhere stories live. Discover now