- 10.

945 144 95
                                    

A amargura invadiu minha boca no despertar daquela primeira manhã. Eu não conseguia sentir minhas pernas de tamanho formigamento, meu cabelo, se fez em um nó. Eu estava apenas de camiseta e com uma samba-canção. Mal consegui abrir os olhos e já haviam lágrimas habitando em mim. Eu tinha certeza do que poderia ter acontecido comigo, tanta certeza quanto o sol que estava lá fora. 

Depois de ficar imóvel e sentir meus olhos queimarem com as lágrimas, eu faço uma força quase involuntária para me abaixar ao lado da cama e me desmanchar em vômito. Uma voz familiar sai de dentro do banheiro e murmura algo quase que incompreensível para mim,  segura forte em meus ombros, logo em seguida, em meus cabelos. Eu não consigo pensar em nada que não fosse abandonar aquele navio e delatar o que tinha acontecido comigo. Mas quando levanto minha cabeça, a pessoa na qual vejo, enche meu corpo de paz.

Sebastian estava sentado ao meu lado, e pela sua expressão, parecia tão preocupado quanto ficou na vez em que eu cai de trenó aos doze anos.

- Você está bem. E segura. - Diz ele, com a mesma expressão.

- O que exatamente aconteceu comigo? 

Me endireito na cama, para que a pressão que estava em minha cabeça e ombros se desvaneça. Sebastian por sua vez, alcança uma água que está no frigobar ao lado de minha... - nossa - cama.

- Bom, um babaca tentou te dopar. Ele só não contava com a bravura de Sebastian Stan.

Mesmo tentando levar a situação para o humor, eu sabia que ele não estava feliz. Aquilo transparecia até em sua voz. Sebastian podia ser perdido das ideias de vez em quando. Viver de namoricos que não resultavam em nada, mas ele nunca, em hipótese alguma, prejudicou uma mulher. A não ser por sentimentos não correspondidos, os mesmos nos quais são necessários para uma vida, eu suponho. Ela não faria mal nem a uma formiga se soubesse que ela era do sexo feminino. E eu, Florence, acredito que esse extinto tenha vindo de uma vida inteira ao lado de apenas sua mãe. 

- Eu só... Só quero ficar na cama hoje. Talvez coma e veja alguma coisa. Eu não estou mesmo afim de sair e trombar com aquele pedaço de merda novamente.

Sebastian solta uma risada baixa e me olha. Segurando em minha mão, ele olha para o chão no qual eu havia vomitado apenas água, de tanta acidez que meu estômago se encontrava.

- Vou limpar isso e depois venho me deitar com você. - Diz ele.

No instante em que diz isso, meu rosto quase queima de vergonha e eu tento arranjar forças de onde não tenho para fazer aquele serviço por ele. Mas, como já esperava, ele segura em meu braço e me impede de prosseguir.

- Faz um seguinte, madame. Toma um banho bem gostoso, troca essa roupa improvisada que eu pus em você, e vamos maratonar alguma coisa juntos. Eu peço a comida quando você terminar.

Abro um sorriso largo ao olhá-lo, e o mesmo retribui. Não pensei duas vezes antes de fazer o que ele me pediu. Tomo um banho consideravelmente demorado, e certifico que estou cheirosa e descente o suficiente para dividir a cama com alguém. Mesmo que esse alguém fosse Sebastian.

Quando saio do banho, nossa cabine está impecável. Ele organizou e limpou tudo, até arrumou a cama. E agora está sentado na ponta da mesma selecionando a Netflix. Ele abre um sorriso de canto ao me ver e dá alguns tapinhas na cama para que eu me sente ao seu lado.

Sebastian, meu guarda-costas preferido.

Eu podia jurar que não iria gostar da comida japonesa de um navio. Mas eu realmente estava subestimando. Depois que Sebastian também tomou um banho, decidimos assistir a duas temporadas de Good Girls juntos. Eu vacilava em dar risada de piadas frouxas da série e ele me cutucava rindo. Experimentamos quase todo o cardápio durante a série. Quando olhei no relógio, quase pulei de susto. Passava das cinco da tarde.

- Acho que exageramos bastante, você quer dar uma volta? - Digo me espreguiçando na cama. - Pegar uma loura aguada, eu sei lá.

Sebastian, que está deitado de barriga para baixo abraçando um travesseiro esboça um riso.

- Por mais tentadora que seja essa sua oferta ofensiva, eu devo te dizer, que não tem outro lugar nesse navio que eu queira estar sem que seja bem aqui, do seu lado. - Disse ele, sem tirar os olhos da TV.

Meu coração quase pula pela boca. É óbvio que ele estava me zoando. Sebastian só sabia fazer isso, na verdade. A não ser, é claro, quando estava com outra, daí ele não tinha muito tempo para encher o meu saco. Mas de certa forma, não notei o seu famoso tom de brincadeira nas palavras que acabara de dizer. Ele não parecia ter tido um dia bom. Desde que me levantei, ele carrega a mesma expressão no olhar e o mesmo tom de voz. Algo estava lhe incomodando e eu deveria ter perguntado. Mas... Ele falaria. Ele sempre fala. Sebastian não é do tipo de cara que fica remoendo sentimentos, ele simplesmente solta tudo, cada detalhe. E é por isso, talvez, que eu não tenha entendido se o que me disse foi brincadeira.

- Você está flertando comigo, Sebastian Stan?

- Está funcionando? - Diz ele, ainda no mesmo tom.

- Eu espero que não.

Solto uma risada mas o mesmo continua sério. Ele se ajeita ao meu lado da cama. Ficando agora de barriga para cima e um dos braços atrás de sua cabeça. Ele leva sua outra mão para as minhas costas e acaricia. Continuo sentada de pernas cruzadas ao lado dele e o olhando fixamente. Mas ele ainda está sem tirar os olhos da TV.

- Algo está incomodando você? - Digo em tom de preocupação.

- Nada que precise se preocupar, linda.

- É serio. Pode me dizer qualquer coisa.

- Qualquer? - Agora ele olha para mim.

- É claro. - Lanço-o um sorriso sem jeito na intenção dele notar que aquela pergunta foi idiota.

Sem ao menos pestanejar, Sebastian se inclina em minha direção e me beija. Seus lábios úmidos e macios me fazem esquecer por um momento tudo o que somos ou já vivemos. A recordação daquele dia no chuveiro vem a tona e eu cedo ainda mais, pois sabia, que seu beijo era sem igual.

Continuamos a nos beijar desesperadamente, até que percebo que talvez estejamos indo longe demais, ao sentir a mão dele perto de minha virilha. Me afasto, tentando recuperar o fôlego, e como se não bastasse a inconveniência, solto um gemido baixo quando ele se afasta de mim.

- Nada mal. - Diz ele ao me olhar. 

- Engraçadinho.

ı ωαηηα вє łαsт.Where stories live. Discover now