1 - Propaganda na TV (Parte I)

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O clima estava aquele típico calor que se faz no estado do Tocantins

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O clima estava aquele típico calor que se faz no estado do Tocantins. O sol era de rachar o coco. Xandinho descansava do almoço deitado em um banco de Kombi descartado, daqueles de três lugares. Com a cabeça elevada, sustentada pelo braço, assistia ao jornal local do meio-dia em uma televisão de vinte polegadas que ficava no canto da oficina de seu avô Nélio.

Às vezes nem parecia que ele trabalhava na mesma oficina do avô. Nélio vivia todo sujo de graxa, as unhas das mãos já apresentavam uma coloração natural preta nas pontas. Claro que Xandinho se sujava, como todo mecânico, mas não se comparava com o relaxo despreocupado do velho Nélio. O rapaz sempre trabalhava com um macacão, mas o deixava, na maioria das vezes, amarrado na altura da cintura. O calor o impedia de ficar com a vestimenta fechada. Seu corpo trabalhado na malhação ficava à mostra, e quando alguma garota aparecia por lá, era certo reparar na definição do garoto vistoso.

Xandinho não tinha dinheiro para frequentar nenhuma das duas academias daquela cidade pequena, por isso, pediu permissão ao tio e construiu alguns pesos em seu quintal, usando concreto e ferro que reaproveitou de algumas peças dispensadas na oficina. Sua "academia" particular possuía alguns pesos, uma barra e rampa para as abdominais, e era onde ele passava a maior parte do tempo livre, estimulando seu físico.

Seu avô estava sentado em um banquinho baixo com um pneu de moto entre as pernas, no qual fazia alguns ajustes com uma chave. O palito que usou nos dentes após o almoço, permanecia em sua boca. O neto já estava acostumado a ver aquela cena e não questionava. Também não questionava o fato do avô não parar de trabalhar, mesmo tendo acabado de almoçar, ainda mais com o pouco movimento na oficina.

Na televisão passava um comercial de uma loja de tecidos. Nélio parou o serviço na hora para prestar atenção na propaganda. Levou seus dedos sujos à boca e ficou segurando o palito.

— A loja da Márcia na televisão! — exclamou ele, surpreso.

— Deve estar fazendo uma grana boa na loja para poder fazer anúncio no Canal Brisa — disse Xandinho.

— Queria eu ter condições para poder colocar um anúncio lá também.

— Lá vem você de novo com essa ideia, hein pai! — disse Silas, aparecendo de repente — Mal temos dinheiro para pagar as dívidas, quem dirá anúncio de TV!

— Verdade! Tem mais moscas nesta oficina que clientes — disse o velho, rindo triste.

— E anúncio de tevê é coisa do passado. Estamos na era da internet há anos. Fala para ele, Xandinho! Tem que anunciar no Instagram.

— Eu não entendo nada dessas coisas e nem sei mexer. Se a Márcia colocou um anúncio na tevê é porque a ideia é boa. Ela entende dos negócios.

— A Márcia é outra velha desatualizada que nem você — rebateu Silas, rindo do próprio comentário.

Xandinho continuou calado. Já estava acostumado desde novo a ver o tio ser desrespeitoso com seu avô. Com o olhar, Nélio desaprovou a forma como o filho falava, mas não passou disso. Sempre fora condescendente com as atitudes ácidas do rapaz.

Sangue de Campeão (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora