Conheci um jogo de poker, que eles tiram tudo que você tem

52 12 4
                                    

Sempre fui viciado em jogos, não importa quais sejam. Procurava aventurar-me de todas as formas, muitas vezes perdendo mais do que ganhava. Apenas pelo prazer de jogar, sentindo a satisfação mais excitante do que o próprio sexo pode proporcionar.


Quem apresentou-me ao esquema foi um velho amigo de infância. Nós praticamente estávamos juntos vinte e quatro horas por dia: trabalhávamos na mesma empresa, as nossas esposas eram irmãs e, ocasionalmente, ele sempre estava na minha casa no final da tarde ou vice-versa; quase todos os finais de semana, para bebermos e jogarmos conversa fora. No entanto, compartilhávamos um problema em comum: o vício em jogos.


Ele estava dirigindo um carro de luxo, quando buzinou para mim — afim de chamar a minha atenção. Achei que não tratava-se da minha pessoa, até que o vidro abaixou revelando a sua figura sorridente e bem trajada com um terno azul-marinho que julguei ser da última coleção da Dior. Ficou deslizando por alguns segundos, entre os seus lábios, um charuto na boca. Não precisei perguntar onde ele havia conseguido aquelas coisas, quando disse que entrou em um negócio que paga muito bem, cobrando coisas insignificantes em troca. Imaginei algo como drogas, mas não fazia o estilo dele. Pensei em várias hipóteses — todas anuladas por serem um tanto impossíveis e absurdas demais. Então, pediu-me para acompanhá-lo e acomodar-me ao seu lado no seu mais novo conversível. É claro que eu estava perdido e atônito — as palavras simplesmente desapareceram da minha garganta. Depois de fazer o que pediu, ele confessou-me que nunca ganhara tanto em tão pouco tempo e como poderia ganhar ainda mais se assim desejasse.


Pegou do bolso do seu blazer um panfleto com o endereço e o nome do que parecia ser um bar de uma região da cidade, ao qual eu não costumava visitar. Disse que lá, eu poderia participar de um jogo de poker. Não falou os detalhes, explicou apenas que eu precisava ver com os meus próprios olhos. É claro, na ocasião, questionei o que a sua mulher achava disso. Então ele gargalhou, jogando sua cabeça para trás e brincando comigo, dizendo que "esposa é uma prisão" e "não precisava de uma". Fiquei transtornado com a sua confissão por alguns segundos. Ele amava a Hilary, estavam casados há dez anos, e ela o amava duas vezes mais. Percebendo o seu desprezo em suas palavras — conclui de imediato — sobre o que o dinheiro faz ao homem: ele corrompe você. Não desejei confrontá-lo, eu ainda estava curioso com o que foi apresentado-me. Continuou explicando-me que eu não precisava levar dinheiro para jogar e poderia sair rico se fosse generoso com os apostadores.


Sem conseguir conter-me, fui ao local depois da meia-noite — horário de funcionamento — como indicado no panfleto que havia recebido. Paguei o táxi com uma nota de cem que o meu amigo deu-me mais cedo. Assim que cheguei, percebi uma placa com o que parecia ser uma cauda de um diabo passeando pelo letreiro: Bar Venture's; uma imagem de uma mulher com os seios salientes e sorriso malicioso — em uma roupa bastante sensual vermelha — dançava em uma animação de luzes neon gritantes. Quando adentrei o estabelecimento, deparei-me com aquele típico cheiro clássico de lugares fechados, com a fumaça dos cigarros e charutos pairando pelo ar. Estava tão podre, que posso comparar a ovos estragados. Havia um homem do outro lado da porta quando bati — acreditei que fosse um segurança pelo seu porte físico e uniforme. Atendeu-me e anunciou aos demais que estavam um pouco mais à frente que havia chegado mais um "deles". Antes de seguir ao encontro dos mesmos, forneci as minhas informações em uma espécie de formulário na entrada.


Haviam três homens velhos: o da esquerda era baixo e magro, sua vestimenta dispunha-se apenas de trajes surrados e de mau gosto. O da direita era gordo e um pouco mais alto, queixo redondo e bem apresentável em uma camisa e calça social Sarja Slim na cor preta, bem afeiçoado e sorridente — como se não tivesse problemas para preocupar-se. O do meio era sério, parecia pensativo e avaliador, estava trajado com uma camisa branca e colete social e uma gravata borboleta vermelha brincava de enfeitar o seu colarinho.

Receio Onde histórias criam vida. Descubra agora