Capítulo 2 - Cadê os modos, Alice? ៚

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              Depois de enviar a mensagem acabei não resistindo a tanta novidade musical na banca e tive que levar alguns cds para ouvir mais tarde, mas foi quando eu estava passando no caixa e olhei pela vitrine que vi a Gabi em pé na entrada do aeroporto com o que parecia ser um aparelho celular em mãos. Por muito pouco não a reconheci.
             Deixo a banca para ir ao seu encontro e ela abre um sorriso enorme ao me avistar. Quando enfim alcançamos uma a outra, Gabi envolve nossos braços e me arrasta para o estacionamento. Olho para os lados nutrindo esperanças de reencontrar o meu colega de viagem mesmo sabendo que ele já deve estar a caminho de casa.
             Só depois tomo real consciência que minha amiga que eu não via há alguns anos está bem aqui na minha frente.
             — Nossa, como você cresceu! — digo.
             Ela me olha com um sorriso tímido.
             Gabrielle sempre foi alta, mas não era daquelas esbeltas que os meninos babavam. Desa vez fiquei de queixo caído enquanto a observava. Seus cabelos negros ainda continuam compridos e sua cintura mais fina do que nunca. Já suas pernas estão um pouco mais grossas e seu rosto com uma aparência melhor de jovialidade e madura.
             — Eu não fui a única que mudou. Você está linda, Alice! Eu nem acredito que você veio. — Gabi sorri me abraçando mais uma vez.
              Aquele buraco de tristeza que tinha se criado quando deixei minha família no aeroporto estava mais uma vez dando lugar a uma centelha de felicidade e ansiedade.
             Eu tinha um sorriso besta no rosto enquanto olhava pela janela do carro. Estava começando a entender o porquê de apelidar o Rio de Cidade Maravilhosa. Passando por uma praia cheia de vegetação e quiosques, haviam pedestres e ciclistas usando roupa de banho. Biquininhos e biquinão, coxas e peitos suados. Senti pena apenas de um cachorrinho cor caramelo correndo com o seu dono naquela calçada que parecia super quente. Ao longe as águas fortes aproximavam-se e recuavam da faixa de areia, eu podia ouvir seu som bem ao longe, era quase que refrescante. Em algum momento durante a minha estadia eu precisava vir ali.
            — Você parece uma menininha olhando as coisas. — Gabi disse rindo. Empurro devagar o seu ombro usando o meu.
           — Todos os turistas são assim quando chegam à cidade pela primeira vez. — disse o motorista, que até então não tinha falo nada.
          Olho para ele pelo retrovisor e aceno com um sorriso em agradecimento.

              — Seja bem-vinda e sinta-se em casa! — Gabi faz uma reverência pondo uma das minhas malas no chão da sua sala.
               A casa de um andar não é nada parecida com o que eu estava esperando com base na situação financeira memorável do pai dela. Sem exageros. Pelo menos não a sala e a pouca visão que eu tive da cozinha.
              Porém, como bons filhos criados com o que é bom e de melhor, a casa não deixava de ter os seus toques de requinte. A porta de correr feita de vidro, os dois sofás enormes forrados em um verde musgo, um painel cor cappuccino composto de estrados de madeira e papel de parede 3D logo atrás de uma smart TV três vezes o tamanho da que estava em minha casa — e isso com ela virada.
              Também havia um aparelho de som com duas caixas enormes, aparelho de DVD e um outro que eu deduzi ser um vídeo game. De frente para a escada na lateral da sala, tem um janelão coberto por uma cortina de renda fina. Mas essa eu tinha visto antes de entrarmos e já imaginava o seu acesso à varanda, esta toda trabalhada em grama artificial composta por cadeiras de madeira. A rendinha final deixava a luz do sol oferecer toda a sua claridade em direção a escada.
              — Só irei ficar por alguns dias enquanto você me ajuda a achar um apartamento. — relembro. — Barato. Até lá, tentarei ser a sua melhor hóspede.
              Esse foi o combinado feito junto a minha mãe, e ela não arredou mesmo quando a Gabi ligou de vídeo chamada tentando convencê-la de que não seria necessário alugar um apartamento, além de que seria um desperdício de dinheiro. Mesmo mamãe não mencionando, eu sabia muito bem o motivo dela não concordar que eu morasse aqui. De toda forma, enquanto eu não encontrasse um bom lugar e me adaptasse ao novo emprego passaria uns dias com Gabi e isso era, obviamente, inquestionável.
             Acompanho-a pelas escadas enquanto ela me guia até meu quarto temporário.
             — Aqui. Eu tentei deixar confortável e iluminado, porque é o que eu me lembro do seu quarto, mas se algo não estiver à seu gosto você pode ficar à vontade para mudar. Ali fica o seu banheiro. — Apontou uma porta próximo do guarda-roupa. — Você está em casa. Estou lá embaixo se precisar.
             Ela caminha até a porta e para virando-se para mim.
— Pode ficar quanto tempo for preciso.Não tenha pressa. — Sai sem esperar por uma resposta.
             Sem cerimônia, coloco minhas malas no chão e corro para o banho.
             Depois de almoçarmos a Gabi me permitiu retornar ao quarto e esperar que eu descansasse da viagem para que pudessemos fazer atualizações das nossas vidas. Porém, sempre que eu tentava fechar os olhos e me concentrar em dormir a mente viajava para as malas que ainda tinham que serem desfeitas, e foi o que comecei a fazer até perceber uma figura me olhando da porta.
             — Olha ele! — Fico de pé tentando esconder a surpresa.
             Gabi, seus pais e o mimado do seu irmão moravam lá em São Paulo. Crescemos todos juntos no mesmo prédio até que os pais deles se separam e eles vieram para o RJ com a mãe. Então já dá para imaginar como eu fiquei ao me separar da minha primeira melhor amiga de infância. O Michael não fez muita falta. Só na primeira semana. Foi com ele que dei meu primeiro beijo da vida. Eu devia ter uns treze anos de idade e lembro bem que foi meio melequento. A gente brigava muito e eu me achava muito nova para ser chamada de namoradinha por ele.
             Depois sua mãe adoeceu e acabou falecendo. Foi quando os irmãos retornaram para São Paulo e eu passei uns tempos com eles na casa do seu pai. Foi a última vez que nos vimos pessoalmente e ficamos próximos de verdade. Quando Michael ficou de maior, decidiu voltar para o Rio e Gabi o acompanhou. Os dois sempre foram muito apegados um o outro.
              — Você está ainda mais linda do que nas fotos do Instagram! — sorriu. Sarcástico como sempre.
              — Já você não mudou muita coisa! — Minto. E a minha surpresa denunciava. Está um pouco mais alto e mais forte. O que não mudou mesmo foi a cara de sem vergonha.
              — De arrancar suspiros, como sempre! — disse ele.
              — Também não deixou de ser convencido! — reviro os olhos e contenho um sorriso.
              — E você não deixou de ser descuidada...
             Olho para ele e entendo o que quis dizer. Entre os dedos, Mike segurava um sutiã meu, próximo a cama onde estavam todas as minhas roupas íntimas espalhadas para guardar.
             Eu nem bem havia me instalado e ele já estava começando com suas gracinhas. Esse, ou melhor, ele é o motivo preocupante da minha mãe não me querer aqui.
              — Que mole, Michael! — reclamo impaciente. — Põe de volta no lugar.
              — Não precisa mais usar papel higiênico pelo visto. — Ele estica o braço me impedindo de chegar até ele. Suas palavras me deixam vermelha.
              — Esquece essa história! — digo puxando meu sutiã. — Agora vê se cresce e devolve isso!                — Esse dia foi ótimo! — Ele deu uma risada que me fez ter vontade de parar para ficar ouvindo.
              — Vai rasgar, devolve! — tomei-o de suas mãos. Eu não iria ficar sem graça atoa e dá esse gosto para ele. Se ele quer jogar, vamos jogar. — Sério, eu só queria saber como eu ficaria com seios grandes antes de eles realmente crescerem!
              Senti seus olhos indo em direção ao meu busto e, sem duvida alguma, se eu me visse no espelho agora estaria parecendo um tomate daqueles bem maduros.
             — Tenho certeza que ficou uma maravilha! — disse se aproximando, olhando para minha boca.
             Posso sentir sua respiração no meu rosto semelhante as várias oportunidades como aquela no passado. Pior do que isso, é que eu não acredito que depois de tanto tempo eu ainda tenho vontade de beijá-lo, como agora... Agora que sabemos o que fazer com as mãos e onde colocar a língua. Ele ainda me atrai e me deixa desconcertada a ponto de querer enfiar a cabeça no chão.
            — Mas já?
            Mike se afasta rapidamente. Olho para a porta do quarto e vejo uma Gabi se divertindo com nossa situação.
            — Não é nada do que você está pensando, Gabrielle! Não viaja.
            — Isso é o que todos dizem, Ali. — ela se diverte saindo do quarto.
            — Não pense bobagens! É serio caramba! Eu só estava tentando tomar meu sutiã. — Explico caminhando atrás dela.
            Acabo de chegar à casa da pessoa e ela já me encontra aos mínimos centímetros com seu irmão.
           Cadê os modos Alice?
          
— Foi realmente uma rapidinha? — ela para de frente para mim prendendo uma risada.
          — Você e o seu sarcasmo. Não é atoa que é irmã daquele ser insuportável! — digo impaciente. — Da para me levar a sério? Não quero que pense que estou afim do seu irmão ou que vim para o Rio para me pegar com ele!
           Foi coisa da infância. Coisa de criança. Essas lembranças deveriam fazer eu e ele rir e não ter vontade de sabermos como seria a sensação agora que estamos mais velhos.
           Gabrielle respira fundo e põe as mãos dramaticamente nos meus ombros.
           — Tudo bem, amiga. – começou. — Eu não ligo. Mesmo assim seria maravilhoso ter você como cunhada. — Terminou as últimas palavras descendo a escada.
           — Gabrielle! — a repreendo.
          Quando voltei para o quarto Mike já não estava mais. Dei uma pausa e quando vim terminar de arrumar as minhas malas a noite já se mostrava presente. Gabi me chamou para jantar, mas eu só precisava de um banho, conversar com a minha mãe ao telefone e cair direto na cama.

 Gabi me chamou para jantar, mas eu só precisava de um banho, conversar com a minha mãe ao telefone e cair direto na cama

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