03. | Início do caos.

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— Cadê o Jack? — Mais um suspiro.

— Halley.

Engoli seco e me virei para seu corpo parado a poucos metros do meu, cruzei os braços e tentei dessa forma não deixar meu medo e desconforto visível pelo o que viria a seguir.

— Eu preciso que você me escute. — Começou, sua postura emanando calma. Um sorriso debochado e impaciente moldou meus lábios, recuei um passo assim que ele avançou um na minha direção e quase gritei:

— Fale logo que merda aconteceu! — Minhas narinas alargaram com força no mesmo instante que meus olhos arderam, coléricos.

Eu vi vermelho, eu comecei a sentir meu medo aos poucos transformando-se em raiva. Cada minuto era como um gatilho para mim e ele pareceu perceber, Hayden suspirou fundo e me fitou com uma falsa expressão de serenidade.

— Aconteceu um acidente. — Num ato incontrolável do meu corpo, minhas unhas penetraram na minha pele.

— O que isso tem a ver com o Jack? — O arrepio que percorreu minha espinha quando ele me deu um olhar tenso e penoso fez toda a minha estrutura retesar e estremecer.

Hayden suspirou, desviando nossos olhares por uma fração de segundos que só me deixaram mais nervosa. Mas no momento que ele olhou no fundo dos meus olhos, eu tive a certeza que as palavras que saíriam dos seus lábios me quebrariam.

— O jatinho que ele estava caiu, não foi encontrado sobreviventes. — O ar se esvaiu dos meus pulmões. A sensação de fraqueza abraçou meu corpo e tudo se tornou um nevoeiro assíduo e silencioso depois que ele anunciou: — Jack está morto.

 A sensação de fraqueza abraçou meu corpo e tudo se tornou um nevoeiro assíduo e silencioso depois que ele anunciou: — Jack está morto

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Quando despertei não abri os olhos de imediato, minhas lembranças, no entanto, já haviam sido recobradas a muito tempo. Antes mesmo de eu sequer abrir os olhos. Eu sabia que iria acordar de um pesadelo e entrar em outro pior, muito pior por ser real.

Era apenas um pesadelo, não era real, era fruto da minha imaginação. Mas se eu abrisse os olhos ele iria ganhar forma e tudo ao meu redor ia se resumir em tristeza e olhares penosos sendo dirigidos a mim.

E eu não queria isso. Eu não suportava olhares de pena. Eu odiava qualquer coisa interligada a pena.

Porque pena me levava de volta a anos atrás, mas especificamente a dois anos atrás. Pena fazia eu me odiar. Pena era o olhar que a maioria das pessoas te davam quando viam o quanto fodido você estava.

Eu não queria ter que abrir os olhos e sentir a culpa e o arrependimento me corroendo por não ter ao menos me despedido dele. Eu não confiava em mim, eu não sabia o que eu faria logo depois de abrir os olhos e ser abatida pela realidade. Eu sentiria raiva? Tristeza? Tristeza que depois se converteria em raiva? Eu perderia o controle?

Eu já tinha perdido o controle e nem havia aberto os olhos ainda.

Como se a vida quisesse me ver sofrendo, eu abri os olhos subitamente. E um soluço rasgou minha garganta e ecoou por todo o âmbito. O odor antisséptico invadiu meu olfato, a claridade hospitalar me atingiu como um flash e meus olhos reclamaram.

Eu comecei a chorar tão alto que rapidamente o corpo esguio de Sam surgiu na porta e logo atrás o de Raven. Eles vinheram até mim tão rápido que só me dei conta quando notei os braços de ambos ao meu redor enquanto sussurravam sentirem muito pela minha perda.

Eu não queria que ninguém sentisse muito.

Era muita doloroso e humilhante.

Mas, de repente, esses sentimentos se esvairam como pó no instante que um outro corpo se projetou na porta. Esse era mais alto e forte, a aura feroz emanando ao seu redor, as íris me fitando sem expressar nada.

E em um segundo a tristeza se transformou em raiva e explodiu dentro do meu peito.

Me libertei do abraço apertado dos meus amigos para gritar com toda a força e ódio:

— Isso é culpa sua!! — Era uma mistura insuportável de sentimentos que me atingiam de só uma vez. Aquilo podia me sufocar e estava me sufocando. — É tudo sua culpa, seu maldito bastardo!

— Halley! Halley, para!! — Samuel segurou meus ombros com certa força, forçando meu corpo a ficar parado contra minha vontade, enquanto Hayden desviou o olhar para o piso envernizado do quarto.

Eu olhei para Samuel, minha respiração errática surtindo um ruído violento ao se colidir com o ar. Me controlei para não gritar com ele por estar me segurando e tentei explicar o caos formado na minha cabeça.

— Se Jack não tivesse ido atrás dele nada disso teria acontecido, Sam. — Meus olhos lacrimejaram e eu me vi a beira do precipício de novo. — Eu não quero um irmão se eu não tiver o meu pai!! Eu não preciso de um bastardo na minha vida!! — bradei e Sam tomou meu rosto entre suas mãos frias.

Eu quis sorrir ao contemplar por soslaio o semblante de Hayden contorcer-se em raiva, mas não consegui. Não consegui me divertir do ódio dele, da ferida visível dele porquê eu estava triste demais para isso.

Minhas lágrimas desciam copiosamente pela minha bochecha.

— Amiga, você precisa ficar calma — Sam sussurrou e neguei com a cabeça. — Ele não tem culpa de nada, ninguém tem, para de querer colocar a culpa nas pessoas, Halley. — Samuel disse tentando manter a calma e o olhei depois de um tempo.

Meus pensamentos eram um nevoeiro denso, mas mesmo vendo vermelho, mesmo com tanta raiva acumulada no peito, me forcei a raciocinar aquelas palavras. Quando respirei fundo as lágrimas tornaram a borrar minha visão e me esforcei a sussurrar:

— Tira ele daqui. — Samuel olhou brevemente para Hayden que não hesitou em dar as costas e sair calmamente, como se estivesse debochando de mim.

Meu sangue voltou a ferver e a lágrima que escorreu pelo meu rosto foi de raiva.

Desgraçado.

Maldito.

Se ele ficar na cidade, se ele ficar perto de mim, eu vou fazer da vida dele um inferno.

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⏰ Last updated: Jul 22, 2021 ⏰

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