Porém, assim que esse pensamento cruzou sua cabeça e seu cérebro o associou com a letra da música que tocava ao fundo, uma risada quase histérica escapuliu por seus lábios. Era uma péssima piada de humor ácido, ela sabia disso, mas não tinha outra opção a não ser rir da desgraça que aconteceu há 27 anos e como isso estava sendo basicamente descrito na canção que era "hit" nos últimos meses. Olhando para as caixas de som, Lauren tentou até cobrir a boca com a mão para abafar as gargalhadas, mas não conseguiu.

Seu riso consequentemente atraiu a curiosidade de clientes humanos que estavam por perto, também querendo se embriagar e ouvir histórias alheias para esquecer as vidas miseráveis que possuíam. Lauren não planejava ter tamanha audiência na medida em que contava sua história, enrolando a língua em determinadas partes por já estar consideravelmente alcoolizada. À sua esquerda, uma caipira de cabelos amarelo-milho escutava tudo com uma expressão de "Que porra é essa?!"; à sua direita um velho calvo britânico continha os olhos arregalados enquanto encarava a narradora gesticulando animada; atrás mais curiosos se reuniram, em pé, com as bebidas esquecidas nas mãos e com os rostos franzidos de incredulidade pelo o que ouviam; e à frente, o barman moreno havia até buscado uma cadeira para si, a fim de não perder nenhum detalhe quando não tinha outros clientes para atender.

E foi assim que eu morri. – Lauren concluiu toda a trajetória após expirar o ar dos pulmões e dar de ombros, tranquila.

Enquanto a mulher jogava mais um gole de uísque na boca, as pessoas que ouviam atentamente sua história se entreolharam por rápidos segundos, com os rostos repletos de descrença e confusão. Pelo menos dez pessoas haviam parado o nada que faziam e se destinaram a escutar o romance trágico da narradora, que, de acordo com ela, ocorrera na década de 80, fora regado de superações, desafios, e que findou com a morte da mesma.

– Você morreu?! – a caipira loira semicerrou os olhos, não sabendo se era a bebida falando ou não. – Você morreu por um atirador que entrou na Universidade que estudava em 1986?!

– Sim... – Lauren fez um afirmativo com a mão para a mulher ao seu lado, dando um sorriso calmo.

– Metaforicamente, certo?! – o barman tinha o cenho franzido, desconfiado. – Você morreu metaforicamente falando?

– Não, eu literalmente morri mesmo. – Lauren o respondeu como se aquilo fosse óbvio.

Mais uma vez os bebuns ao redor dela se entreolharam duvidantes, se perguntando qual era o tipo de droga que a mulher havia ingerido e se, algum dia, teriam coragem de experimentar.

– Mas.. como?! – um ruivo perguntou, atrás dela.

– Ué... eu levei a porra de um tiro nas costas. Como esperava que eu sobrevivesse?! – Lauren virou-se o suficiente para encarar o adolescente que provavelmente não tinha idade suficiente para estar ali.

– Isso é uma daquelas Lendas Urbanas que estão fazendo sucesso?! – o barman a olhou de lado, meio desconfiado.

– Não. Eu tenho cara de loira do banheiro?! – a mulher de íris verdes ergueu uma sobrancelha, sarcástica.

– Espera... – o calvo britânico, à direita, atraiu a atenção para si. – Como você literalmente morreu e continua aqui?! E, pior, como você teria essa fisionomia se tudo aconteceu nos anos 80?! – o velho soluçou, com o sotaque bêbado. – Eu nasci em 1958, tinha 28 anos na época, e olha minha cara agora!

Um coro de "yeah" em concordância ressurgiu da platéia ouvinte e eles então encararam Lauren, esperando uma resposta. A mulher, no entanto, apenas deu um sorriso de lado e tomou o restante do enésimo uísque da noite.

Over The DuskOnde histórias criam vida. Descubra agora