capítulo 1

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Tudo começou em uma manhã fria de outono. Ao olhar da janela, estranhamente não vi os empregados no portão de casa. Pensei que Madeu, meu pai, tivesse chegado e escolhi não dar atenção. Então peguei a cesta de roupas sujas e fui saindo pelo beco entre os muros altos de minha casa e a fazenda Drelvy.

 Chegando na porta dos fundos, avistei Filipe e sua mãe, sra. Ana, no final do beco e início da estrada e resolvi me aproximar. Era incrível como eu me animava em vê-lo e o quanto sua mãe me tirava esse ânimo com seu jeito autoritário e arrogante.

 — Desculpe mamãe, Liz. Ela está sobrecarregada comandando a fazenda sozinha. Aliás, por isso viemos esperar meu pai aqui.

 — Não me chame de mãe. — reclamou a sra.

 — Então, sr. Frederick não voltou? Estranho... Não vi empregados no portão de casa.

 Já fazia um mês que o pai de Filipe e alguns empregados saíram de viagem. Como nunca ficaram tanto tempo fora, a sra. Ana preocupou-se, ainda mais vendo que não chegariam neste dia.

 Ela era uma mulher alta de cabelos ruivos pintados de preto e usava roupas coladas e salto numa fazenda. Ela não estava sobrecarregada, só não queria trabalhar. E se aproveitava da bondade de Filipe. Com seus olhos azuis, cabelos ruivos e sardas, Filipe nem parecia ser filho dela. 

 De repente, a sra. começou a chorar, dizendo lembrar-se dos perigos existentes na floresta que nos cercava. Filipe rapidamente foi a ajudando a levantar, enquanto eu virava o rosto aos olhares dele. Eu não iria ajudar alguém que rejeitava e se aproveitava do próprio filho. Fui entrando pelo portão principal.

 Contudo, o que ela falou ficou na minha cabeça, pois meu pai estava naquela viagem.

 Entrando, surgia a passarela de madeira com flores negras, que seguia até o casarão. Perto do portão estava a Área de Vendas. Do lado esquerdo da passarela, o celeiro e o galinheiro. Do lado direito, o estábulo, os silos e a horta atrás da casa de ferramentas.

 Mesmo a relação de meu pai e eu não ser pior que a de Filipe e seus pais, também não era fácil. Por ser mordomo no casarão, meu pai me negava dormir na fazenda e me deixava sozinha. Mas, aos meus 8 anos (quando comecei a trabalhar), ele fez um acordo com os srs. para que empregados me vigiassem quando ele viajasse. Desde então, ele sempre viajou. Cresci praticamente sozinha; nada saberia sem dona Rosa. Mesmo assim, a demora dele me preocupou. Apesar de tudo era meu pai.

 — Sra., quais perigos existem na floresta?

 — O que?! Não, nenhum. Falei no calor do momento. Não pense nisso. Madeu, o seu pai, o mordomo, ele vai voltar logo. Não se preocupe.

 Com o jeito que ela disse, eu fiquei qualquer coisa menos despreocupada.

 Indo para os tanques atrás da cozinha dos empregados, avistei Virgínia me esperando ansiosa.

 Ela era linda: tinha um olho azul e o outro verde, e um corpo belíssimo. Ficava bonita até no macacão (nosso "uniforme"). Ah, seu nariz não era defeito.

 Sem nem dar "bom dia", quis saber se uma carta de amor foi entregue para Filipe. Como amiga dele, sabia que ela não o merecia, então fingia ajudar.

 — Como ele não quis receber?! É sua culpa! 

 — O que?! Eu tô querendo lavar as roupas em paz e você tá me atrapalhando. Não. Fiz. Nada.

 — Exato! Não fez nada.

— O que você quer dizer?

— Já faz um tempo que... Eu quero perguntar uma coisa, Liz... Olha pra mim, vai, me escuta. Você gosta dele?

A Sétima Poção (Pausado)Where stories live. Discover now