Deslize

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Já haviam se passado três semanas desde o dia em que eu e Stone havíamos transado em sua casa. Nesse tempo, trocamos algumas mensagens, nos esbarramos em algum lugar, mas nada muito importante ou significativo. E com isso quero dizer, nada que pudesse somar algo na ilusão que minha mente criou para mim e para ele. Eu gostava dele. Eu gostava do seu jeito autoritário e ao mesmo tempo suave. Eu gostava do seu sorriso. Eu gostava da sua voz. Eu gostava dos seus abraços. Eu não só sentia tesão por Stone. Eu o amava. Droga, eu o amava. Eu nunca tinha associado ele a palavra amor, mas hoje eu vejo que é a palavra que mais o define dentro de mim. Amor. O problema do amor, é que ele não vem em pares. Eu sequer sabia o que passava na cabeça dele. Eu não sabia se ele gostava de mim, se só se sentia atraído por mim, eu não sabia se ele ainda era capaz de amar alguém além da Allison. Peta, você nunca aprende, não é? Sempre se apaixonando por caras errados. O ruim é que, às vezes, os erros beijam bem. Fodem bem, também. E aí você se vê numa vontade incontrolável de errar. Era assim que eu me sentia com ele. Eu poderia estar errando ao me apaixonar por alguém como ele, mas, ironicamente, eu gostava de ser errada. Meus pensamentos foram interrompidos pelo toque do meu celular, que estava bem ao meu lado na minha cama. Eu não acreditava que estava deitada na cama em plena sexta-feira à noite. Hoje era um dos dias mais agitados na Onix e eles deveriam estar precisando de mim. Mas, pela terceira vez essa semana, eu estava enjoada e com tontura demais para isso. Peguei o celular e vi que quem me ligava era Sharna. 
- Oi, amiga. – Disse, enquanto ouvia a voz afetada de Sharna me perguntando o porque de eu não ter ido trabalhar de novo hoje. – Meu amor, eu só não estava me sentindo muito bem, será que você não sobrevive mesmo sem mim? – Ri ouvindo Sharna me xingar de vadia, dizendo que era preocupação e que eu era a pessoa mais ingrata do mundo. – Amiga, agora já estou bem melhor. Pode ficar tranquila. Só estou com preguiça de fazer algo pra comer. – Fiz uma careta, como se ela pudesse me ver.Sharna então me convidou para ir à sua casa, e disse que faria meu prato favorito, bacon e ovos, enquanto ela matava a saudade de mim. – Por essas coisas que eu digo que você é a melhor amiga do mundo, sua vadia. – Gargalhamos juntas. – Vou me arrumar para ir, amiga. Beijo. – Desliguei e joguei o celular, pegando minha toalha e adentrando o banheiro. 

- Tenho que te dizer que odeio o fato de você demorar tanto pra se arrumar, senhorita Stevenik. – Sharna abriu a porta pra mim já reclamando. Entrei e abri os braços para ela, que me abraçou forte rindo, o que me fez rir também. 
- Amo quando consigo cortar suas reclamações com abraços. – Dei um tapinha na sua perna, me encaminhando para o sofá, onde me joguei em seguida. 
- Deixa de ser folgada, Peta. – Senti um tapa na minha bunda e levantei a cabeça rapidamente. – Vamos para cozinha, não vou ficar lá sozinha, né, sua lerda. – Revirou os olhos e eu estiquei minhas mãos para ela me ajudar a levantar do sofá. Ela me puxou com um pouco de esforço pelo fato de eu não estar facilitando. – Tá gorda, hein, amiga... Daqui a pouco você nem levanta mais. – Dei um empurrão em Sharna e lhe mostrei o dedo do meio enquanto andávamos pra cozinha. Assim que chegamos lá,Sharna começou a preparar a comida e eu me sentei no balcão. Ela me olhou reprovadora. Sharna odiava o fato de eu sempre sentar no balcão. 
- Nunca vou aprender a sentar nas cadeiras, amiga. Desculpa. – Mandei um beijinho no ar para ela, que riu paciente. 
- Amiga, eu estou realmente preocupada com você... Você faltou ao trabalho três vezes essa semana e eu sei que você não deixa de ir trabalhar por qualquer besteira. Você já foi ao médico? – Eu tentei prestar atenção no que ela falava, mas os cheiros dos ovos e do bacon ficando prontos estavam me deixando com um pouco de agonia. 
- O que você disse? Não consegui prestar atenção... Foi o cheiro da comida. – Ela me olhou e arregalou os olhos, como quem estivesse acabado de descobrir algo. Mas em poucos segundos ela voltou a sua feição normal e eu decidi não perguntar o porquê daquilo. 
- Quero saber se já foi no médico, Peta. – Saltei do balcão e fui até perto dela, para ajudar a servir a comida. 
- Eu estou bem... Deve ser só mal estar por conta do calor, não sei. – Dei de ombros, me sentando à mesa junto com Sharna. O cheiro da comida preencheu minhas narinas novamente e, dessa vez, o enjoo foi mais forte do que eu esperei. Levantei correndo para o banheiro, que era próximo dali, e vomitei. No mesmo instante, Sharna saltou da cadeira onde estava e foi até o banheiro correndo, segurando meus cabelos para me ajudar enquanto eu estava lá, despejando tudo o que havia comido. 
- Amiga, eu não sei, mas... Você já pensou na hipótese de ser gravidez? – Ela perguntou quando eu já havia me recomposto e estava deitada em sua cama. À medida que escutei as palavras saírem de sua boca, a série de fatos que comprovavam que ela estava certa passaram pela minha mente. Eu estava com tontura, com enjoo, havia transado com o Stone e... Puta que pariu! 
Entre transar com um homem maravilhoso e que eu desejava o tempo todo e lembrar de avisá-lo que não estava tomando anticoncepcional, eu tinha certeza de que, além de fazer uma das maiores burradas da minha vida, é, eu estava grávida. 
- É, amiga... Levando em conta a minha cabeça fraca... Parabéns, você vai ser titia. – Sorri e nós nos abraçamos forte. Eu estava extremamente feliz pela gravidez. Eu sempre quis ser mãe, sempre quis ter a minha família. Aquilo, para mim, era um presente e eu poderia gritar isso para o mundo inteiro ouvir, se não houvesse o furacão Stone. 
- O pai é o Stone, não é? – Sharna perguntou, fazendo cócegas na minha barriga. – Você vai ter um filho do cara que você ama, isso é bom demais. – Deitou do meu lado. – E não sei se devo perguntar, mas.. Como isso aconteceu? Você costuma se prevenir... 
- Eu tinha parado de tomar os remédios e assim que comecei, eu ia contar a ele. Só que ele não me deixou falar, depois eu acabei não lembrando e deixei ele gozar dentro de mim mesmo assim. E, sim, amiga, é demais. Mas eu não sei se ele sequer gosta de mim... Acho que ele não vai amar mulher nenhuma como amou a Allison. Também não sei se ele queria ter um filho agora. Como que eu vou contar pra ele? Eu tenho medo dele não reagir bem... – Me encolhi um pouco na cama e Sharna se sentou novamente, deitando minha cabeça em seu colo. 
- Amiga, vai dar tudo certo. Você vai conversar com ele, explicar o que aconteceu e ele vai reagir bem, sim. Vai dar tudo certo, flor. – Beijou minha testa e eu sorri. Enquanto eu tivesse a minha melhor amiga comigo, eu poderia enfrentar qualquer coisa sem medo algum. – E sobre ele gostar de você... Eu meio que tenho uma confirmação. – Soltou um risinho e eu sentei de frente pra ela, animada. 
- Como assim, amiga? 
- Bom, na noite que você e seu amorzinho transaram, o amigo dele foi a Onix. Ele estava parado na entrada, parecia que estava com medo de entrar. – Riu. – E como eu estava saindo, acabamos nos esbarrando. E eu me lembrei dele na delegacia. Depois de me olhar da cabeça aos pés, ele me reconheceu. E quando ele se lembrou de mim, ele ia indo embora...

Flashback.

- Hey! Você não é o amigo do Stone? Acho que não nos apresentamos direito na delegacia... – Sharna segurou em seu braço, descendo a mão por ele e sorrindo de canto. 
- Já eu acho que nos apresentamos, sim. Sou um policial e você, uma prostituta. É só isso que devemos saber um do outro. – Valentin respondeu rápido, encarando os olhos da ruiva a sua frente. 
- Meu nome é Sharna Miller. Talvez você pudesse me dizer seu nome também, policial. Não vai te fazer nenhum mal, te garanto. – A mão que estava nos braços de Valentin, passou para seu ombro, descendo pelo seu peitoral. 
- Talvez perder tempo aqui conversando com uma pessoa que, claramente, não quer falar com você te faça mal. Já pensou quantos homens perdeu, conversando aqui comigo? – Val sorriu irônico, e percebeu que a mão de Sharna havia subido para seu pescoço. Sharna colou a boca em sua orelha e soltou uma risada baixa. 
- Eu pensei que poderia ganhar um homem conversando com você, mas pelo que estou percebendo, você não é muito de atitudes. Mal consegue dizer seu nome... – Sharna beijou levemente o pescoço de Val e logo sentiu uma mão apertar sua cintura e a outra agarrar sua nuca. O beijo que Val lhe deu não era esperado pela garota, que soltou um pequeno gemido pela surpresa. Val chupava a língua de Sharna, que mordia os lábios dele sempre que podia. Suas mãos subiam e desciam pelas costas dele, enquanto a mão dele não se decidia entre a cintura e as coxas de dela. Val a empurrou até que o corpo dela encostasse-se à parede que havia próximo a eles, quebrando o beijo em seguida. 
- Valentin. Valentin Carter, muito prazer. – Disse sussurrado no ouvido de Sharna antes de virar as costas para ir embora. 
- Quando te vejo de novo, Valentin Carter? – Sharna falou entre seus ofegos, sorrindo. 
- Nunca mais. Já tenho um amigo apaixonadinho por sua amiga. Não preciso manter qualquer tipo de relação com você. – Murmurou enquanto caminhava, como se nada houvesse acontecido. 

Fim de flashback.

- NOSSA, SHARNA, VOCÊ PEGOU O AMIGO DO STONE E NÃO ME CONTOU. – Gritei e ela riu. – Bem que eu te falei quando a gente saiu da delegacia que você tinha olhado demais para ele. EU FALEI! 
- Ai, amiga, eu não contei porque não queria que você ficasse me zoando... Sabia que você iria se lembrar disso que você acabou de falar. Mas, enfim, foco na última parte. Ele disse que o amigo dele estava apaixonadinho por você. – Sharna cutucou minha barriga, sorrindo, e eu sorri junto. Eu agora tinha uma esperança. E era aquela esperança que ia me acompanhar na hora de contar a Stone que nós dois vamos ser pais.

Desír CharnelOnde as histórias ganham vida. Descobre agora