Prólogo

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Recomendação musical da Chefe: *Ocean eyes -Billie Eliish*
"06horas05min"

Em pânico.

Como se todo o ar do mundo houvesse sido roubado em alguns segundos.

Tendo a desesperadora sensação de que se eu não levantasse de meu travesseiro, o sufoco agoniante continuaria aumentando até que meu corpo se cansasse e se rendesse a escura imensidão que me engolia.

Eu podia descrever milhares e milhares de vezes -se me perguntassem-, como era acordar todas as manhas procurando os resquícios de um pesadelo esquecido, tentando entender de onde vinha todo esse pavor. Observando cada canto de meu quarto em busca de alguma solução, ou apenas me certificando de que não havia nenhum perigo por perto além de minha própria imaginação.

A adrenalina que aos poucos ia partindo, permitia que meus sentidos voltassem ao normal, apenas para dar espaço ao enjoo que prevalecia em minha garganta.

Ainda sentindo os lenções que se desgrudavam de minha pele a medida que eu me levantava as pressas. O chão gelado junto ao meu corpo quente por conta dos grossos cobertores causava, gradativamente, um choque térmico enquanto eu caminhava desesperadamente até o banheiro.

Podia ao fundo ouvir o som dos trovões que estrondavam em harmonia com a escuridão dos céus e perante o raio que rasgava as densas nuvens, iluminava o trajeto que minhas pernas faziam ajoelhando-se em frente o vaso branco de porcelana, onde outrora faria sua função se ao menos saísse alguma coisa de me estômago. E enquanto eu ajeitava minha postura limpando a saliva que escorria pelos cantos de minha boca, ouvia as gotas agressivas que batiam contra a única passagem de luz daquele ambiente.

Meu corpo aos poucos deixou-se sentar sobre o chão ainda gelado, sem mais nenhuma energia de regurgitar todos e quaisquer líquidos vendo que não existiam. Minhas mãos subiram sobre meus braços, sentindo cada sensação cada vez mais intensamente, onde eu tentava me acalmar abrancando-me com força.


Meus olhos ardiam, minhas mãos apertavam ainda mais meus braços em volta de meu corpo, meus ouvidos zumbiam alto, meus joelhos pulsavam pelo choque de ter me jogado sobre chão, mas eu ainda sentia em cada célula de meu corpo: a sensação.

A sensação assim que eu fechava meus olhos.
De estar afundando num profundo mar escuro, solitário. Onde meus lábios se comprimiam tentando, em vão, impedir que a água entrasse, que eu me afogasse, apesar da dor que parecia querer explodir minha cabeça a cada segundo, onde eu ainda permitia que houvesse esperança de ser salva. Meus olhos voltavam-se para o alto, percebendo que distanciava ainda mais da luz. Minhas mãos pareciam estar amarradas em minhas costas, como se um peso puxasse-as para mais longe da superfície.

Mais longe de alguém me tirar dali.

Sem milagre, sem destino, sem esperança.
Repetindo e repetindo.

Devastando cada barreira que eu havia construído, cada muro que ainda me protegia. Cada sonho que eu ainda guardava. Cada alicerce que me segurava para não cair, cada âncora que permitia não me perder. Cada gota de vida que ainda me restava.

E somente essa sensação que me restava ao abrir os olhos, procurando em cada canto os resquícios das memorias que se perdiam em meus sonhos, apenas se tornando um deles. Apenas se esquecendo com eles, assim que se acabavam.
Assim que eu acordava.

Minha cabeça aos poucos parava de girar, assim caindo para trás, ainda sentido a ardência em minha garganta.

O suor que escorria gelado em minha pele me mantinha acordada, apesar de se arrepiar em cada lugar que passava. Aos poucos meus sentidos voltavam, a realidade novamente tomava controle da situação e mesmo que minha respiração ainda estivesse um tanto alterada, eu sentia finalmente que estava segura.

Devagar eu me levantava do chão, procurando meu chinelo, que nessa brincadeira, fora chutado para qualquer canto do quarto. A cama desarrumada me chamava mais uma vez para me deitar nela, um convite tentador, mas o relógio digital sobre o criado-mudo não permitia que eu dormisse novamente.

Afinal, ainda tinha aula.

E eu precisava tomar um banho.

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⏰ Last updated: Jul 11, 2021 ⏰

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InsaciávelWhere stories live. Discover now