Chuva na inocência

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Garotinha doce demais
A conheci numa noite de chuva
Caída na lama
Seu vestido esfarrapado,
Seu olhar pedia socorro
Seu belo cabelo encaracolado
Sujo como o chão.

Toquei a mão dela, era calejada
"Vem comigo vem"
Levantou-se cambaleante
E me seguiu atordoada
A chuva parava parcialmente
Enquanto iamos para casa.

Descobri que ela tocava piano.
Nunca soube de onde vinha,
mas seu sorriso me cativava
Enquanto suas mãos seguiam
Compenetrada dedilhava.

Só usava vestidos
Falava como se fosse de outros tempos
De vez em quando fitava a parede
Como que lembrando do passado
Ou vendo o que eu não via.
As vezes me chamava de mãe
Antes de dormir ao meu lado.

Seu choro era estranho
Quando tinha pesadelos
E acordava suando frio,
Corria para vê-la
Dizendo que estava tudo bem,
Ela me olhava nos olhos
Desmentindo minhas palavras
Então voltava a dormir.

Extremamente silenciosa
Só falava o necessário
Gostava de ficar sozinha.
Nunca falou com mais ninguém além de mim,
Assustada, parecia ter medo de sua sombra,
E do meu jardim.

Foi numa tarde escura
O céu estava nublado
Uma tempestade se aproximava.
Saiu de casa um pouco estranha
Observei surpresa ela sair tristonha
Em direção ao Jardim.

Vi ela destruir uma rosa
E seguir em frente.
Gritei quando ela caiu
A Rosa sangrava,
Fui correndo vê-la
Tomei-a em meus braços
Seu rosto pálido e frio
seu coração como um relógio defeituoso.
Mostrando as horas pela última vez.

Começou a cair uma chuva fina
E depois aumentou
Misturando-se com minhas lágrimas
Gritei ao Universo.
A dor começou a se espalhar.
O ocaso caiu sobre nós.

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