Epílogo

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Eu sempre odiei hospitais.

Eu os odiei ainda mais quando passei um ano inteiro entrando e saindo de um.

Eu ainda conseguia me lembrar daquela noite na casa de Valentina quando minha visão foi nublada por um halo escuro. O peso do meu problema degenerativo caiu sobre meus ombros naquela noite e eu nunca poderia esquecer isso.

Eu havia desmaiado mais uma vez, eu tinha me transformado em uma massa trêmula, chorosa e assustada, mas Valentina nunca saiu do meu lado.

Ela estava encarregada de manter todas as minhas peças juntas. Ela assumiu a responsabilidade de me trazer de volta à terra quando meus pensamentos vagavam por lugares escuros.

Foi difícil aceitar o que estava acontecendo comigo. Eu comecei a me odiar, passei a odiar absolutamente tudo que estava perto de mim. Até tentei desistir do tratamento... Mas ela sempre estava lá. Ela nunca foi embora...

-Juliana Carvajal? _a enfermeira chamou, tirando-me de minhas reflexões.

Fiquei tentada a corrigi-la, mas fiquei quieta. Eu a segui pelo corredor até o consultório médico.

-Já temos os resultados dos exames... _anunciou o médico.

Eu cerrei meus punhos com força, eu estava ridiculamente nervosa. Estava apavorada e ao mesmo tempo, queria com todas as minhas forças que o resultado fosse o que eu queria.

-É positivo. _meu coração pulou uma batida com essas duas simples palavras.

Positivo. Positivo. Positivo. Eu ia ser mãe. Eu ia ser mãe. Eu ia ter um filho. Eu ia ter um filho dela...

-Você está falando sério? Quero dizer, você tem certeza? _minha voz soou trêmula em meus ouvidos.

Olhei para o médico através da armação dos meus óculos volumosos.

-Parabéns. _ele sorriu.

Eu sorri de volta para ele. Uma estranha sensação de plenitude inundou meu peito. Eu não me via carregando uma pequena criatura em meus braços. Eu não conseguia nem imaginar brincar com um menino ou menina. Eu nunca estive perto de crianças, como eu poderia criar uma?...

Meu telefone começou a tocar, me tirando das minhas reflexões. Olhei para o número na tela e recusei a ligação para que pudesse ouvir o médico me dando as instruções.

Ele me encheu de folhetos, comprimidos e vitaminas de todas as cores e tamanhos. Tudo parecia demais.

Eu iria ser mãe?...

Não haviam se passado mais de seis meses desde que fugimos e nos casamos. Minha mãe e Lúcia ficaram com raiva de mim por fazer as coisas dessa maneira, mas não queríamos esperar. Valentina tinha um bom emprego e comprou um pequeno apartamento no centro. Foi uma loucura... Uma completa loucura, mas não me arrependo. Como poderia me arrepender se a amava tanto...

Como poderia me arrepender se havíamos passado por todo tipo de adversidades em nossos quatro anos de relacionamento?...

Meu telefone começou a tocar mais uma vez.

-Oi amor. _falei, porque já sabia quem era.

-O que o médico te disse? _a voz de Valentina parecia urgente e assustada.

Eu odiava ouvi-la tão preocupada.

-Eu preciso te contar pessoalmente, te vejo em casa? _eu estava definitivamente apavorada.

Tínhamos concordado em esperar alguns anos antes de ter filhos.

Como é que ela iria reagir?...

Ainda que Eu Possa te Ver G!PDove le storie prendono vita. Scoprilo ora