Capítulo Único

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— Está atraindo riqueza para o comércio — respondeu Shiori, sem rir junto com a mãe. Voltou a se concentrar na janela, as cores da carruagem voltavam a lhe perturbar.

— Shiori, melhore esse rosto, não se esqueça que está indo se encontrar com seu futuro marido. — A voz grave de Hiro Nagamashi se instalou na carruagem.

A menina forçou um sorriso.

— Sim, meu pai.

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Shiori passou o resto do caminho fingindo estar ansiosa para conhecer seu pretendente.

— Não se esqueça de tudo o que lhe estou dizendo, Shiori. Não é todo dia que se tem a oportunidade de se casar com um futuro daimiô — tagarelou a mãe.

Com um suspiro, reuniu coragem para perguntar:

— Porque eu tenho que me casar com ele? — perguntou, enfatizando a última palavra com um tom amargo.

— Shiori, já conversamos sobre isso — Hiro respondeu de maneira severa. — Nosso clã em breve não será mais útil ao país. Uma nova era está por vir, precisamos pensar na prosperidade da família. Um casamento entre você e o futuro daimiô Jushiro resolveria tudo isso. Agora, recomponha-se, acabamos de chegar.

Mesmo estando triste por sua situação, Shiori não pôde evitar ficar maravilhada com os imensos campos floridos e o castelo com a mesma arquitetura triangular das casas e templos. As flores cobriam o extenso território até o castelo de Soishiro. A carruagem parou e ela logo voltou a si, lembrando-se da árdua tarefa que estava por vir.

Depois de toda cerimônia de boas-vindas ― um antigo procedimento que o Clã Yamaguchi insistia em fazer ao receber suas visitas ―, Soishiro apareceu com seu filho, Jushiro, ao seu lado. Ambos vestiam um haori* com o símbolo de poder do Clã Yamaguchi e estavam impecáveis, com os cabelos longos devidamente presos. O daimiô era baixo e gordo, características da idade e da vida farta.

Shiori estremeceu quando seus olhos encontraram os de Jushiro. Ofegou e desviou o olhar, varrendo toda a paisagem até chegar à morada do daimiô; a porta de entrada estava fortemente vigiada pelos samurais, que permaneciam parados ali com uma postura firme em suas armaduras e no cinto a temida katana*, acompanhada da wakizashi*, sendo ambas espadas usadas em combate, porém com diferentes finalidades. O uso conjunto dessas armas é chamado daisho*.

Apesar da imensidão das terras férteis, o ambiente tornou-se cada vez mais claustrofóbico para a menina. No entanto, a ansiedade deu lugar ao choque, quando finalmente entrou na imensa propriedade de Soishiro. Ficou boquiaberta com tamanha diversidade de objetos raros em exposição para os convidados. Estava tão distante que sequer percebia seus pais conversarem animadamente com o daimiô, fazendo de tudo para cair nas graças dele. Se conseguissem isso, com certeza entrariam na lista de famílias mais influentes do Japão.

— Gosta das relíquias de meu pai? — A voz grave e característica de Jushiro a despertou do transe com um arrepio. Mordeu o lábio, não queria falar com ele, mas não podia evitar isso para sempre. Estava prometida a ele, afinal.

— São bonitas — respondeu, tentando parecer desinteressada para acabar com a conversa de maneira rápida.

Sua missão falhou consideravelmente.

— Ele ganhou em uma viagem às terras do norte. Veja, este tecido veio do próprio Imperador da China. É algodão. — Ele apontou para um tecido de cor apagada e textura frágil, como se um simples toque fosse fazê-lo partir ao meio e virar pó. Shiori não gostou daquele pano, preferia os lindos panos de seda.

Ao Cair da Flor de Cerejeira [Capítulo Único]Onde histórias criam vida. Descubra agora