Capítulo 5

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DECISÃO

"Peço-te um amor amável,

Para através da vigília constante,

Receber a alegria com sorrisos felizes,

E secar os olhos que choram;

E um coração desapegado de si mesmo

Para acalmar e consolar."

Anônimo

Margaret ouviu com paciência todos os planos da mãe para oferecer alguns pequenos confortos aos paroquianos mais pobres. Não pôde se furtar a ouvir, embora cada novo projeto fosse uma punhalada no seu coração. Quando o frio chegasse, já deviam estar muito longe de Helstone. O reumatismo do velho Simon estaria pior, assim como a sua visão. Não haveria ninguém para ir até sua casa ler um livro, ou confortá-lo com algumas tigelas de sopa e uma boa toalha vermelha. E se houvesse, seria um estranho, e o pobre homem procuraria por ela em vão. O menino aleijado de Mary Domville também se arrastaria em vão até a porta, esperando que ela chegasse através da floresta. Esses pobres amigos nunca entenderiam por que ela os abandonara. E havia muitos outros como eles. Ela pensava: "O papai sempre gastou a sua renda na própria paróquia. Estou, talvez, antecipando obrigações futuras, mas é provável que o inverno seja rigoroso, e os nossos paroquianos pobres e velhos devem ser ajudados".

– Oh, mamãe, vamos fazer tudo o que pudermos! Não ficaremos aqui por muito mais tempo.

Falara de modo apaixonado, sem ligar para a prudência, e agarrando-se apenas à ideia de que estavam prestando aquela ajuda pela última vez.

– Não está se sentindo bem, minha querida? – perguntou Mrs. Hale, ansiosa, entendendo mal a insinuação de Margaret sobre a incerteza de sua permanência em Helstone. – Parece pálida e cansada. É este ar fraco, úmido, insalubre.

– Não, não, mamãe, não é isso. O ar aqui é delicioso: tem um perfume puro e fresco, depois da fumaça de Harley Street. Mas estou cansada, com certeza já é hora de dormir.

– Não falta muito... são nove e meia. É melhor ir se deitar, querida. Peça um mingau para Dixon. Vou vê-la assim que estiver deitada. Temo que tenha apanhado um resfriado. Ou o ar ruim de algum lago estagnado...

– Oh, mamãe! – disse Margaret, sorrindo debilmente enquanto a beijava. – Estou muito bem, não se alarme por minha causa. Só estou cansada.

Margaret subiu para o quarto. Para acalmar a ansiedade da mãe, aceitou uma tigela de mingau. Estava deitada languidamente quando Mrs. Hale veio perguntar mais uma vez sobre a sua saúde e beijá-la antes de retirar-se para o seu próprio quarto. Mas no instante em que ouviu a porta da mãe fechar-se, Margaret pulou da cama, vestiu-se apressadamente e começou a caminhar de um lado para o outro no quarto, até que o rangido de uma das tábuas do assoalho lembrou-a de que não devia fazer barulho. Então sentou-se, encolhida no banco junto à pequena bay-window. Naquela manhã, quando olhara para fora, seu coração se alegrara ao ver as luzes claras e brilhantes na torre da igreja, anunciando um dia belo e ensolarado. Nesta noite – haviam se passado no máximo dezesseis horas – ali estava ela, triste demais para chorar, mas com um pesar frio e desolador que parecia ter expulsado toda a juventude e alegria do seu coração, para nunca mais voltar. A visita de Mr. Henry Lennox – seu pedido – parecia um sonho, uma coisa distante da sua vida real. A dura realidade era que seu pai acalentara tantas dúvidas tentadoras em sua mente que se tornara um cismático – um excomungado. Todas as alterações decorrentes giravam em torno deste único e destrutivo fato.

Norte e Sul (1854)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora