Capítulo 07

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            Por uma semana eu fiquei - como eu posso dizer - de "luto". Passava o dia todo trancado no meu quarto, saindo apenas para comer, ir à escola e raras vezes ao mercado com minha mãe. Lugar que não me fez muito bem. Pois adorava ir ao Shopping com o Murilo. E sempre que íamos ao Shopping, era lei passarmos no mercado para ele me comprar algo, ficar ouvindo música nos novíssimos toca CD's da época, comer tudo o que era oferecido pelas belas promotoras. Comíamos tanto que, às vezes, elas pediam educadamente para nós nos retirarmos do ambiente. Tirando os passeios pelo mercado, meu gosto pela diversão e pela vida, já não era a mesma coisa. Eu e o Murilo tínhamos uma outra visão de mundo. Nós tínhamos o nosso "mundinho", como costumávamos dizer. Por isso, eu não conseguia achar graça ao sair com meus outros colegas do condomínio.

            Sem falar que estava sentindo falta do meu irmão mais velho e super protetor. Agora eu estava sozinho. Uma semana após a partida do Murilo, fora aniversário do meu verdadeiro irmão. A festa estava boa e lotada de amigos, tinha até mais amigos que eu pude imaginar. Mas faltava algo. Faltava a única pessoa que importava para mim, o Murilo. Passei a noite toda olhando os carros e caminhões que corriam na rodovia de frente ao meu apartamento. De hora em hora, minha mãe vinha me chamar para me socializar com os amigos do meu irmão. Porém, o que ela não entendia, era que aqueles garotos não queriam estar perto de um pirralho como eu. Perto dos amigos dele, o Arthur ficava insuportavelmente chato. Ele permitia que todos seus amigos fizessem piadas sobre mim. Em especial, um garoto da sua idade chamado Breno.

O Breno tinha um irmão gêmeo, idêntico, chamado Bruno. Tão idêntico que por onde os dois passavam, eles arrancavam comentários em geral. Essa semelhança rendera aquele clichê básico de gêmeos, trocar de papéis. Eles sempre brincavam de trocar identidade, enganando meus pais, nossos amigos, professores, as meninas que eles paqueravam. Sempre sob o comando do meu irmão. O Arthur era o cara que planejava e o Breno era o que executava. O Breno e o Bruno poderiam,eternamente, passar despercebidos, se não fosse a diferença drástica de personalidade. O Breno era um garoto que adorava aprontar, mexer com as pessoas na rua, zoar em sala de aula, levava suspensões (sempre acompanhado com meu irmão), era conhecido como o Capeta em Pessoa. Já o Bruno, era um rapaz educado, falava baixo, ria pouco, inteligente, considerado menino exemplo pelos professores. Era adorado pelas garotas pelo seu jeito romântico de ser. Garotas que seu irmão fazia questão de sempre roubar dele. O Breno era o irmão que o Arthur queria ter, assim como o Murilo era o irmão ideal para mim. Quando Breno e Arthur se misturavam, não tinha lugar pra ninguém na roda.

Fiquei servindo de Bobo-da-corte por um tempo e, depois, decidi que aquele ambiente não era pra mim. Principalmente em ver como meu irmão adorava o Breno. Ver os dois tão unidos me fazia o coração doer.

"Será para sempre assim?"

Fui para o meu quarto e mal lembro como dormi. Acordei cedo na manhã seguinte, sentindo vontade imensa de sair de casa. Coloquei uma roupa confortável sai para caminhar até a pracinha do meu bairro. Gostava de ir caminha naquela praça, pois era bem arborizada, tinha uma pista de "roller" bem grande, um trailer onde vendia milho verde e água de coco, bancos de cimento ao centro onde casais de namorados passavam as tarde lá. Cheguei até praça e procurei uma arvore bem grande, onde eu e o Murilo costumávamos subir para conversar.

"Eu não sei ao certo de onde que vem essa paixão que eu tenho pela natureza, mas sei que necessito estar em contato com o verde ou qualquer coisa que me lembre dela. Natureza era outro ponto forte do Murilo. Não que ele gostasse e admirasse tanto quanto eu, mas ele arrumava uma maneira de nós irmos até um sítio ou chácara e se aventurarmos no meio da mata."

MEU CORPO É MUITO PESADO!!!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora