🌊

860 166 176
                                    




A água lambia nossos joelhos enquanto Kirishima me puxava para o fundo.

— Me solta, Cabelo de Merda! — Detesto a sensação da correnteza puxando meu corpo. Kirishima não, ele parecia amar a possibilidade de uma onda nos empurrar até bebermos o máximo que couber do mar na boca.

— Ah, por favor, Katsuki, é só um pouquinho mais fundo. Eu te dou pé. Por favor? — Ele fez uma cara de cachorro pidonho. Droga.

— Tá bom. Mas se você me soltar eu juro que te afogo!

O pôr do sol no mar não irradiava mais calor que seu sorriso. Por um momento até me senti confortável no mar. Então, uma folha raspou na minha perna e levou o conforto embora, me segurei para não gritar. Não era esse Bakugou medroso que Kirishima conhecia.

— Não vou te soltar, prometo. — Passou um braço na minha cintura e eu deixei ele nos guiar até onde as ondas nasciam.

Pelo caminho, algumas ondas nos empurravam de volta. O mar nunca foi permissivo. Mas a cada empurrão, Kirishima apertava mais minha mão; segurava mais firme minha cintura e ali, eu tinha o conforto necessário.

Ondas pareciam se levantar debaixo de nós. Agora, a água, me fazia flutuar por alguns segundos antes de conceder o chão de volta aos meus pés. Não era tão ruim. Kirishima abriu meus braços, deixei eles flutuarem no nível do mar, mas meus dedos se encaixavam com afinco entre os seus.

— Viu, depois da quebra das ondas, o mar é gostoso, não é?

Ele sorria. Seus cabelos vermelhos como se tivessem enferrujado pelo excesso de mar. Insuportável.

Há 2 meses, esse cara, Kirishima Eijirou, um surfista barato, entrou no quiosque onde trabalho. Lá descobriu uma vaga disponível e, insuportavelmente, meu medo do mar. Começou a trabalhar para Aizawa no dia seguinte como instrutor de surf e salva-vidas temporário. Desde então, sou desafiado a entrar no mar. Ele se gabava dizendo ter o necessário para me ajudar a vencer o medo. Até hoje o odeio por ter descoberto, passei os últimos três anos trabalhando no quiosque sem nenhum problema. Então surgiu essa cabeleira tingida com um sorriso de navalha e este é o resultado: água salgada batendo no meu peito enquanto tento manter a dignidade me concentrando na respiração.

— Você sabe a resposta. — Desviei o olhar. Minha barriga retrocedia a cada calombo do mar, e quando meus olhos encontravam seu sorriso, os calombos pareciam mais altos; o chão longe dos meus pés por mais tempo.

— Mas eu gosto de te ouvir.

O desgraçado do mar levantou uma onda e me empurrou para frente, me jogando no colo de Eijirou. Do nada. Isso era estar vulnerável. Isso era não ter controle. Isso era a porra do mar. Ele soltou uma das minhas mãos e eu segurei seus ombros antes de perceber que ele só soltou para me segurar pelo flanco.

— Ei, eu disse que não vou te soltar, gato. — Muito perto, muito perto, perto demais, perto pra caralho. O mar deixou gotas pelas suas bochechas, elas cintilavam o sol poente. — Relaxa.

Apesar de me provocar a perder o medo do mar, Eijirou nunca se importou com o motivo. Sempre falava sobre amar demais o presente para se importar com passado ou futuro. Já eu estava sempre um passo no futuro com outro no passado. Não entendo como alguém do presente está perdendo seu tempo com alguém como eu. Mas agora, com suas mãos firmes nas minhas costelas e as ondas nos obrigando ao mesmo movimento — simétricos como se tivéssemos algo em comum —, agora eu estou no presente.

— Você não precisa me segurar como se eu fosse uma criança — resmunguei.

— Oh, claro. — Ele desceu as mãos até a minha cintura. Senti o calor do sol queimar meu rosto. — Melhor assim?

Gato D'água | KiriBakuWhere stories live. Discover now