luka

96 10 33
                                    

O barulho da água era a única coisa que quebrava o silêncio. As ruas estavam vazias, iluminadas apenas por postes distribuídos pela rua. Luka caminhava calmamente cantarolando uma melodia muito conhecida por ele que levava o nome de sua amada, a melodia que era exclusivamente dela. Não ousou se quer escrever um rascunho em um papel, ele já tinha decorado cada nota. Também nunca a tocou para ninguém, a não ser para ela.

Fazer aquele caminho era quase ritual que acontecia mensalmente, no mesmo horário, no mesmo lugar e na mesma data. O homem que tinha os cabelos tingidos de azul e levemente bagunçados sentou-se no chão da pequena ponte que cobria o rio em que o Liberdade estava atracado. Era o lugar em que ele trocou as últimas palavras com sua querida Marinette, e agora era lugar em que ele desabafava para o papel tudo aquilo que estava sufocando seu coração. Era um momento pessoal demais, nem mesmo seu kwami, Sass, o acompanhava. 

Luka sempre foi um homem dramático, escrever aquelas cartas era, além de terapeutico, uma forma de aliviar toda a saudade que guardava daquela que partiu seu coração. Eram cartas dolorosas, eram profundas, eram reais e acima de tudo, eram de extrema compreensão, como ele poderia culpá-la? Ninguém pode mandar no amor.

 Luka não conseguiu por sequer uma fração de segundos odiar aquela garota, apesar de tudo, ele a amava incondicionalmente. Mesmo depois de partir seu coração, Marinette continuava sendo a garota mais extraordinária que ele conhecera, tão pura quanto uma nota musical e tão sincera quanto uma melodia. Ele só queria vê-la feliz e prometeu para a doce garota que faria de tudo para que ela mantenha um sorriso sincero nos lábios, inclusive deixá-la ir para os braços de quem ela amava verdadeira.

O garoto parou no meio da ponte, na parte mais alta. Observou a água correr logo abaixo e suspirou. Ele se sentou, largou sua bolsa no chão um pouco atrás de si e começou a vasculhar a bagagem a procura do seu caderno. O problema era que não estava lá, nem sequer um vestígio dele.  Ele se desesperou, olhando ao redor na esperança de achar caído aquele objeto tão pessoal, porém não teve sucesso.

Ele levantou, pegou suas coisas e fez o mesmo caminho de volta para o barco. Ele corria o olhar por cada parte da calçada, tentando encontrar o caderninho surrado. Desistiu quando se viu de frente para a tábua do barco, suspirando. Deu uma última olhada para o chão, encontrando dessa vez um pequeno objeto perto do banco mais próximo, que ficava a poucos metros de onde ele estava.

Andou até o banco, o alívio percorria por todo o seu corpo, não conseguia imaginar o que faria sem aquele caderno, mas ao se aproximar do pequeno objeto no chão todo o alívio que encheu o corpo do garoto se esvaiu na mesma fração de segundo.

Não era seu bloco de anotações, era um pouco mais compacto. Ele pegou o objeto e analisou. Era um celular, alguém descuidado devia ter o esquecido ali. Ele apertou o botão na lateral do aparelho para ligar a tela e então sentiu seu coração sofrer um baque - podia jurar que ele havia parado por um milésimo de segundo.

Era uma foto da Marinette. Ela sorria de forma graciosa, seus cabelos azulados estavam soltos e caídos sobre os ombros. Ela usava um vestido branco com detalhes floridos e uma boina com um tom rosa pastel. Luka estava paralisado, olhando a foto com atenção. Respirou fundo, tentou desbloquear o telefone para avisar aos pais dela ou alguém próximo, mas sem sucesso. Respirou novamente, teria que entregar pessoalmente para a dona. Enfiou o aparelho na bolsa e voltou a caminhar para o barco, desta vez atordoado pela foto que acabara de ver. Com cuidado para não acordar ninguém, passou pelo convés, logo em seguida pela sala comum e enfim chegou em sua cabine.

- Messstre! Foi rápido hoje. - Saudou o kwami inquieto.

-  Você viu meu bloco por ai, Sass? - Luka deixou sua bolsa em cima de uma cadeira, abrindo-a e pegando o aparelho novamente, analisando-o.

- N-não, eu não vejo desssde a última vez que você foi essscrever. Por que eu saberia o paradeiro dele? Eu não vasssculho suas coisssas, Luka.  - O kwami disparou rapidamente, tenso. A pequena cobra não sabia mentir, por ironia do destino. A sorte era que seu portador estava muito ocupado pensando em como iria entregar aquele telefone para Marinette para perceber sua mentira descarada. - O que é isssto? É para mim?

- Não... É da Marinette....

- Marinette? A sua Marinette? - Sass fingiu surpresa.

- Não é mais a minha Marinette, Sass. - O rapaz sussurou, sentindo o coração apertar.

Luka então lembrou de Juleka, sua irmã e amiga de Marinette. Poderia pedir para que ela mesma entregasse o objeto para a dona. Levantou da cama e saiu da cabine.

- Onde esssta indo, Luka? - Sass pareceu assustado, pensou por um momento que o rapaz estava indo entregar o aparelho para Marinette.

- Vou pedir pra Juleka entregar isso. - E então saiu da cabine, indo em direção à cabine de sua irmã.

- M-messstre! Luka! Volte aqui! - Sass voou rapidamente atrás do seu portador, se Luka entregasse o celular para Juleka Tikki o mataria, além de arruinar o plano.

Porém Luka pareceu não dar ouvidos ao Kwami, seguiu convicto até o quarto de sua irmã. Bateu quatro vezes na porta em um ritmo combinado para reconhecimento. Aguardou por alguns segundos, mas não teve resposta. Bateu novamente quatro vezes na madeira que separava a sala comum do quarto da garota e novamente não teve resposta.

Decidiu então entrar no quarto da irmã, pois se preocupou com o que poderia estar acontecendo. Assim que abriu metade da porta se deparou com sua irmã e Rose, a vocalista da banda que ambos faziam parte, deitadas no chão.

Luka apenas observou, com um sorriso no rosto. As duas compartilhavam um fone de ouvido, que estava ligado ao telefone de Juleka. Ambas estavam de olhos fechados, pareciam só curtir o momento. Luka reparou que as meninas estavam de mãos dadas, apertando cada vez mais forte, afagando vez ou outra o punho uma da outra com o polegar.

O rapaz então fechou a porta em silêncio, voltando para o seu convés, sentou na cama e observou o celular.

- O que vai fazer? - Indagou Sass.

- Eu mesmo vou entregar isso para a Marinette. - E então fechou os olhos, temendo o que aconteceria quando seus olhos e os dela se reencontrarem.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jun 06, 2021 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Três Da Manhã ||Short Fic LUKANETTE||Where stories live. Discover now