Capítulo 9

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 O dia caminhava lentamente quando o conselho, no fim da tarde, se reuniu. A pálida luz do sol penetrava as janelas, fazendo armaduras brilharem. O salão do conselho, um espaço circular, mantinha em seu centro um pilar que subia ao topo da torre. Uma escadaria de madeira levava a salas onde os sete anciãos tinham sua moradia. Naquele momento, ocupavam o centro do salão, sentados em baixos tronos de ferro. Pelos contornos, apenas metade dos assentos de mármore estava ocupada. Na porção se sentaram os três reis menores do oeste: Prost de Nitram, Vertes das Torres dos Reis e Berduske de Elmister, trajados com antigas armaduras de guerra. Cada um tinha, na leve capa avermelhada, um broche de bronze em formato de bico de corvo. Em meio aos reis do oeste encontrava-se o rei do norte, usando uma capa de pele de urso cinzento das montanhas, sobre a armadura de bronze. Muitos guerreiros do norte esticavam peles de animais em suas armaduras, reforçando a extrema coragem que demonstravam. Eikki, ao lado direito, apenas trajava uma capa cinzenta e uma túnica palha sem mangas, deixando os largos braços cruzados em volta do peito. Ansur e Gutrune encontravam-se nos bancos acima dos reis.

No canto inferior a eles sentou-se Lamorde, ao lado dos generais de cada reino. Os olhos negros estavam fixos nos anciãos, que levaram armas que um dia portaram e trajes velhos de batalhas, alguns amassados e rasgados, lembrando-os de antigas glórias.

No meio estavam Aduzam e Kerza, com o pequeno Tolien entre eles intimidado pelos olhares.

— Qual o motivo da reunião? — Perguntou um ancião.

Era o velho guerreiro conhecido por Haley Guárter, em sua época apelidado de "herói sábio". Sua espada de cristal élfico repousava a sua direita, banhada pelo sangue de centenas de inimigos. Logo repousara ao lado das outras armas, na parede do salão.

— Eu convoquei a reunião. — Respondeu o mago, olhando o velho guerreiro com o qual se uniu em luta.

— Com que propósito? — Perguntou ele, estudando Aduzam.

— Passei por uma longa jornada. Procurei por Deinakhir em todos os reinos. Ele carregará Schandar e, com ela, unirá os reinos em uma nova aliança.

— O que nos apresenta, mago?! — Retrucou Lamorde, diante do salão. — Um jovem que nunca levantou uma espada?! — Riu-se da própria ironia.

— Esse jovem é Tolien Ragnar, filho de Thomen Ragnar, humilde senhor de terras. Será o portador da Schandar. Os deuses fizeram sua escolha!

Aduzam fez uma breve pausa.

— Ao longo dos anos, muitos buscaram pela espada, sem sucesso. Desses, alguns tombaram no caminho por não serem os campeões dos deuses. Agora, tenho o jovem que será treinado. Ele se aperfeiçoará na arte das armas e da guerra.

— Já busquei tal desejo! — Replicou Haley. — Os deuses me concederam a sorte de sobreviver à jornada sem sucesso.

— Quando o jovem estiver pronto, iniciaremos uma jornada em busca da lendária espada e, se possível, formaremos e estabeleceremos novas alianças com antigos e novos reinos.

— Alianças são necessárias em tempos como o nosso. — Falou Haley. — Sinto, desde a minha juventude, o enfraquecimento das antigas alianças. Se o jovem for o Escolhido dos deuses, com certeza sobreviverá a nossa arena de guerra. Gostaria de ver nosso reino acolher tal desejo dos deuses.

O conselho entrou em discussão. Alguns foram a favor, outros contras. O rei do norte conversava com seu filho e fitava Tolien com um sorriso inexpressivo. Lamorde comentou sua reprovação com os outros generais, que o apoiaram. Tolien estava nervoso diante de todos. Aduzam sentiu seu desconforto e pousou a mão esquerda sobre seu ombro, sorrindo para acalmá-lo.

O ancião levantou a mão esquerda, quando as vozes se alteraram. Em sinal de respeito, silenciaram. Haley quebrou o silêncio.

— Não iremos contra a vontade dos deuses. Uma vez que tentei ir contra, perdi tempo e quase a vida no processo. Se o jovem é o Escolhido e está disposto a se tornar um guerreiro digno de carregar a espada lendária, quero ouvi-lo dizer algo sobre isso.

Tolien franziu o cenho. Olhou para cada um e disse, sem saber como conseguiu pronunciar as palavras:

— Sim! Eu quero seguir o caminho do guerreiro.

Sentiu seu coração explodir dentro do peito de tanta alegria. Seus olhos brilharam diante da oportunidade que os deuses lhe deram em vida.

— Vejo um brilho de vontade em seus olhos! — Continuou o ancião. — O mesmo brilho que eu tinha quando jovem. Porém, está atrasado na idade. Aceitando seu destino, seu treino será mais intenso e não terá mordomias por ser o Escolhido. Será treinado como todos são e com muito mais intensidade.

— Eu e Kerza o instruiremos na arte da guerra. — Disse Aduzam olhando para Kerza, que balançou positivamente a cabeça.

— Eu gostaria de ser um dos seus mestres de armas. — Gritou Eikki, levantando-se do banco. — O norte terá orgulho de representar o Deinakhir.

Odir ficou orgulhoso pela decisão do filho e sorriu como aprovação.

— Se esse é o desejo do rei, somos a favor da vontade dos deuses.

— Será uma honra para Menestron! — Ansur levantou-se, abrindo um amplo sorriso. Fitou o menino friamente. — Seu treino começará logo após o dia da Canção das Espadas. Passará a viver no reino, dentro da arena. Treinará todos os dias com seus mestres. No início, treinará isoladamente. Assim que passar pelas primeiras etapas de treino, você se juntará aos demais jovens; caso desista, será por conta própria e levará a vergonha para fora do nosso reino.

O garoto suspirou, concordando.

— Tolien será um orgulho para Menestron. — Aduzam olhou receoso para o menino. Conhecia como ninguém a crueldade daqueles treinos.

Lamorde olhou fixamente para Tolien. Não acreditava na decisão dos anciãos. "Ansur e o conselho estão loucos", pensou o general. "Como podem aceitar alguém sem sangue de guerreiros?!"

— Mostrarei a todos que esse garoto não passa de um engano. — murmurou para si.

— Que os deuses iluminem seu caminho! — Disse Haley. — Esperaremos para ver seu desempenho nas arenas e desejamos que siga sua jornada podendo ser o Deinakhir de nosso tempo.

Tolien sorriu. Finalmente, seu sonho antigo se tornaria realidade: seria ele o guerreiro que tanto sonhara ser. O mago sentia a empolgação nos seus olhos: via nele o desejo florindo. Esperava que os deuses estivessem certos em sua escolha. 

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⏰ Última atualização: May 24, 2016 ⏰

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