Capítulo 03

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Raffaele

Depois de sair do complexo, pedi ao motorista que me levasse a um bairro em que a ruas nos pertence. Raramente sou visto nas ruas, mas um chefe jamais deixa os seus soldados sem suporte. As outras organizações têm que saber que eu ainda estou no comando, que nada mudou. Caso contrário, teremos mais uma das infinitas guerras por territórios.

Meus pais não aceitaram muito bem o fato de eu estar envolvido com a máfia, mas entenderam que é algo mais forte do que nós, está em nosso sangue. Comecei como qualquer outro soldado, meus primos também. Todos esperavam que nós seguíssemos o legado de nossos ancestrais, mantendo-nos a margem da máfia. Mas queríamos ir além, queríamos comandar o lícito e o ilícito. O desejo não foi somente meu, meus primos também o tiveram. Haniel sempre foi um bom articulador, como o seu pai, e Aniella tem a luta em seu sangue.

Somos uma tríade constituída para comandar, somos o que as pessoas temem em seus piores pesadelos. Não temos problemas em desmembrar um traidor ou atirar na cabeça de um inimigo sem pensar duas vezes; nascemos para isso. Não foi à toa que me tornei o Capo di tutti capi mais novo da organização. Eu tinha instrução, experiência e uma equipe de suporte muito forte. Trabalhamos muito para subir nos dois impérios e hoje reinamos em absoluto, tanto em o nosso clã quanto em nosso território nas ruas.

Conversei com alguns homens, percorri alguns de nossos negócios e me dirigi para casa. Tenho um relatório em minhas mãos que não contém boas informações. A Yakuza derrubou um dos cartéis ao sul e mais mortes se acumulam por aqui. Sabemos que Katsuo está cada vez mais perto, a única coisa que não entendemos é; por que ele não quer apoio de outras facções? Nenhuma é páreo para nos atingir, mas poderiam fazer estragos. Enquanto não descubro a tática do meu adversário vou executando a minha que, no momento, é manter sua atenção em mim.

— Chefe, há um dos homens da Yakuza preso. Quer vê-lo? — um dos meus capitães de rua me informa. — Já o cortamos muito, mas ele fala pouco. Não conseguimos nada além da localização de uma casa, onde quase não há movimentação.

— Leve-me — ordeno.

Caminhamos até uma casa que por fora parece como qualquer outra de periferia, pintura lascada, pátio bagunçado, pessoas "invisíveis" entrando e saindo. Entro no lugar e sou levado diretamente ao porão. Mal adentro e o cheiro de fezes e urina me afligem. No meio do ambiente está a criatura pendurada pelos braços, seu rosto quase desfigurado, corpo coberto cortes e sangue. Aproximo-me e vejo que não durará muito, o restante de sua vida já está se esvaindo.

Ando até chegar próximo a orelha que ainda resta.

— Vou encontrar o seu oyabun e fazer com ele o mesmo que fizeram com você — falo baixo. — Mas ele não terá tanta sorte quanto você, eu mesmo me encarregarei de cobrar cada pecado dele contra a minha família.

O homem cospe puro sangue. Com voz rouca e cansada, responde:

— Ele matará cada um de vocês, malditos italianos.

— Quer me dizer alguma coisa antes de o mandarem para o inferno? — pergunto.

Ele ri.

— Eu te encontrei lá.

Minha vez de sorrir.

— Até daqui a pouco — respondo enquanto enrolo um plástico preto na cabeça dele, cortando sua respiração. Ele já está bem debilitado, mas ainda tem força para se debater até morrer.

Assisto juntamente com os outros, não me importando com o sangue em minha roupa. Apenas algumas manchas aqui e ali. Assim que ele morre, volto para o carro e vou para casa. No carro, passo pelas mensagens de Ani que insiste em trabalhar mesmo estando grávida. Acho que me infernizar sobre o meu casamento virou seu trabalho agora. Sei que ela tem muito apreço por Kin... Sayuri, mas eu tenho um propósito para a sua amiga, ela garantirá que os meus sobrinhos e seus pais permaneçam vivos.

Raffaele (série A Tríade - Livro 3) DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now