Capítulo 19. Escarificações

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Aiden juntou as sobrancelhas confuso, fez menção de levantar a mão e a colocar em minha testa novamente. A irritação me fez segurar seus dedos e baixá-los, me perguntando como ele iria sentir minha febre estando com os dedos cobertos por tecido.

— Não estou com febre! — Reclamei. — Me responda! 

— Mas Amélia, não existem letras nas portas. Todos os quartos são numerados, inclusive o que está em sua porta são dois números zeros por ser o primeiro. — Ele jogou as mechas dos cabelos que caíam sobre seu rosto para trás. 

Joguei a coberta para trás e levantei da cama, sentindo o chão gelado enquanto passava por Aiden e abria a porta, para constar com incredulidade que haviam dois zeros fora dela. Os números de ferro ainda estavam com um pouco de poeira e oxidação nos lados.

Fechei a porta do quarto coçando os olhos e suspirando, observando Aiden recostado na cadeira da penteadeira me olhando de soslaio. 

— Okay, deixa eu ver… — Cocei a cabeça voltando para frente de Aiden, ao lado do pé da cama. — Eris estava aqui ontem, ele veio invadir o jantar e irritar Pietro ou foi coisa da minha cabeça?

— Sim, ele veio até aqui. — Falou. 

— Okay, e para onde ele foi depois disso? — Passei as mãos no rosto começando a suar. 

Não era possível que eu estivesse louca, simplesmente não era, mas Aiden estava me olhando como se eu fosse uma mulher amarrada na camisa de força trancada na solitária. Havia um vinco entre suas sobrancelhas, seus lábios estavam crispados e descansava a cabeça nas mãos sobre o braço da cadeira.

Aquele olhar me irritava.

— Eu… eu não sei, Amélia. Eu não estava aqui quando ele foi embora. — Piscou. — Você está chateada por eu ter lhe dito que ele não voltaria para o Brasil, não é? Pietro se certificou de que ele fosse embora para a Inglaterra desta vez.

— Não, não é isso que eu estou pensando agora. — Reclamei andando de um lado para o outro no quarto. 

Em um impulso, quase abri a boca para perguntar sobre a mãe de Aiden, mas me lembrei bem sobre a situação estranha em que mãe e filho se encontravam naquele momento. Eu deveria dar um jeito de entrar em contato com Ravena depois sem que ninguém soubesse.

— Então o que foi? — Perguntou ele piscando os olhos baixos por estar claramente com sono. 

Me virei para abrir o closet e entrar no local, me lembrando de que Eris havia roubado um corset de mim e bagunçado tudo.

Fechei as mãos e as apertei nas laterais da cabeça quando vi todas aquelas roupas perfeitamente arrumadas e mais de trinta corsets arrumados organizados dentro daquele lugar como se ninguém nunca tivesse mexido ali.

 Limpei o rosto com as palmas, olhando depois para meu pulso limpo, sem sinal algum daquela maldita pulseira preta e vermelha.

Eu estava ofegante, minha respiração aos poucos estava começando a ficar pesada e difícil quando comecei a tossir.

Me virei para trás para pegar a bombinha dentro da bolsa sobre a cômoda e inalar três vezes sob o olhar vigilante e fantasmagórico de Aiden sem saber o que fazer, já de pé ao meu lado.

Algumas vezes eu tinha a impressão que havia um pouco de raiva brilhando em seus olhos quando eles estavam atentos sobre mim, mas logo essa sensação sumia tão rápido quanto havia começado, voltando a se tornar gentil como sempre, e então não passava apenas de uma paranóia esquisita.

— Se… se os empregados me viram passeando nos corredores — Comecei. — As pessoas que estavam aqui antes no jantar, também me viram? 

— Não. — Ele respondeu sorrindo, tirando despreocupadamente uma mecha castanha de meu cabelo da face. — Eles não dormiram aqui, Amélia. Acredito que tenham ido para um hotel e provavelmente ainda estão lá, daqui a pouco virão. 

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Where stories live. Discover now