Lílian acabava de concluir o ensino médio e estava à espera desse grande dia que para ela não era tão grande assim, não estava muito ansiosa nem contente com isso, afinal, não possuía amigos, sua mãe estava doente e ninguém da sua família iria acompanhá-la, mas ainda assim, decidiu participar. A formatura aconteceria no dia 13 de Dezembro, uma sexta-feira, alguns colegas ficaram receosos com a data, pois – diziam as lendas –, sexta-feira treze sempre era um dia amaldiçoado, porém os organizadores da festa não eram supersticiosos.
Acordou numa manhã que para ela era perfeita, o dia estava completamente nublado, e uma tempestade daquelas ameaçava vir, adorava tempestades. A noite chegou e então a garota vestiu seu vestido azul, que ela mesma desenhara, colocou a beca vermelha e o chapéu de formatura que detestara, não gostava muito de maquiagens e não era muito vaidosa, então usou apenas o básico, sombra, rímel e batom, um pouco de perfume, soltou os cabelos e saiu.
A cerimônia ocorreu tranquilamente, depois, todos se dirigiram ao vestiário para retirar as becas, retocar maquiagens e se prepararem para o baile que começaria logo em seguida. Quando o DJ começou a tocar, todos caíram na pista, exceto Lílian, ela não tinha par, odiava música eletrônica e odiava dançar, não via sentido naquilo, ela queria ir para casa, queria ir para qualquer lugar, menos ficar ali.
A tempestade finalmente chegou, o que a deixou um pouco mais feliz, havia uma energia diferente no ar sempre que elas ocorriam, ela sempre notou isso, mas dessa vez, era diferente, não sabia o porquê, só sentia que era. Os relâmpagos e trovões estavam cada vez mais fortes, mas seus colegas não se importavam, só queriam beber e dançar. De repente, as luzes começaram a piscar sem parar. Todos ficaram assustados, mas alguns minutos depois o problema se estabilizou e tudo voltou ao normal, a música recomeçou e todos já estavam dançando novamente, até que corpos começaram a despencar do teto.
O horror e a incredulidade fizeram-se presentes na face de cada uma das pessoas que ali estavam. Ninguém parecia acreditar no que estava acontecendo, uns gritavam e corriam desesperados, outros apenas observavam a situação, como que paralisados pelo medo, pelo choque, pelo sangue, não se sabe ao certo. Márcia, a garota mais popular do colégio, agora estava sem o coração, caída sobre a mesa em que havia a tigela de ponche, metade do corpo de Johnny, o jogador de futebol mais belo do time, caíra sobre a mesa de som do DJ, a diretora teve sua cabeça arrancada, e outros corpos também surgiram, era como se tivessem sido atacados por muitos leões famintos.
O cheiro sangue impregnava o local, o líquido vermelho e vital se espalhava por todo salão como chuva, algumas pessoas corriam desesperadas tentando fugir, mas as saídas estavam trancadas, todos estavam enjaulados, juntamente com a morte, encurralados como vítimas de um sacrifício brutal, seja lá quem fosse ou o que fosse responsável por aquilo, pretendia continuar. Lílian se sentia tranquila, continuava sentada em uma das cadeiras, sempre estivera à espera da morte desde a infância, o terror não a assustava, pelo contrário, chegava a ser para ela algo fascinante. Observava tudo, prestava atenção, como um fã de filmes de terror assistindo a uma obra que tanto esperou ser lançada, até que alguém pôs a mão em seu ombro, ela virou-se e se deparou com uma criatura intrigante, os olhos eram amarelos, os dentes se pareciam com presas de um tubarão, seu corpo era coberto de pelos, possuía garras enormes, era bípede, talvez fosse um lobisomem, ela pensou, mas não era, era diferente.
A criatura fitou-a por mais algum tempo, olho no olho, Lílian achou que havia chegado sua hora, mas depois aquele ser a saltou em uma velocidade incrível e começou a matar todos, enquanto a garota assistia a tudo atentamente.
Após ceifar a vida dos presentes, voltou-se novamente para Lílian, levantou um dos braços preparando-se para matá-la, mas parou bruscamente e ficou admirando-a, olhando novamente bem no fundo dos seus olhos, ficaram ali por um tempo, depois a criatura se foi, desaparecendo como fumaça que se dissipa com o vento, e a tempestade também parou, como uma cortina que se fechou após um espetáculo horrendo. Ela era a única testemunha de tudo e logo a polícia chegaria, mas não acreditariam nela, como explicar o inexplicável? Então ela não ficaria ali para esperá-los. Em casa, tomou banho, deitou-se e dormiu, como se nada tivesse acontecido.
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Contos de Uma Mente Fértil
Ficción GeneralOlá, cara leitora ou leitor! Estas são as primeiras histórias que publico aqui (espero que as primeiras de muitas). É/Será uma coletânea de contos e/ou minicontos diversos (uns mais tristes outros mais alegres). Tentarei postar um novo toda terça-f...
