Capítulo Trinta e Cinco

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Nabim fica de costas para mim, indo preparar mais comida, enquanto a massa do seu pão descansa. 

Reflito suas palavras, estou como ele no primeiro ano. Com medo de falar, inerte. Sem tomar uma atitude. A sensação de ficar esperando que resolvam o problema no meu lugar é cômoda, porém angustiante. 

Por isso, saio da cozinha e subo as escadas indo em direção ao quarto de Elena. Ela é minha namorada, ela precisa do meu apoio. Ela precisa saber que não importa o que aconteceu hoje, estou e estarei, sempre, ao lado dela.

Ao entrar em seu quarto, escuto o barulho do chuveiro. Renan procura uma roupa confortável para Elena. 

— Pode deixar, eu cuido disso. 

Sem muita vontade, ele para o que está fazendo. Olho para a cama, onde uma calcinha e um top estão jogados, me incomoda que Renan tenha tomado o partido e não eu. Me incomoda ter ficado na inércia. 

Próximo da porta, ele fala: — É melhor tomar muito cuidado com as suas palavras, Elena não precisa de mais merda hoje. 

Sem me deixar responder, ele sai, indo para a cozinha. Respiro fundo, tentando não ficar bravo e me colocar no seu lugar. Se estivesse na posição de Renan teria a mesma atitude. 

Adentrando o quarto, termino de separar a roupa. Uma camiseta larga e grande, junto com uma calça de moletom, mesmo estando quente, não sei se, agora, Elena estará confortável para usar shorts.

Tomo mais uma respiração e entro no banheiro. Elena não percebe que sou eu, o box está embaçado. Abro a porta de vidro, visualizando a pele de suas costas. Ela esfrega a pele com força, deixando-a mais vermelha e arranhada. Sem pensar muito, tiro o tênis e entro no box. 

Finalmente sou notado. Elena se vira rapidamente para ver quem está com ela e ao perceber que sou eu, volta-se para frente. 

— Ei — a chamo. — calma. 

Tiro a esponja de suas mãos da forma mais delicada possível. A calça e camiseta do uniforme grudam no meu corpo devido ao vapor. 

— Assim vai acabar se machucando. — ignorando minhas falas, Elena rebate:

— Sai, Rafael! — dessa vez, sou eu quem ignora suas palavras. — Sai, eu não quero você aqui! 

Ela recua para a parede conforme eu avanço na sua direção.

— Vai embora! 

Ela vira o rosto para o lado, a mordida destacada na sua pele, arroxeando o seu rosto bonito. Estragando a pintura como uma pincelada errada do artista. Entro debaixo do chuveiro, me molhando por inteiro e a abraço. 

A abraço forte, dizendo sem palavras que estou ao lado dela. 

— Não vou embora, meu amor. Não vou sair do seu lado.

Se desvencilhando do meu abraço, Elena repete: — Estou falando sério com você, Rafael. Vai embora. 

— Também estou falando sério, Elena. Já disse que não vou. — volto a me aproximar, com calma. — O que foi? Pode me dizer. 

Elena desvia o olhar, não sei se percebe, mas, ela passa a mão na bochecha machucada. 

— Eu… eu me… eu me sinto suja. — as palavras saem com dificuldade. — Eu sinto o toque dele em mim e não importa o quanto me limpe, está impregnado. 

Tomando a esponja da minha mão, ela volta a esfregar com força a pele dos braços. Machucando-se ainda mais. 

Retiro, mais uma, a esponja da sua mão e a coloco no suporte. Pego o sabonete e espalho nas mãos e, com calma, passo a lavar Elena. Vou massageando seu corpo devagar, não tem nenhuma conotação sexual. Sou apenas eu cuidando dela. 

Encharcado, desligo o chuveiro e pego a toalha, a secando. Seca e enrolada na toalha, Elena deixa o banheiro. 

Tiro as roupas molhadas e procuro uma toalha, me seco e vou para o quarto. Vestida, ela procura algo dentro do guarda roupa, parado no meio do quarto, penso em pedir para que ela busque uma calça e camiseta no quarto de Heitor. 

Ela me entrega uma bermuda e camiseta que estava dentro do seu guarda roupa. 

— Depois que você usou, o Heitor achou melhor deixar aqui. — explica. 

Coloco a roupa rapidamente, sentado na cama a coloco sentada no meu colo, virada para mim. Cheiro sua pele e deixou um beijo em cima do machucado do seu rosto. 

— Não quer passar uma pomada? — questiono. Negando com um movimento de cabeça, Elena passa os braços pela minha cintura e apoia o rosto no meu ombro. 

— Desculpa por ter te mandado embora, mas eu não quero que me veja assim. 

— Assim como? 

— Suja e marcada. — não entendo o porquê de Elena se sentir suja. Ela não tem culpa de nada. Fernando que deve se fuder, se sentir mal, sujo. 

Não a minha Elena. 

— Você não está suja, meu amor. E a marca vai sair. Todas elas. — a aperto contra mim. Apesar de não chorar a sua respiração fica pesada — Se acha que está suja, te darei quantos banhos quiser. Se acha que está marcada, cuidarei de todos os roxos. Ouviu? 

— Ouvi. — sua voz sai fraca e embargada. 

Pego seu rosto nas mãos e com os dedos, limpo as pequenas lágrimas que escorreram, dou um selinho leve em sua boca, um simples toque. 

— Estou aqui para você, meu amor. Eu enfrento um leão da Nemeia, faço os doze trabalhos de Hércules, enfrento Aquiles, o que for preciso por você. — uso as poucas referências mitológicas gregas que conheço. 

Com um sorriso, ela concorda. 

— Na verdade… — começa e já sei que falei algo errado. — O leão da Nemeia já é um dos doze trabalhos de Hércules, então seriam só onze trabalhos ao invés de doze. 

— É trabalho para caralho! — ela ri mais, o som da sua risada aquece meu peito e alivia um pouco do peso. — Ainda bem que você é boa com números, se não, estaríamos fudidos. 

Levantando, pego a sua mão e passo a me dirigir a porta. 

— Vamos, Nabim está fazendo um dos seus pratos preferidos. 

Trazendo-a para perto de mim, vamos ao encontro de seus amigos. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now