Nabim fica de costas para mim, indo preparar mais comida, enquanto a massa do seu pão descansa.
Reflito suas palavras, estou como ele no primeiro ano. Com medo de falar, inerte. Sem tomar uma atitude. A sensação de ficar esperando que resolvam o problema no meu lugar é cômoda, porém angustiante.
Por isso, saio da cozinha e subo as escadas indo em direção ao quarto de Elena. Ela é minha namorada, ela precisa do meu apoio. Ela precisa saber que não importa o que aconteceu hoje, estou e estarei, sempre, ao lado dela.
Ao entrar em seu quarto, escuto o barulho do chuveiro. Renan procura uma roupa confortável para Elena.
— Pode deixar, eu cuido disso.
Sem muita vontade, ele para o que está fazendo. Olho para a cama, onde uma calcinha e um top estão jogados, me incomoda que Renan tenha tomado o partido e não eu. Me incomoda ter ficado na inércia.
Próximo da porta, ele fala: — É melhor tomar muito cuidado com as suas palavras, Elena não precisa de mais merda hoje.
Sem me deixar responder, ele sai, indo para a cozinha. Respiro fundo, tentando não ficar bravo e me colocar no seu lugar. Se estivesse na posição de Renan teria a mesma atitude.
Adentrando o quarto, termino de separar a roupa. Uma camiseta larga e grande, junto com uma calça de moletom, mesmo estando quente, não sei se, agora, Elena estará confortável para usar shorts.
Tomo mais uma respiração e entro no banheiro. Elena não percebe que sou eu, o box está embaçado. Abro a porta de vidro, visualizando a pele de suas costas. Ela esfrega a pele com força, deixando-a mais vermelha e arranhada. Sem pensar muito, tiro o tênis e entro no box.
Finalmente sou notado. Elena se vira rapidamente para ver quem está com ela e ao perceber que sou eu, volta-se para frente.
— Ei — a chamo. — calma.
Tiro a esponja de suas mãos da forma mais delicada possível. A calça e camiseta do uniforme grudam no meu corpo devido ao vapor.
— Assim vai acabar se machucando. — ignorando minhas falas, Elena rebate:
— Sai, Rafael! — dessa vez, sou eu quem ignora suas palavras. — Sai, eu não quero você aqui!
Ela recua para a parede conforme eu avanço na sua direção.
— Vai embora!
Ela vira o rosto para o lado, a mordida destacada na sua pele, arroxeando o seu rosto bonito. Estragando a pintura como uma pincelada errada do artista. Entro debaixo do chuveiro, me molhando por inteiro e a abraço.
A abraço forte, dizendo sem palavras que estou ao lado dela.
— Não vou embora, meu amor. Não vou sair do seu lado.
Se desvencilhando do meu abraço, Elena repete: — Estou falando sério com você, Rafael. Vai embora.
— Também estou falando sério, Elena. Já disse que não vou. — volto a me aproximar, com calma. — O que foi? Pode me dizer.
Elena desvia o olhar, não sei se percebe, mas, ela passa a mão na bochecha machucada.
— Eu… eu me… eu me sinto suja. — as palavras saem com dificuldade. — Eu sinto o toque dele em mim e não importa o quanto me limpe, está impregnado.
Tomando a esponja da minha mão, ela volta a esfregar com força a pele dos braços. Machucando-se ainda mais.
Retiro, mais uma, a esponja da sua mão e a coloco no suporte. Pego o sabonete e espalho nas mãos e, com calma, passo a lavar Elena. Vou massageando seu corpo devagar, não tem nenhuma conotação sexual. Sou apenas eu cuidando dela.
Encharcado, desligo o chuveiro e pego a toalha, a secando. Seca e enrolada na toalha, Elena deixa o banheiro.
Tiro as roupas molhadas e procuro uma toalha, me seco e vou para o quarto. Vestida, ela procura algo dentro do guarda roupa, parado no meio do quarto, penso em pedir para que ela busque uma calça e camiseta no quarto de Heitor.
Ela me entrega uma bermuda e camiseta que estava dentro do seu guarda roupa.
— Depois que você usou, o Heitor achou melhor deixar aqui. — explica.
Coloco a roupa rapidamente, sentado na cama a coloco sentada no meu colo, virada para mim. Cheiro sua pele e deixou um beijo em cima do machucado do seu rosto.
— Não quer passar uma pomada? — questiono. Negando com um movimento de cabeça, Elena passa os braços pela minha cintura e apoia o rosto no meu ombro.
— Desculpa por ter te mandado embora, mas eu não quero que me veja assim.
— Assim como?
— Suja e marcada. — não entendo o porquê de Elena se sentir suja. Ela não tem culpa de nada. Fernando que deve se fuder, se sentir mal, sujo.
Não a minha Elena.
— Você não está suja, meu amor. E a marca vai sair. Todas elas. — a aperto contra mim. Apesar de não chorar a sua respiração fica pesada — Se acha que está suja, te darei quantos banhos quiser. Se acha que está marcada, cuidarei de todos os roxos. Ouviu?
— Ouvi. — sua voz sai fraca e embargada.
Pego seu rosto nas mãos e com os dedos, limpo as pequenas lágrimas que escorreram, dou um selinho leve em sua boca, um simples toque.
— Estou aqui para você, meu amor. Eu enfrento um leão da Nemeia, faço os doze trabalhos de Hércules, enfrento Aquiles, o que for preciso por você. — uso as poucas referências mitológicas gregas que conheço.
Com um sorriso, ela concorda.
— Na verdade… — começa e já sei que falei algo errado. — O leão da Nemeia já é um dos doze trabalhos de Hércules, então seriam só onze trabalhos ao invés de doze.
— É trabalho para caralho! — ela ri mais, o som da sua risada aquece meu peito e alivia um pouco do peso. — Ainda bem que você é boa com números, se não, estaríamos fudidos.
Levantando, pego a sua mão e passo a me dirigir a porta.
— Vamos, Nabim está fazendo um dos seus pratos preferidos.
Trazendo-a para perto de mim, vamos ao encontro de seus amigos.
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A física entre nós [CONCLUÍDO]
RomanceRafael está ferrado. Perto de reprovar em física, se vê desesperado. A matéria parece não entrar na sua cabeça, todas aquelas letras, números, raízes e constantes o confundem. Sem saber o que fazer, recorre a Elena. A garota é a sua última esperanç...
Capítulo Trinta e Cinco
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