Capítulo Onze

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ELENA ANDRADE

Entrando em casa vejo meus pais na sala assistindo uma série na televisão, passa das dez da noite e não deixo de ficar impressionada com o tempo que passei na casa de Rafael, seus pais foram muito simpáticos comigo, principalmente seu pai. Entretanto, não foi difícil perceber que Rafael e Daniel tem seus problemas, o pedido para aconselhar seu filho deixou bem claro que pensava sobre o filho não saber o que desejava fazer após o final do ano.

— Como foi o jantar? — pergunta minha mãe, tentando disfarçar a curiosidade, meu pai, por outro lado, me olhava em expectativa esperando um longo relato.

— Foi legal. — É a única informação que forneço.  

Caminho até o sofá e me sento na ponta oposta deles. Minha mãe está apoiada no sofá e meu pai está sentado entre suas pernas com um ipad em mãos. Depois de minha resposta pouco satisfatória, ele coloca o ipad na mesinha de centro e se acomoda melhor. Que comece o interrogatório.  

Mariana Andrade, também conhecida como minha mãe, ergue a sobrancelha para mim. Olhar para minha mãe é como ver o reflexo daqui alguns anos. Temos os mesmos cabelos e olhos castanhos escuros, o formato do corpo. A única diferença é a pinta que ela tem perto da boca que dá um charme na sua aparência. Poucas rugas marcam seu rosto que ainda preserva a feição jovem e poucos fios brancos pintam seu cabelo. Vendo os dois juntos, é notável que nem eu nem meu irmão puxamos o meu pai. Lucas Andrade tem a pele branca e cabelos pretos, uma característica incomum sobre meu pai, ele tem alguns nervos da boca mortos, o que o deixa com o rosto e sorriso torto.  

Meu pai sempre sofreu muito bullying durante a infância e a adolescência por causa disso, foi apenas durante a faculdade de moda e têxtil que passou a se enxergar de forma diferente. E, claro, quando conheceu minha mãe, segundo ela a boca do meu pai foi a primeira coisa que chamou a atenção dela. Ela adora dizer que foi o sorriso torto do meu pai que a conquistou.  

— Não seja chata, filha. Conta direito. — É engraçado ver o quão curiosos eles estão.

— Não tem o que contar, nós jantamos e conversamos, foi legal.  

Não sei o que meus pais desejam ouvir.  

— É a primeira vez que você janta na casa de um menino, com os pais e tudo mais. Esse menino é só um colega mesmo? Nada mais? — questiona meu pai.

— Só um colega. — Confirmo.  

— Você sabe que não tem nada demais se ele for mais que um colega, não precisa abrir mão de viver um romance por causa da faculdade.

— Pai...

— Lucas...

Respondo no mesmo momento que minha mãe.  

— Eu só tô dizendo que você não deve se privar de viver um relacionamento por medo.

— Tá, e se ele fosse meu namorado, você acha que daria certo, pai? Ele aqui e eu em São José dos Campos?

— E por que não daria certo? Os tempos mudaram, não é como vocês fossem se falar por carta. E eu não estou dizendo para namorar, estou falando para se permitir um pouco, curtir um romance.  

Começo a ficar irritada. Meu pai não concorda nem um pouco com a decisão de não ter um relacionamento, para ele focar tanto na minha carreira me faz perder muitas oportunidades de viver experiências.  

— Filha. — Fala meu pai segurando minha mão entre as suas. — Você e seu irmão nos deram e dão tanto orgulho, eu olho para as fotos e suas medalhas, para a carta de aprovação do seu irmão do MIT e nem sei explicar como fico feliz. Só quero que viva tudo, sua carreira é muito importante e ver você crescer e se tornar uma mulher independente me deixa extasiado, só não deixe viver, não perca nada do que a vida pode te oferecer.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now