Parte II - Dezembro

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Vinícius

Eu precisava tirar os olhos dela, porque era necessário manter as aparências. Principalmente provar que nós não tínhamos nada na frente dos outros. Mas Noemí, naquele vestido vermelho, era a evidência pura de que o apelido que escolhi cabia totalmente a sua descrição. Cara, eu deveria merecer um prêmio por ter encontrado uma garota como ela.

— Professor. — chamou-me uma menina loira. — Ah, é uma pena você não ter ficado conosco no segundo semestre. Sentimos sua falta.

Estávamos em Dezembro e na formatura do terceiro ano da Noemí do Colégio Objetivo.

Sim, ela estava inacreditável naquele vermelho, justo e decotado vestido, mas o meu coração não estava pulando no peito em conta da sua beleza — o que sempre fazia —, mas sim do orgulho que sentia dela. Estávamos juntos há quase um ano — se formos levar em consideração os meses em que já me sentia seu, mesmo não podendo estar junto — e ela havia evoluído de uma maneira incrível aos olhos. Parecia mais dedicada aos estudos, menos respondona com a família, mais atenta a Luana e mais disposta a viver bem consigo mesma. É claro que a personalidade não havia alterado nada, e isso era o que eu mais gostava nela, mas Noemí, ainda sim, tinha me surpreendido. A garota estava mais adulta do que muita mulher de vinte e poucos anos que eu conheço.

— Sinto muito, Manuella. — sorri ao dizer. Eu era muito bom com nomes. — Mas o Anglo me fez uma proposta tentadora.

A realidade é que lá eu ganhava um pouco menos, apesar de ser um colégio tão bom quanto o Objetivo, mas a forma que eu simplesmente saí do meu primeiro emprego em questão de seis meses não foi um atrativo em busca de uma nova oportunidade. Acredito que eles temiam que fosse fazer o mesmo com eles, por isso deixaram meu salário mais baixo que o padrão, receosos por eu abandonar o barco. Caramba, ninguém sequer sonhava que o motivo de eu ter feito tudo isso se tratava de uma morena dos olhos cor de mel.

— É uma pena mesmo. — continuou Manuella. — A maneira que você lecionava era muito inovadora. Eu tive até vontade de entrar em uma aula de vôlei extracurricular.

Manuella era uma das garotas mais altas e bem posicionadas da turma da Noemí. Ela tinha certo talento como atacante e poderia insistir nisso ou até tentar levar como profissão. Geralmente, quando eu encontrava pupilas nas escolas, já direcionava para o meu amigo Renato. O cara era uma espécie de agente antenado dos esportes e sempre conseguia alguns testes tanto para os garotos quanto para as garotas. Bem, apesar de eu estar exercendo a minha profissão como professor por apenas um ano — recém-formado —, eu me esforçava para conseguir o melhor para os meus alunos.

— Fico feliz, Manuella. — eu disse, verdadeiramente. — Você tem talento.

— Bem — murmurou ela, olhando ao redor —, e existe alguma razão para você ter vindo essa noite ou apenas quis prestigiar os seus ex-alunos?

Sabia que ela não estava falando sobre alguma aluna(o) em especial, mas havia rumores de que eu tinha algo com a Maitê, a professora de Informática. Nossa, que grande bobagem, ela era uma amiga minha da época da faculdade e acabamos nos encontrando no Objetivo depois de ela ter abandonado Educação Física para fazer Ciências da Computação.

Meu coração era da Malaguetinha, aquela garota...

— Eu quis parabenizar vocês. Apesar do pouco tempo que fiquei com essas três turmas do terceiro ano, senti-me muito conectado a todos. É muito bom ver que vocês se formaram bem.

Olhei para além de Manuella, assistindo Thomas Mendes conversando com a Noemí. A mão dele estava em sua cintura e ele inclinava-se para dizer coisas no ouvido dela. Porra, eu prometi para mim mesmo que não teria ciúmes porque, bem, ela precisava vir acompanhada de alguém na sua formatura e eu não podia simplesmente aparecer aqui de smoking, agarrado com uma ex-aluna minha de menor. Então, com muita insistência da minha parte — Noemí não quis aceitar de forma alguma —, ela acabou topando o convite insistente de um dos muitos caras apaixonados por ela.

Pimenta MalaguetaWhere stories live. Discover now