Parte I - Abril

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Noemí

O ambiente escolar é absurdamente complicado. Quer dizer, têm os coordenadores, os alunos, o pessoal da limpeza, e etc. Não havia espaço para eu me aproximar de forma certa do Vinícius. Então, como uma luz atingindo a minha consciência, lembrei-me sobre o fato de que ele trabalhava como segurança do shopping Morumbi. Ou seja? Perto da minha casa, em um novo ambiente e, principalmente, um lugar cheio de pontos para se esconder.

Coloquei meus jeans escuros, uma bata simples e florida em tons roxos e azuis, além de saltos altos pretos. Eu não queria parecer tão adolescente para ele nesse Sábado. Então, caprichei nos meus cabelos, no perfume, na maquiagem e nos brincos. Afinal, como se veste uma mulher de vinte e três anos, alguém da idade dele? Não poderia ser muito diferente disso, não é?

— Filha, aonde você vai? — perguntou minha mãe, assim que desci as escadas.

— Shopping. — avisei, lançando um olhar para ela. — Você pode me levar? Luana não vai... Então...

— Vai sozinha no shopping? — interrogou-me, incrédula. — Por quê?

— Vou. Hum. Me encontrar com um garoto.

Os olhos da minha mãe brilharam.

— Ah, isso é bom. Quem é ele? Conheço?

— É da escola. — apressei-me a explicar, seguindo a promessa da virada do ano passado de que não mentiria para os meus pais. — Você não conhece.

— Bem, eu levo você. — animou-se ela. — Vou ter a chance de vê-lo?

— Sinto muito, mãe... Mas nós marcamos direto na fila do cinema, não vai dar.

Ela me disseminou um olhar chateado enquanto inclinava um bico esperto nos lábios.

— Ah, bem, se você diz.

Saímos de casa cerca de cinco horas da tarde. O trânsito em São Paulo estava caótico e eu peguei-me perguntando se seria difícil encontrar o Vinícius no shopping em meio a tantas pessoas que provavelmente estariam lá. Mas, não me importei. Eu tinha planos de vê-lo e seria assim. Zanzaria cada maldito andar até achá-lo naquelas roupas pretas e justas que os seguranças usam...

Eu nunca havia o visto longe do ambiente da escola.

Em dois meses, Vinícius havia mudado o seu comportamento comigo. Ao invés de me ignorar, estava perguntando a mim toda a hora como eu estava e sempre me sondava como podia. Nós não tivemos um momento para conversar sobre o caso do banheiro, mas eu sabia que se ele pudesse, jamais tocaria no assunto.

Eu podia jurar que ele quase havia me beijado.

— Você parece empolgada para vê-lo. — disse minha mãe, enquanto estacionava. — Ele é um bom moço?

— Ah, é o melhor. — prometi, estalando um rápido beijo em sua bochecha. — Obrigada, mãe. Você é ótima.

— Tem horário para te buscar? — ela ofereceu.

— Qualquer coisa eu ligo.

Meus saltos fizeram barulho ao entrar no elevador. Eu decidi começar por baixo, então, apertei o primeiro andar e principiei a minha busca. Droga, havia muita gente, mas não deve ser difícil encontrar um segurança, deve?

Caminhei por entre as pessoas, não me preocupando em olhar nas lojas como de costume e nem retribuir os flertes dos meninos ao passarem por mim. Eu estava atenta demais aos detalhes para me dispersar, preocupada demais em encontrar Vinícius e fazê-lo me ver no meu modo mais adulta possível. Eu queria provar a ele que longe da escola... Sim, longe da escola nós poderíamos nos ver.

Pimenta MalaguetaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora