Capítulo 5 - Sofia

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Bella e eu entramos na grande sede da Barroso Advogados de Santa Maria. Meu bisavô fundou a firma logo que se mudou de São Paulo para Porto Alegre e, desde aquela época, a empresa só cresceu.

Embora meus pais fossem advogados, nunca forçaram uma carreira de advocacia para mim ou para o meu irmão. Porém, acredito que o Direito veio como algo natural para nós dois, depois de tanto tempo vendo nossos velhos se dedicarem tanto e falarem com tanto carinho da profissão.

Mesmo tendo uma vaga garantida na empresa de minha família, sempre quis trilhar meu próprio caminho. Por isso, consegui um estágio muito bom na firma em que trabalho e estou muito orgulhosa de onde cheguei. Porém não posso negar que conseguir uma vaga na Barroso Advogados é o maior feito para qualquer um que faça Direito aqui no estado.

Meus Jimmy Choo da sorte repicam no chão de mármore da entrada e dão a confiança que preciso. Bella olha para tudo deslumbrada, realmente meus pais não pouparam dinheiro construindo essa sede.

Uma recepcionista nos leva até o andar dos sócios majoritários e depois de bater, entramos na recepção da sala de Gabriel. Lá dentro, uma secretária com quase setenta anos olha focada para o computador e um guri com jeito de surfista parece tudo, menos concentrado. Se gira de um lado para o outro em uma cadeira de rodinhas enquanto brinca com o grampeador.

Ao ver a cena, solto uma risada que assusta-o e o faz levantar-se depressa como se tivesse levado um choque. Meio gaguejando, fala nervoso e logo percebo seu sotaque carioca:

— S-senhorita Barroso! Desculpa pelo meu comportamento, não vi que a senhorita tinha chegado.

— Que isso, guri! — digo rindo e completo com um tom um pouco sarcástico — Não quis atrapalhar já que estava tão concentrado no trabalho...

— Tá louco garota! — diz rindo — se o Senhor Cavallero descobre que eu não tava fazendo o pedido de moção, to morto. Será que você pode dizer que eu tava concentrado fazendo e por isso não vi você? Por favor!

Solto uma risada com seu jeito de moleque do Rio, esse aí sabe ser engraçado. Assim que penso nisso, a voz mal humorada de Gabriel é ouvida pelo microfone do telefone da secretária.

— Sandra, tu pode pedir para o Rafael parar de trovar a senhorita Barroso e trazê-la para o meu escritório, por favor? — imediatamente o carioca empalidece.

Mexendo os dedos nervoso, conduz a Bella e eu para dentro da sala onde o amigo do meu irmão trabalha. O guri por quem me apaixonei na infância virou um homem feito. De terno Armani, com os cabelos cortados curtos e a barba rala parece um modelo.

Contudo, seus olhos castanhos mostram uma raiva mal contida que me deixa angustiada. Meio falando, meio resmungando, se dirige ao seu sócio júnior:

— Agora tu sai Rafael!

O carioca parece nervoso e tenta se desculpar. Bella observa a cena calada e, devido a anos de amizade, percebo quando a cacheada pensa em algo que vai nos meter em encrenca depois.

— Ai Gabriel, eu estava ouvindo o Rafael conversando com a Sofia e achei que ele teve ideias tão boas para o nosso processo. — diz com a maior cara de atriz. Nós três sabíamos que o carioca não tinha falado conosco porra nenhuma sobre o caso, mas ninguém falou nada. — Será que ele não pode te auxiliar na nossa ação?

— Só pra lembrar você, chefe, mas a cliente é a Senhorita Isabella Ferraz. Acho que se ela me quer no processo tu devia pensar em me botar nele. — Rafael completa provocativo.

— Também acho que ele tem muito a acrescentar no caso — digo brincando com Gabriel que parece cada vez mais irritado.

— Tá bom Sofia! Se tu quer o Rafael na tua ação tanto assim porque não o chama para ser teu advogado? E tu, fluminense enxerido, esqueceu que eu que sou teu chefe, é?

— Desculpa aí, senhor Cavallero. Não vou mais me ter nos teus casos... — sua voz exala duplo sentido e me pergunto se deixei transparecer alguma coisa.

— Deu de conversinha vocês dois. — Gabriel diz irritado — Isabella Ferraz, tu quer abrir um processo contra Matheus Albuquerque por assédio por intimidação, correto?

— Isso mesmo. — minha amiga concorda firme.

— Bom, vou ser bem sincero com vocês, acho que tem poucas chances de ganharmos.

— Como assim? Esse filho da puta precisa pagar! — Bella fala exasperada. Entendo seu sentimento, também quero que ele se foda. Contudo, já imaginava uma coisa assim. Infelizmente, nosso sistema de justiça ainda favorece muito os homens.

— Ah não se preocupe Isabella. — Gabriel diz, explicando a ela o que eu já desconfiava — Embora provavelmente vamos perder esse processo, por ter acontecido a muito tempo e por não ter ocorrido em um ambiente de trabalho, o Matheus vai pagar e muito pelo que fez a ti. Mesmo que ele seja absolvido, uma ação como essa acaba com a reputação de alguém e, na área de Direito, ter uma mancha como um assédio na tua ficha pode garantir que tu nunca consiga um emprego na vida.

— Nós vamos cuidar de vocês — o carioca fala para, em seguida, receber um olhar cortante do chefe acompanhado de uma reprimenda.

— Rafael, preciso te lembrar mais uma vez quem é o superior de quem aqui? — e, se virando para minha amiga e eu, continua. — Vão para casa e pensem no assunto. Vai ser um processo longo e difícil e não julgo se quiserem deixar as coisas do jeito que estão. Porém, se quiserem ir adiante, vou estar aqui para ajudá-las.

Assim que Gabriel fala isso, a secretária entra voando as tranças na sala avisando que houve um problema em um dos casos e os dois advogados correm para dar um jeito na situação. Em pouco tempo, o local vira um caos com os funcionários indo de lá para cá com papéis nas mãos e telefones nos ouvidos.

Achando que era nossa deixa para sair, Bella e eu nos encaminhamos para o elevador. Enquanto esperamos ele chegar no nosso andar, a cacheada começa:

— Bah Soso, agora que eu me liguei que tu não tem mais o chato do Matheus no teu pé e vai curtir a noite de verdade. Vai ter uma resenha na baia de um amigo meu, pilha ir?

— Bah sei lá, amiga. Acho que não, quero assistir a um filme, fazer umas coisas da facul...

— Mas bem capaz que eu vou te deixar em casa neguinha. A melhor forma de superar ex é subir no cavalo de novo. Hoje, onze horas, eu, tu e a Jo vamos estar arrasando, dançando até o chão na República Mista de Pelotas.

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Proteção - Sob o céu de Santa MariaWhere stories live. Discover now