Capitulo 5

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AS BANDEJAS DA CANTINA TILINTAVAM AO MEU REDOR E, QUANDO ergui o rosto, vi um enxame de garotas, tanto do terceiro como do quarto ano, reunidas à minha volta.
— E então — disse Jaime, alegremente, sentando-se bem à minha frente e com um sorriso enorme. — Conte tudo!
— Sobre o quê? — Franzi a testa, confusa, colocando o garfo ao lado do meu prato de salada.
— Sobre O Beauchamp, é claro! — disse Olívia com um gritinho, aproximando-se para ouvir melhor. — Nós queremos saber de tu-do! Vocês dois estão ficando?
Bufei. — Meu Deus, não, nada disso.
— Mas você o chama de Joshua— disse uma das garotas, e virei o rosto para olhar para Tamara, que havia baixado a voz para sussurrar o nome, talvez com medo de que ele a ouvisse. — Você não o chama de Beauchamp.
Dei de ombros. — Sempre fiz isso. Ele sempre esteve por perto, desde que eu era criança. E disse até mesmo que sou como uma irmã mais nova hoje de manhã. É só um cara legal.
— Um cara legal que sempre se envolve em brigas? — disse Geórgia, erguendo uma sobrancelha cética. — Ah, faça me o favor. Ele protege você. E faz isso desde sempre.
Apertei os olhos e senti a minha testa franzir outra vez. — O que você quer dizer com isso? Que ele me protege desde sempre?
Todas as garotas se entreolharam. E então, finalmente, Faith disse:
— Quer dizer que você não sabe?
— É óbvio que não! — exclamei, ficando mais frustrada a cada segundo. — O que é que eu não sei?
— Beauchamp sempre mandou que os rapazes ficassem longe de você — confidenciou Olívia. — Disse que, se algum deles fizesse qualquer coisa que pudesse magoá-la, iriam se ver com ele.
Pisquei algumas vezes, olhando diretamente para ela e, em seguida, explodi em uma gargalhada. — Você está brincando, né?
As garotas se entreolharam mais uma vez, e me forcei a voltar para a realidade.
— Ah, parem com isso. Olhem, ele só está agindo com o se fosse um irmão mais velho e protetor, está bem? Só isso.
Elas trocaram olhares de dúvida novamente.
Jaime finalmente disse: — Bem, se você tem certeza absoluta de que é isso...
— Cento e dez por cento de certeza. Perguntem a Noah, se não acreditam em mim.
— Por falar nisso, onde está sua outra metade? — perguntou Tamara.
— Está na aula de marcenaria. Ele queria começar a fazer a nossa placa para a barraca. Eu, por outro lado, queria vir almoçar.
— Certo — disse Candice. — Ei, você conseguiu convencer o Beauchamp a trabalhar na barraca?
— Ele disse que não vai. Tentei. Acredite em mim, eu tentei.
Todas as garotas suspiraram. — Queria que ele fosse. Eu iria gastar uma boa grana nessa barraca — disse Geórgia, fazendo todas rirem.
— Ele disse o motivo pelo qual não quer participar? — perguntou Karen.
Dei de ombros. — Não, não chegou a dizer.
— Ei, talvez Ele  venha até a barraca, mesmo que não trabalhe nela — disse Lily, subitamente, com um brilho nos olhos enquanto olhava de Karen para Dana e Samantha.
Todas imediatamente começaram a soltar vários gritinhos de empolgação.
Não podia culpá-las por isso.
— Oh, meu Deus! Any, se você não conseguir convencê-lo a trabalhar na barraca, pelo menos faça com que ele passe por lá.
Vacilei um pouco. — Não posso prometer nada...
— Mas vai tentar? — insistiu Dana.
Ouvi o meu celular apitar, e comecei a procurar nos meus bolsos antes de perceber que aquela saia infernal não tinha bolsos. Suspirei antes de pegar minha bolsa e revirá-la atrás do meu celular.
Venha para a oficina de marcenaria, estamos precisando de ajuda! — dizia a mensagem.
Guardei meu celular outra vez e me levantei, pegando a bandeja do almoço.
— Tenho que ir dar uma ajuda ao Noah. Acho que ele precisa de um toque feminino.
Elas riram e começaram a se despedir. — Ah, Any?
Olhei para trás. — Sim?
— Pergunte a ele — mandou Samantha, com um olhar incisivo.
Ri e confirmei com um aceno de cabeça, fazendo todas soltarem gritinhos, e em seguida neguei com a cabeça, pensando comigo mesma.
Certo, na realidade, eu não estava me sentindo muito melhor. Mesmo assim, havia superado aquela fase em que ele era o meu crush. Completamente, já que ele havia me dito que eu era apenas uma irmã para ele.
Mas isso não significava que ele fosse menos atraente.
Quando cheguei à oficina de marcenaria, Noah estava batucando um lápis impacientemente contra uma enorme placa de madeira. Depois de apenas dez segundos, aquilo já estava me deixando louca — e eu não culpava o professor, o sr. Preston, por deixar Noah sozinho ali e procurado um pouco de paz em sua sala nos fundos da oficina.
— Oi — falei, mas Noah não me notou até eu estar bem diante dele. Deixei minha mochila cair ruidosamente, despertando-o.
— Ah, não ouvi você entrar.
— Estou vendo, mesmo. Então para que você precisava de mim?
Apontou para a tábua diante dele. — De que tamanho você acha que eu devia desenhar as letras?
Soltei um suspiro e, em seguida, afofei os cabelos antes de puxá-los para trás em um coque. — Certo, garotão. Me dê esse lápis.
Desenhei as letras da BARRACA DO BEIJO na enorme placa de madeira.
— Mas elas não estão uniformes. Aquele "O" está bem mais estreito do que esse outro aqui. E o B está com metade do tamanho daquele A.
— Sei disso. Mas você pode retocar as letras e deixar tudo mais proporcional. Não importa se não ficar perfeito, com o que tenho em mente.
— Estou louco para ouvir.
Mordi o lábio, tentando encontrar as palavras certas para descrever a imagem na minha cabeça. Não era fácil. — Bem, nós conseguimos a placa principal para a barraca, e vamos desenhar essas letras em ângulos diferentes para que elas acabem se sobrepondo e apontem para várias direções, porque isso vai ser bem melhor do que simplesmente escrever "Barraca do Beijo".
Faz sentido?
Noah concordou com a cabeça, olhando para a placa. Eu podia praticamente ouvi-lo organizando a ideia em sua mente. — Estou percebendo o que você quer dizer. Vai ficar legal.
— Eu sei que vai.
Ele começou a desenhar as linhas com contornos mais grossos, medindo todas para que ficassem retas e perfeitas. Sentei-me no banco de frente para ele, balançando as pernas.
— Ei, você sabia que o seu irmão manda os outros garotos ficarem longe de mim?
Noah nem fez menção de erguer os olhos para olhar para mim; simplesmente deu de ombros. — Claro. Todo mundo sabe disso.
— Exceto eu. Como foi que nunca soube fiquei sabendo? E por que você nunca me contou?
— Não sei. Achei que você iria acabar descobrindo isso conforme os anos passavam. Por que você acha que os rapazes nunca convidaram você para sair?

Parei para refletir sobre aquilo por um momento. Para ser sincera, nunca tinha pensado nisso. Não havia entrado em pânico achando que havia alguma coisa errada comigo simplesmente por eu não ter um namorado. Meio que havia aprendido a conviver com aquilo, pensando que me consideravam "mais um dos rapazes" por passar tanto tempo com Noah; e que, por esse motivo, os garotos não me viam como uma garota que gostariam de chamar para um encontro romântico.
— Você sabe que é o único homem na minha vida, Noah— provoquei. Ele ergueu o rosto e piscou para mim, e mandei um beijinho em resposta. Ambos rimos e ele voltou a se ocupar com o desenho das letras.

Eu e Noah temos uma série de regras.....
Número 2 nunca contar nossos segredos para ninguém.
Número 5 sempre que estivermos chateados um gelado resolve sempre.
Número 9 nunca namorar o Josh...

Número 10 nunca quebrar a regra número 9. 

— Mas, falando sério. Você só ficou sabendo disso agora?
— Sim. Um grupinho das garotas me contou, porque elas queriam saber todos os detalhes e fofocas do que aconteceu hoje de manhã. Não que houvesse alguma coisa que pudesse virar fofoca. Disse a elas que Josh pensa em mim somente como uma irmã mais nova.
— Acho que ele assumiu uma versão extrema do papel do irmão superprotetor — concordou Noah. — Mas provavelmente eu faria o mesmo, se estivesse no lugar dele. Especialmente depois da maneira com a qual aqueles caras agiram com você hoje...
O lápis se quebrou na mão dele.
— Ei, fique calmo — falei, com a voz baixa.
Noah jogou as metades do lápis quebrado para longe e puxou outro de trás da orelha. — Desculpe. Mas eles realmente me deixaram bem puto aquela hora.
— Não me diga.
— Ah, deixe para lá. A questão é que Josh tem toda a razão em mandar os rapazes ficarem longe de você. Você é muito ingênua, e acabaria se magoando bem facilmente.
— O quê? — gritei, indignada. — Como assim sou "muito ingênua"?
Noah deu de ombros outra vez. — Às vezes você é gentil demais, Any. Não de uma maneira ruim. Só estou querendo dizer que... bem, você sabe. Você tem uma chance enorme de se apaixonar por algum babaca que vai acabar te magoando.
— Ah. Entendi.
— Estou só tentando cuidar de você. E Josh também. — Bem, obrigada... eu acho.
— Por nada... eu acho — zombou ele, rindo. Disparei uma borrachinha de escritório da mesa do lado contra seu braço. Ele a desviou com um tapa e continuou trabalhando, enquanto eu o observava e conversava.
Ainda estava me perguntando por que Josh havia chegado ao ponto de avisar os outros garotos para que não se aproximassem de mim. Aquilo era incrivelmente injusto. Eu faria dezessete anos dali a dois meses. Nunca havia sido beijada, nunca tive um namorado, nunca saí para um encontro romântico.
Era uma falta de consideração incrível da parte de Josh. Que direito ele tinha de interferir na minha vida desse jeito? Claro, era ótimo saber que ele se importava comigo — mas ele não precisava impedir completamente os outros rapazes de se aproximarem de mim!
Quando perguntei a Noah exatamente o que Josh havia feito para assustar os rapazes quanto a mim, ele disse: — Josh disse que, se alguém fizesse qualquer coisa que pudesse magoar ou machucar você, iriam se ver com ele.
Suspirei comigo mesma. Parecia bem claro que Josh me via somente como uma irmã mais nova vulnerável e ingênua demais, mas não consegui evitar de desejar que ele houvesse feito aquilo por razões diferentes.

A Barraca dos Beijos ( Now United ) Where stories live. Discover now