Capitilo 1

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QUER BEBER ALGUMA COISA? — PERGUNTOU NOAH DA COZINHA, enquanto eu fechava a porta da frente.
— Não, obrigada — respondi. — Vou subir para o seu quarto.
— Está bem.
Nunca deixava de admirar o quanto a casa de Noah Beauchamp era enorme,praticamente uma mansão. Havia uma sala completa no andar de baixo com uma TV de cinquenta polegadas e um sistema de som surround. Isso sem falar na mesa de sinucar e na piscina (aquecida) do lado de fora. Embora fosse como uma segunda casa, o único lugar onde me sentia realmente confortável era o quarto de Noah.
Abri a porta e vi a luz do sol passando pelas portas do lado oposto, também abertas, que levavam até a pequena sacada. Havia pôsteres de bandas cobrindo as paredes; sua bateria estava montada no canto do quarto, ao lado de uma guitarra, e o Apple Mac estava exibido orgulhosamente em uma escrivaninha elegante de mogno que combinava com o restante da mobília.
Mas, assim como o quarto de qualquer outro garoto de dezassete anos, o chão estava cheio de camisetas, cuecas e meias fedidas; a metade que sobrou de um sanduíche começava a embolorar ao lado do Apple Mac, e latas vazias estavam largadas sobre quase todas as superfícies.
Me joguei na cama de Noah, adorando a sensação de como o colchão me fazia subir e descer.
Éramos grandes amigos desde que nascemos. Nossas mães se conheciam desde a época da faculdade, e eu precisava somente fazer uma caminhada de dez minutos para chegar casa dele. Noah e eu havíamos crescido juntos.
Poderíamos até mesmo ser gêmeos; por uma coincidência bizarra do destino, nascemos no mesmo dia. Ele era o meu melhor amigo. Sempre foi e sempre será. Mesmo me irritando demais às vezes.
Ele apareceu bem naquele momento, trazendo duas garrafas abertas de refrigerante de laranja, sabendo que eu beberia a dele em algum momento.
— Precisamos decidir o que vamos fazer no festival — eu disse.
— Eu sei — suspirou ele, desalinhando os cabelos castanhos e retorcendo o rosto. — Será que não podemos fazer somente uma coisa com cocos?
Você sabe. As pessoas atiram bolas e tentam derrubar os cocos... que tal?
Balancei a cabeça, espantada. — Era exatamente nisso que eu estava pensando...
— Claro que estava.
Abri um sorrisinho torto.
— Mas não podemos. Já tem outra equipe que vai fazer isso.
— E por que nós precisamos inventar uma atração? Não podemos simplesmente administrar o evento inteiro e fazer com que as outras pessoas tenham as ideias para as barracas?
— Ei, foi você quem disse que fazer parte do grêmio estudantil seria um diferencial no nosso histórico escolar quando fôssemos para a faculdade.
— E foi você quem concordou com isso.
— Porque eu queria estar na comissão de dança — enfatizei. — Não imaginava que a gente teria que organizar o festival, também.
— Isso é uma droga.
— Eu sei. Ah, e se contratássemos um daqueles... você sabe. — Fiz um movimento de balanço com as mãos. — Aquela coisa que tem o martelo.
— Onde eles testam a força das pessoas?
— Sim. Uma coisa dessas.
— Não, outro grupo já teve essa ideia e fechou o contrato.
Suspirei. — Então, não sei. Não resta muita coisa. Já estão usando todas as ideias.
Nós nos entreolhamos e dissemos ao mesmo tempo: — Eu disse que devíamos ter começado a planejar isso antes.
Nós rimos e Noah sentou-se diante do computador, fazendo a cadeira girar lentamente.
— Uma casa mal-assombrada, talvez?
Olhei para ele com uma expressão impassível, na verdade, tentei, pelo menos. Não era fácil atrair a atenção de Noah enquanto ele ficava girando na cadeira daquele jeito.
— Estamos na primavera, Noah.  Não no Halloween.
— Sim. E daí?
— Não. Nada de casa mal-assombrada.
— Tudo bem — resmungou ele. — O que você sugere, então?
Dei de ombros. A verdade era que eu não fazia a menor ideia.
Estávamos bastante encrencados. Se não pensássemos em nada para uma barraca, acabaríamos sendo expulsos do grêmio estudantil, o que significaria que não poderíamos mencionar isso nos nossos históricos escolares antes de nos candidatar para as faculdades no ano que vem.
— Não sei. Não consigo pensar com esse calor.
— Então tire esse moletom e invente alguma coisa.
Revirei os olhos e Noah começou a pesquisar ideias para barracas para o Festival da Primavera no Google. Puxei o blusão por cima da cabeça e senti o sol bater na barriga. Tentei puxar os braços por dentro das mangas para abaixar a blusinha que eu estava vestindo por baixo...
— Noah— eu disse, com a voz abafada. — Que tal uma ajudinha?
Ele deu uma risadinha, e ouvi quando ele se levantou. Naquele momento, a porta do quarto abriu e pensei por um minuto que ele me deixaria ali, naquela situação complicada, mas no instante seguinte ouvi uma voz diferente.
— Ei, vocês podiam pelo menos trancar a porta se forem fazer isso.
Fiquei paralisada, com as bochechas ficando rosadas enquanto Noah puxava a minha blusinha para baixo e arrancava o blusão por cima da minha cabeça, deixando o meu cabelo armado com a estática.
Ergui o rosto para ver o irmão mais velho dele encostado no batente da porta, olhando para mim com um sorriso torto.
— Oi, Gabrielly— disse ele para me cumprimentar, sabendo que eu detestava quando me chamavam de Gabrielly. Eu não ligava muito quando Niah fazia isso, mas Josh era um caso completamente diferente: fazia apenas para me irritar.
Ninguém mais se atrevia a me chamar de "Gabrielly "; não depois de eu ter gritado com Cam por fazer isso no quarto ano da escola. Agora todos me chamavam de Any. Assim como ninguém mais se atrevia a chamá-lo de Joshua, com exceção de Noah e dos seus pais; todas as outras pessoas o chamavam pelo sobrenome, Beauchamp ou Josh.
— Oi, Joshua— devolvi, com um sorriso meigo.
Os músculos ao redor do queixo dele se tensionaram e suas sobrancelhas se ergueram um pouco, como se estivesse me desafiando a continuar a chamá-lo daquele jeito. Respondi somente com um sorriso, e aquele sorriso torto e sexy voltou ao seu rosto.
Josh era o cara mais gostoso que já havia agraciado o mundo com sua presença. Acredite em mim, não estou exagerando. Tinha cabelos loiros encaracolados que lhe caíam por cima dos olhos azuis faiscantes, era alto e com ombros largos. Seu nariz era um pouco torto por ter sido quebrado em uma briga, e ficou um pouco desalinhado depois que sarou. Ele não fugia de brigas, mas nunca havia sido suspenso. Com exceção de um ou outro "deslize", como Noah e eu costumávamos chamar, ele era um aluno-modelo: suas notas nas provas eram sempre as maiores da sala e era o astro do time de futebol americano, também.
Ele era o meu crush quando eu tinha doze ou treze anos. Foi uma fase que passou rápido, pois percebi que ele era areia demais para o meu caminhãozinho, e que isso nunca iria mudar. E, embora ele fosse um cara insanamente atraente, eu agia normalmente quando estava perto dele porque sabia que não havia a menor chance de ele me enxergar como qualquer outra coisa além de a melhor amiga do seu irmão mais novo.
— Sei que pareço causar esse efeito nas mulheres, mas será que você podia tentar não tirar as roupas quando eu estiver por perto?
Soltei uma gargalhada irônica. — Vai sonhando.
— O que é que vocês estão fazendo, por falar nisso?
Cheguei a imaginar por um momento por que ele estaria interessado, mas deixei aquilo de lado. Noah disse: — Precisamos de uma ideia para montar uma barraca idiota no festival.
— Cara... que bosta.
— Não diga — eu disse, revirando os olhos. — Todas as melhores ideias para barracas já foram enviadas. Vamos acabar com uma daquelas barracas onde... sei lá, onde você precisa puxar um pato com um gancho.
Os dois olharam para mim como se eu não pudesse ter uma ideia pior, e dei de ombros.
— Dane-se. Bem, de qualquer maneira, Noah... nossos pais vão sair hoje à noite, então a festa começa às oito.
— Legal.
— Ah, Gabrielly ? Tente não arrancar a roupa na frente de todo mundo hoje à noite quando eu passar perto.
— Joshua, você sabe que eu só tenho olhos para Noah— eu declarei, inocentemente.
Josh deu uma risadinha. Já estava ocupado digitando no celular, provavelmente compartilhando a mensagem sobre a festa, assim como Noah estava fazendo. Saiu do quarto a passos largos, como um gato preguiçoso ou coisa do tipo. Não consegui evitar que meus olhos seguissem aquela bunda empinada...
— Ei, se você puder parar de babar em cima do meu irmão por dois segundos — provocou Noah.
Senti o rosto enrubescer e o empurrei. — Cale a boca.
— Achei que você já tivesse superado aquela fase em que ele foi o seu crush.
— Superei, sim. Mas isso não faz com que ele seja menos gostoso.
Noah revirou os olhos. — Tanto faz. Mas isso ainda é meio nojento, você sabe.
Fui sentar diante do computador e Noah se inclinou por cima dos meus ombros, apoiando o queixo no alto da minha cabeça.
Cliquei na página seguinte dos resultados de busca e rolei a tela para baixo, sentindo meus olhos embaçando conforme passavam pela página.
Parei com algo que chamou a minha atenção bem no momento em que Noahcomeçou a dizer: — Espere. Pare aí.
Nós dois olhamos para a tela por alguns segundos. Em seguida, ele se levantou e eu girei a cadeira para ficar de frente para ele, com sorrisos idênticos se abrindo em nossos rostos.
— A barraca do beijo! — nós dissemos ao mesmo tempo, sorrindo. Noah ergueu a mão para que o cumprimentasse com um high five e eu bati a mão espalmada na dele.

Isso ia ser muito legal.

A Barraca dos Beijos ( Now United ) Where stories live. Discover now