Capítulo Vinte e Sete

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Minha vontade era de não voltar para casa nunca, de continuar com eles. Rindo e passando a noite com Elena. 

Ainda com as mãos unidas, puxo-a ainda mais para mim, passando o braço pela sua cintura. Subindo os olhos para mim, sorriu.

O sorriso que pretendo ver por muito tempo.

*

O sinal ainda não bateu, por isso, eu, Elena, Renan, Nabim, Clara e Lúcia conversamos sobre os vestibulares que estão chegando. Em outros tempos, estaria desconfortável ouvindo Lúcia e Clara falarem com tanta firmeza a respeito do futuro, mas não sinto desconforto. Me sinto feliz com a decisão de cursar administração e fazer cursos especializados de desenho. Outro fator que difere dos tempos anteriores é a ausência de Mateus.

É estranho não o ter presente, ele segue me ignorando e por tabela, evitando Clara e Lúcia também. Vejo o quanto isso as incomoda, principalmente a Lúcia que é amiga dele a mais tempo. 

Vou falar com ele, seja no intervalo ou saída, não irei abrir mão de nossa amizade por conta do seu ego ferido. Admito que não fui muito leal ficando com Elena, mas eu gosto dela, além da aparência, além das tatuagens e toda pose. E, Mateus não conhece nada disso. Ele a quis pela beleza, eu a quis por isso e muito mais. O mais que ele não tinha interesse em conhecer.

— Engenharia aeroespacial no ITA. — escuto a voz de Elena respondendo à Lúcia. 

— Caralho… Coragem, tem plano B? — questiona Lúcia.

— Eu não preciso de plano b, eu sei que entrei. — Arrogante? Talvez, mas totalmente verdadeiro.

Nem sei porque Elena insiste em continuar no Brasil, ela podia ir para qualquer universidade mundo a fora.

— Nem um pouco arrogante. — zomba Renan.

— Não é questão de arrogância, é a verdade. — dando de ombros rebate o amigo.

— Eu acho que estamos perdendo alguma coisa. — afirma Clara, seus olhos puxados ficam mais apertados enquanto analisa a mim e ao trio.

— O que está perdendo, senhorita Takami — inicia Nabim. — É que a Elena aqui… — Ele faz um pausa dramática, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo. — É simplesmente uma das campeãs da Olimpíada Internacional de Física, quatro vezes primeiro lugar na Obmep e deve ter mais prêmios que não lembro agora. Nós estamos na presença de uma gênia. 

Assisto o queixo de Lúcia e Clara caírem em choque. 

— Tá brincando? — questiona Clara um pouco incrédula.

— Não, por quê? — Elena rebate, adotando uma postura mais defensiva. 

Ela já tinha me contado sobre como é horrível lidar com os questionamentos. Pessoas falando que engenharia aeroespacial não é para ela, e que deveria estudar moda como o pai. 

— Eu tô chocada, não por você ser uma gênia — Clara é rápida na resposta. — E sim porque nunca soubemos disso. 

— Eu sou discreta. — dando de ombros como se não significasse nada, Elena responde.

— Agora está bem claro o motivo do Rafael ter negado a nossa ajuda. – Lúcia dispara. 

— Vamos dizer que foi um golpe de sorte. Muita mesmo. Foi pura coincidência ter visto a nota dela quando estava indo para a mesa do Fernando.

Depois de responder, fico pensando naquele dia. Naquela maldita prova com o três em vermelho. Se não fosse por ele não teria motivos para falar com Elena. Não teria "pedido" as aulas e nada do que tivéssemos nas semanas anteriores aconteceria.

Não viveria as idas de carros, as risadas, as descobertas, as contas, as teorias, ela cantando no carro enquanto seguíamos para a minha casa ou dela, ela e Heitor implicando um com o outro. Não teria nada disso. O colégio terminaria e Elena junto de seus amigos seriam apenas o trio isolado da sala. 

Eu, provavelmente, só saberia dela pela internet quando ajudasse a desenvolver alguma coisa foda ou pisasse em Marte. A Lua seria muito pouco para ela.

Porra… Não acredito que me sinto feliz por ter ido mal na prova.

Lúcia e Clara seguem fazendo perguntas para Elena sobre a carreira dela como competidora de Olimpíadas. Renan e Nabim acrescentam uma informação aqui e ali.

E eu fico pensando em tudo que poderia ter perdido se não tivesse arriscado e falado com ela. Quantas experiências perderia, quantos momentos ficariam reduzidos ao "e se". 

Ouvindo o som das vozes de meus amigos, sorrio de canto, feliz por não ter viver com a sombra do "e se".

A física entre nós [CONCLUÍDO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora