Você Sou Eu.(shortfic)

Capítulo 5

                                                                                                                                           2/5

As aulas do senhor Martini se arrastaram de forma demasiadamente lenta. Sina já não aguentava mais escutar sobre álgebra linear, ou qualquer outra coisa que englobasse cálculos, ou seja, matemática no geral. Batucando os dedos sobre a mesa, a garota de olhos verdes só conseguia pensar em Heyoon, e em como ela deveria estar. Ela desejou durante toda manhã que Heyoon ficasse bem, longe do idiota de Lakota ou qualquer outro que quisesse seu mal.Sina não podia evitar, tinha um bom coração e se importava demais com os outros. Sempre ía além da popular que conheciam. Ou pensavam que conheciam.

— Finalmente, liberdade! — Sina disse em um tom relativamente alto quando escutou o sinal do intervalo. Agora só lhe faltariam mais duas aulas e as outras seriam com Heyoon.

A loira caminhou livremente pelos corredores – sob olhares avaliadores, onde chegou até o refeitório e viu sua amiga. Sabina, com sua calça jeans e blusa azul da escola, estava sentada sobre a mesma cadeira do dia anterior. Elas sempre ficavam ali, naquela mesa azul, nas mesmas cadeiras, com os mesmos assuntos. Notas, pessoas no geral e festas.

— Oi — Ela se assentou — Que milagre é esse? — Sua boca se curvou em um sorriso cínico — Você não está comendo.

— É que eu comi demais ontem — Sabina respondeu com a voz sôfrega — Aí meu estômago ficou ruim.

— Isso que dá não ter limites — Ela zombou — Mas você já tomou algum remédio?

— Não, eu vou ficar bem sem tomar nada — Sua amiga afirmou com convicção — Você vai ver.

— Então tá bom! — Sina deu de ombros e percorreu com olhar por todo refeitório.

Também no mesmo lugar, na mesma mesa, Heyoon comia sozinha e em silêncio. Seus cabelos estavam presos, como de costume, seus óculos ocultavam sua face e seus dedos se remexiam de forma incessante sobre a mesa. Sina prontamente se levantou em um sobressalto, assustando até mesmo sua amiga, e caminhou até a coreana, carregando com sí vários olhares de reprovação.

— Olá, princess! — Sina brincou e beijou o topo da cabeça da coreana.

Heyoon não pôde deixar de engolir o seco e se assustar. Então era verdade mesmo, Sina não estava nem um pouco preocupada em perder sua reputação de popular por conversar com ela.

— Oi. — Foi o que ela se limitou a dizer no momento.

— Alguém te fez algo hoje? — Sina perguntou preocupada e assentou do seu lado, ficando em uma proximidade relativamente considerável. Heyoon engoliu o seco e negou com a cabeça.

Na verdade Lakota já tinha ameaçado ela – novamente por conta do trabalho que ela se recusou a fazer, mas optou por omitir essa parte, ficando calada.

— Não, está tudo bem. — Mentiu engolindo o nada que se formara em sua garganta.

— Ok — Sina assentiu, ainda tentando digerir a mentira da garota ao seu lado — Te encontro na sala 2? Ou prefere que eu vá te buscar na sala? Só por garantia.

— Aparece lá na sala e você será agredida — Heyoon arregalou os olhos em descrença — Todos estão te taxando de imbecil por falar comigo. E eu posso até não conversar com ninguém, mas também não sou surda. Sei quando falam de mim.

— Eu não me importo com isso, Heyoon — A loira dos olhos verdes afirmou pela quinquagésima vez, indignada — Por favor, acredite em mim quando digo que não quero ser popular.

— Só uma pergunta — Heyoon enrugou nariz e chacoalhou os ombros — Você está falando comigo por que quer destruir sua reputação mais rápido, ou por que de fato precisa de ajuda?

—  Estou falando com você porque não vejo motivos para não falar —Sina fechou o semblante. Por que era tão difícil acreditar em suas palavras? — E também porque preciso mesmo de ajuda.

— Tudo bem, desculpa se isso soou de forma rude — Heyoon se desculpou rapidamente — Não era a intenção. É que ninguém nunca falou comigo sem ser por interesse, então eu não consigo dirigir muito bem os ocorridos das últimas quarenta e oito horas.

— Me incomoda demais saber que eu nunca notei sua existência antes — Sina cruzou os braços sobre a mesa e encarou as pessoas a sua frente — Que merda de pessoa eu sou?

— Você não pode se culpar por não notar algo tão insignificante — A coreana deu de ombros, triste — Eu também não me notaria se fosse você.

— O jeito que você se rebaixa é surpreendente — Sina a encarou, incrédula — Pode parar com isso.

— Eu passei a vida inteira sendo rebaixada, apenas aprendi a lidar. — Ela tomou um gole de seu refrigerante, que agora estava quente e se desviou do olhar verde sobre sí.

— Eu posso quebrar a cara de quem te rebaixou a esse ponto? — Sina murmurou trincando os dentes.

— O jeito que você se importa demais com quem não conhece me surpreende. — Agora fôra a vez de Heyoon a observar, incrédula.

— É inevitável não me importar — Sina soltou um suspiro lânguido — Sempre fui assim.

— Gostei de você — Heyoon admitiu dando de ombros — Subiu bastante no meu conceito. Pensei que fosse como a Jeky, ou qualquer outra babaca dessa escola.

— As pessoas geralmente não me conhecem, julgam sem saber de muita coisa. — A loira rebateu num sussurro — Sou rodeada de pessoas, mas nenhuma delas se importam de fato com o meu verdadeiro eu. É bom que você tenha gostado de mim por quem sou de verdade, e não dá imagem que te passaram de mim.

— Interessante.. — Heyoon sussurrou. Estava demasiadamente incrédula por escutar tais palavras. Jamais pensou que fosse escutar isso dela. Dá pessoa que ela jamais pensou em conversar. Quer dizer, não depois de tantos anos.

— E eu também gostei de você, à propósito — Sina sorriu sem jeito — É mais do que eu esperei. Gosto de como é gentil.

— Mal começamos a nos falar e já estamos assim? — Heyoon fez uma careta — Quanta melação pra pouco tempo.

— Boba! — Sina respondeu em um sorriso.

O sinal tocou pouco tempo depois de suas palavras, levando-as a se levantarem e se despedirem temporariamente, afinal, se veriam novamente daqui poucas horas.

— Até mais! — Heyoon sorriu com a língua entre dentes, mostrando parte de seu aparelho azul claro.

— Até logo mais, princess. — Sina beijou sua bochecha suavemente e depois saiu.

Heyoon obviamente ficou parada no meio do refeitório, sorrindo como um idiota sem fundamento. Alguns olhares pairavam sobre sí, mas ela não se importou. Gostava de como tudo estava mudando com apenas algumas horas. Ela queria um amigo, e agora ela tinha um. Uma bela amiga.