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ㅡ O que faz aqui? Onde está seu irmão? ㅡ Perguntei e ri no momento que ele correu para debaixo da cobertura onde eu estava e abaixou a sombrinha.

ㅡ Eu já levei ele para casa. Assim que a aula dele acabou. Mas tive que voltar na rua para comprar umas coisas que estavam faltando lá em casa. ㅡ Daniel mostrou uma sacola de mercado pendurada em seu braço esquerdo. ㅡ Estava indo para casa agora, mas te vi aqui.

ㅡ Ah. ㅡ Ri assentindo. ㅡ Então a proposta da carona está de pé?

ㅡ Claro! ㅡ Ele riu também olhando para mim. ㅡ Vamos nos molhar um pouco, mas é só andarmos um pouco mais depressa.

ㅡ Desculpa ter que te fazer passar por isso. Apartir de agora, andarei sempre com uma sombrinha na bolsa. ㅡ Falei enquanto tirava a xuxinha do bolso e prendia meu cabelo. Assim que terminei, olhei para Daniel e o vi encarando-me sem dizer nada. ㅡ O que foi? Algo errado?

ㅡ Não. ㅡ Ele negou de imediato. ㅡ É que você fica fofa assim. ㅡ Ele riu, porém eu não. Senti minhas bochechas começarem a queimar sem o meu consentimento e abaixei minha cabeça. Eu odiava isso. Odiava corar nitidamente na frente de alguém. ㅡ Tudo bem?

ㅡ Han? Aham. ㅡ Voltei a olhar para ele. ㅡ Podemos ir?

ㅡ Claro. ㅡ Daniel ergueu a sombrinha e eu me aproximei dele. Ambos saímos do esporte clube seguindo a calçada lado a lado enquanto tentávamos não nos molhar.

Eu segurava as alças da minha bolsa com as duas mãos enquanto ele segurava a sombrinha e as sacolas. Eu perguntei se ele queria ajuda, mas ele recusou.

ㅡ Eu gosto de chuva. ㅡ Falei, de repente, enquanto observava a chuva caindo pelas ruas e sentindo o ar gélido tocar meu rosto. ㅡ Me passa um sentimento bom e me lembra a infância quando eu tomava banho de chuva.

ㅡ Tomar banho de chuva me dava medo quando era criança. ㅡ Daniel comentou e eu olhei para ele.

ㅡ Sério? ㅡ Ri. ㅡ Por que?

ㅡ Porque eu nunca tinha tomado banho de chuva na minha vida. Minha mãe nunca deixou. Aí um dia, um primo meu que estava lá em casa e era mais velho que eu começou a correr na chuva no quintal lá de casa. Ele devia ter uns onze e eu uns nove. Minha mãe não estava em casa, então fui com ele. Assim que pisei no quintal um raio caiu em algum lugar por perto e fez um barulho enorme! Eu e meu primo corremos para dentro de casa e eu fiquei traumatizado por três dias.

ㅡ Sério? Meu Deus, que perigo! Isso nunca aconteceu comigo. Na verdade, minha mãe tomava banho de chuva comigo desde que eu era pequena. Corriamos, pulávamos, dançavamos... eram tempos bons em que eu era só uma menina inocente que não dava dor de cabeça para ninguém. ㅡ Olhei para o chão molhado enquanto caminhávamos.

ㅡ Não creio que alguém como você possa dar dor de cabeça à alguém hoje.

ㅡ Ah... ㅡ Sorri. ㅡ É o que eu mais tento. ㅡ Olhei para a frente. ㅡ Não dar dor de cabeça às pessoas. Principalmente aos meus pais que tiveram que aturar o meu pior lado por anos.

ㅡ Você realmente está começando a me deixar curioso com relação ao seu passado, Elizah. ㅡ Daniel olhou para mim.

ㅡ Eu não gosto muito de falar sobre o meu passado. Não me sinto bem. ㅡ Apertei a alça da minha bolsa entre meus dedos.

ㅡ Tudo bem, eu não queria te pressionar a falar nada que não queira. ㅡ Ele pareceu preocupado.

ㅡ Talvez um dia eu te conte. ㅡ Voltei a olhar para a frente. ㅡ Mas o que importa é que eu não sou mais a mesma e que eu aprendi a ver o lado bom das coisas e aprendi a amar de verdade as coisas e pessoas que tenho na minha vida. ㅡ Sorri.

Nós dois seguimos andando, até que um carro, que parecia estar fingindo da polícia, passou por nós a toda velocidade e assim também em cima de uma ENORME poça de água ao lado da calçada.

No momento em que a água iria nos molhar, Daniel apontou a sombrinha para nos proteger e num ato repentino... me abraçou.

Seu braço direito que não segurava nada, passou por de trás de mim abraçou-me fazendo com que eu tocasse meu rosto ao peito dele.

Naquele momento eu senti algo que eu nunca havia experimentado antes. Ou pelo menos não me lembrava. Meu coração começou a pulsar de forma rápida , meu corpo todo paralisou e eu senti algo estranho na boca do meu estômago.

Eu não prestei atenção no que Daniel havia feito, mas ergui meu olhar para ele quando o mesmo voltou a colocar a sombrinha sobre nossas cabeças e nossos olhos se encontraram.

Seus olhos eram tão bonitos. Mas além disso... eles me causaram uma sensação tão diferente naquele momento. Parecia até que era a primeira vez que eu olhava para eles.

Aquela sensação me fazia sentir que eu já o conhecia a tanto tempo, mesmo não sendo verdade. Me fazia sentir algo estranho no peito, mas que o aquecia.

O que estava acontecendo ali e porque eu não conseguia parar de encarar os olhos dele?

Eu não sabia o que Daniel pensava ou sentia, mas ele também não dizia nada e apenas olhava para mim.

  Eu comecei a pensar como aquilo acabaria. Se seria constrangedor. Mas não foi. Foi só... o modo como nós dois reagiamos a quase tudo. Nós sorrimos.

[...]

ㅡ Muito obrigada mesmo. Eu estaria encharcada se não fosse por você. ㅡ Agradeci assim que paramos na frente da minha casa.

ㅡ Você me fez companhia. ㅡ Ele respondeu com um sorriso de canto e olhou para a casa ao lado com um olhar meio desanimado ou triste, eu não soube identificar direito.

ㅡ Tudo bem?

ㅡ Sim. ㅡ Ele assentiu. ㅡ Acho melhor você entrar. Sua mãe está te esperando. ㅡ Daniel apontou para minha casa e eu arregalei os olhos antes mesmo de me virar.

ㅡ Ela está na janela, né? ㅡ Fiz uma careta e ele assentiu rindo. Virei-me para trás e lá estava minha mãe na janela comendo um pote de pipocas enquanto nos observava. A mesma acenou com um sorriso sonso para mim e eu ri. ㅡ Eu vou entrar antes que ela venha aqui querendo conhecer você e toda a sua família. 

ㅡ Ok. ㅡ Ele riu e eu corri até a varanda de casa para não me olhar. Lá eu me virei para ele e acenei. ㅡ Até amanhã na escola! ㅡ Ele gritou.

ㅡ Até! ㅡ Acenei de volta e me peguei sorrindo enquanto o via ir embora.

ㅡ Ele é muito bonito. ㅡ A voz da minha mãe soou atrás de mim e eu quase escorreguei no chão molhado da varanda com o susto que levei. Cara, eu nem havia escutado o som da porta se abrindo!

ㅡ Credo, mãe. Quase me matou. ㅡ Entrei em casa já tirando o tênis do pé e olhei para ela que me encarava ainda comendo pipocas. ㅡ O que foi?

ㅡ Nada. ㅡ Ela deu de ombros, porém continuou olhando para mim. Eu sabia que ela queria me perguntar alguma coisa. Nós duas éramos iguais e todos os jeitos.

ㅡ Fala, mãe. ㅡ Ri consertando a postura. ㅡ Quer me perguntar alguma coisa? ㅡ Coloquei as mãos na cintura e a encarei com um sorriso ladino.

ㅡ Eu? Não. Longe de mim. ㅡ Ela virou as costas indo até a cozinha.

ㅡ 3... 2... 1...

ㅡ Ok, quem é ele e porque vocês ficaram de sorrisinhos? ㅡ Ela voltou perguntando com animação me fazendo rir.

●●●
Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now