I. O Grande Prisioneiro

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1695 Palavras.

Haviam três rotas possíveis para se chegar à capital imperial onde seu pai foi feito prisioneiro. A mais rápida seria pelo mar, uma caravela simples levaria uns vinte dias para chegar, mas os portos estavam sendo vigiados. A segunda rota mais veloz era pela estrada imperial, construída para ligar todas as grandes cidades nortenhas a capital, mas estava abarrotada de soldados procurando incansavelmente por ela, sem falar que era perigoso demais viajar por lugares populosos e correr o risco de ser vista e denunciada, já que haviam colocado uma recompensa por sua captura. A terceira rota era a travessia de gelo. O grande rio Shaynare que nascia no topo das montanhas do extremo norte e desaguavam no mar das terras de clima ameno, próximo do seu objetivo. O rio que passa metade do ano congelado, traçava quase que uma estrada natural por entre as montanhas gélidas e inóspitas. Um caminho perigoso, mas vazio, um exército não poderia passar por ali, pois o peso faria o gelo ceder e seriam tragados pela água gelada. Grande parte da área é domínio dos gigantes, que não costumavam ver com bons olhos aqueles que invadiam suas terras. Com certeza os soldados do império não a procurariam naquele deserto gelado, talvez até duvidassem que ela teria tal ousadia. Mas estes não conheciam Rhaynes Sigel.

-Você é realmente muito louca. O inverno está quase acabando, sabem lá os deuses qual a espessura desse gelo. Tem lugares que eu consigo ver através dele, a água escura e mortal. -Reclamou mais uma vez Solomon.

Solomon era a cabeça do trio. Aprendiz de magia elementar, era amante de livros e runas antigas, um sábio amigo e sagaz em suas percepções, porém era covarde, o que fora um dos motivos de sua reprovação na academia arcana.

-Que outro caminho você sugere? Sabe que os porcos sulistas abarrotaram as rotas para ninguém descer nem subir. -Disse Porthos.

Porthos era os braços daquele grupo. Um anão forte e desbocado como sua raça exigia que fosse. Os braços grossos e poderosos, trabalhados na forja onde passara grande parte de sua vida. Carregava um grande martelo de batalha quase do seu tamanho, com pontas afiadas ameaçadoras dos dois lados, uma arma que ele mesmo fizera. Ao contrário de Solomon, o anão não recusava uma boa briga e por vezes deixava sua emoção na frente da razão.

-Acredito que o caminho pelas montanhas seria muito melhor. Teríamos uma visão ampla de tudo à nossa volta. Seria mais demorado, mas teríamos mais chance de chegarmos vivos. -Solomon respondeu.

O aprendiz de mago encolhia-se dentro do seu grande manto de pele de urso, dos três, era o que mais sofria com o frio.

-Nós não temos tempo. Meu pai está preso, não sei o que pode acontecer com ele se demorarmos muito.

Eu sou as pernas, pensou Rhaynes. Era ela quem movia aquele pequeno grupo, sua força de vontade era implacável, foi lhe deixado uma missão que só ela poderia cumprir e ela seguiria em frente. Meio elfa, meio humana, herdara parte da magia de seu pai e o coração de sua mãe.

A primeira parte da grande travessia fora estranhamente tranquila. Caminhavam durante o dia todo e grande parte da noite. Por algumas horas acampavam ás margens do rio congelado onde a camada de gelo era espessa. Solomon invocava uma pequena chama para que dois deles pudessem dormir enquanto um ficasse de sentinela. Na maioria das vezes quem ficava era Porthos, pois anões necessitam de menos sono.

O rio Shaynare era terrivelmente largo, em alguns pontos não se enxergava uma margem da outra. Em grande parte de sua extensão era cercado por grandes paredões rochosos íngremes que obrigavam a travessia pelo rio. Esses paredões eram negros como carvão e não possuíam uma grama sequer de neve sobre eles, pois são quentes. Os estudiosos diziam que se tratava de fontes termais que passavam pelo subterrâneo daquele lugar, oriundos de uma cadeia de vulcões há muito adormecidos. Supersticiosos diziam se tratar de uma magia antiga feita pelos gigantes, pois era em cavernas e crateras desses imensos paredões que eles se entocavam durante o inverno rigoroso. Rhaynes não sabia muito bem em quem acreditar, mas sempre ouvira de seu pai que gigantes não se davam bem com magia.

Rhaynes: A Travessia de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora