Uma mulher que aparentava ter a mesma idade que eu, estava com um olhar assustado no meio da sala e no sofá uma garotinha, de cabelos castanhos, John correu até ela.

Ela se afastou do toque dele e aquilo pareceu abalar um pouco sua estrutura, mas ainda sim insistiu em falar com a garota.

Seu olhar era triste, como se pedisse socorro e ninguém a escutasse, mas mesmo assim ainda parecia ser uma criança adorável, mesmo não simpatizando comigo.

— Ela não é de tratar ninguém assim. — Ele me explicou quando entramos no carro.

— Tudo bem, ela é só uma criança passando por uma fase. — Ele ligou o carro e suspirou de maneira profunda.

— Não merecia passar pelo que está passando. — Sussurrou.

— É tão ruim assim? — Perguntei, ele me encarou e assentiu.

— A minha mãe, ela... — Limpou a garganta. — Ela está morrendo. — Involuntariamente levei as minhas mãos até a minha boca.

— Sinto muito, John. — Ele sorriu fraco e assentiu.

Enfim ele deu partida.

— Melanie sempre foi extrovertida, engraçada, sorridente, ela mudou tanto, jamais imaginei vê-la dessa forma.  — Comentou. — Esse almoço foi um fracasso, me desculpe. — Havia sinceridade em sua voz e sua expressão estava séria, o que era estranho.

— Não foi um fracasso. — Rebati, recebendo um olhar desconfiado dele.

— É claro que foi.

— Não foi, eu gostei. — Fui sincera e ele sorriu.

— Quem não iria gostar de sair comigo? — Seu humor voltou com tudo.

Revirei os olhos.

— Está bem, já chega. — Ele gargalhou.

— Você é menos chata quando quer.

— Você nem me conhece. — Rebati.

— Então deixa eu conhecer. — Tirou os olhos da estrada e me encarou com um sorriso torto.

— Não sei não.

— Poderia pensar um pouco antes de responder. — Sugeriu.

— Está bem. — Falei sem pensar.

Durante o resto do caminho ele me contou que levou a irmã na psicóloga por conta das crises de pânico que estava tendo constantemente, depois passamos a conversar assuntos aleatórios e claro que ele me irritou com sua provocação.

— Até mais, Julie. — Estávamos em frente ao prédio.

— Até mais, John. — Ele soltou uma piscadela e abriu um sorriso.

O ignorei e saí do carro, que assim que eu cheguei na entrada deu partida.

— Me conta tudo. — Ana praticamente saltou do sofá quando me viu na porta.

— Foi normal. — Dei de ombros.

— Só normal. — Perguntou desapontada.

— O que queria que tivesse acontecido?

— Não sei, um beijo? — Gargalhei.

— Para, porque eu ia beijar ele?

— É só um beijo, sem compromisso. — Deu de ombros e voltou a se jogar no sofá.

Ignorei ela e fui para o quarto, havia deixado meu celular em casa, desligado, pensei em liga-lo quando cheguei no quarto, mas eu resolvi ignora-lo um pouco e permanecer com aquela sensação gostosa que estava sentindo por mais algum tempo.

***

— Realmente me fez bem.

— Viu, eu falei.

— Você não falou nada com Henry, certo? — Perguntei preocupada.

— Não, Ju, não se preocupa com isso.

— Está bem. Como ele está?

— Henry me disse que ele não sai do bar e quando saí é carregado. — Meu coração apertou.

— Estou sendo tão egoísta.

— Claro que não.

— Sim estou, eu só pensei em mim, nem se quer me importei com os sentimentos dele.

— Quando foi que ele parou para se importar com os seus?

Fiquei em silêncio.

— Para de dar poder a ele, Julie.

— Não estou dando nada a ele, foram seis anos, Vivian, não seis dias, antes eu tinha os meus pais, depois ele e agora eu me vejo sozinha, porque eles três eram tudo para mim. — Me alterei.

Segurei as lágrimas que, ameaçavam cair, estava cansada de chorar, cansada de me sentir triste.

— Eu sei, Ju, só estou cansada de ver uma mulher incrível chorar por alguém que não a merece. — Ficamos em silêncio. — Eu preciso ir, Henry chegou, beijo. — Desligou.

Tudo voltou para onde havia parado, me arrumei para o trabalho, Ana pareceu perceber que eu não estava para conversar, pois ficou calada a todo momento, algo que não acontecia muito.

A noite pareceu eterna e para piorar a situação, Paul deixou várias mensagens de voz e mensagens.

— Não faça isso com você. — Ana apareceu atrás de mim.

— Não sei se consigo mais, isso está me matando. — Fui sincera.

— Você é forte.

— Não, eu não sou. — Minha voz saiu como um sussurro.

— Você viajou por três horas, para uma cidade que nem se quer conhecia, morar com uma louca. — Eu ri. — Recomeçar do zero, só alguém forte para tomar uma atitude dessa.

Nos abraçamos e logo depois, apaguei as mensagens de voz do celular, para evitar que eu ouvisse mais tarde.

Um Amor Em Meio Ao CaosWhere stories live. Discover now