Capítulo Vinte e Um

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— Por que eles insistem nisso? 

— Eu sei lá, cara. A sua mãe deve saber, ela não é psicóloga? Quais as chances dela atender os meus pais? 

— A chance dela atender os seus pais é nula, porque ela é psiquiatra, não psicóloga. Mas ela deve conhecer alguém da área de psicologia.

— Pergunta para ela e me manda o contato se tiver. Ou eu coloco os dois numa sala com um terapeuta ou eu vou acabar numa sala com um terapeuta. 

Eu acho que os três deveriam estar na sala de um terapeuta. Apesar de pensar, não digo nada a Mateus. Ele não precisa de mim para falar as merdas da sua família, já que as sentem na pele. 

O disco apita e ele sai para buscar a comida. Aproveito para perguntar para minha mãe qual perfume ela gostaria de ganhar, caso o aniversário fosse seu. 

Mãe: Um que não fosse muito doce. 

Rafael: Tá, mas qual o nome? 

Mãe: Não sei, filho, não ligo para marca. 

Obrigado, mãe. Ajudou muito.

Mateus volta com uma pizza, e recuso quando me oferece. 

Mateus me conta sobre como está a rotina no cursinho. Ao contrário de mim que prefere não misturar ensino médio e cursinho pré-vestibular. Mateus fazia de tudo para não estar em casa, preenchendo o dia com todo tipo de atividade ao ponto de chegar em casa tão esgotado fisicamente e mentalmente, que a única coisa que consegue fazer quando chega em casa é dormir. 

Mesmo com Lúcia, Clara e eu falando para dar uma pausa, ele não para. Como uma forma de confrontar o pai, ele parou de se preocupar com a escola. Deixando de fazer lições, trabalhos e estudar para provas. Mateus sente satisfação em ver as notas baixas, principalmente porque é seu pai que paga a escola. 

— Você precisa parar de ir mal nas provas, vai fuder o seu histórico por causa do seu pai? — Tento colocar um pouco de juízo na sua cabeça. 

— Não é por causa dele, eu realmente estou com dificuldade. 

Dificuldade porra nenhuma.

— Mateus — respiro fundo. — Vai se deixar ficar de recuperação por causa das merdas do seu pai? Não vai mudar nada. 

Mas, igual as outras vezes, ele finge que não escuta, ele está convicto em fuder com seu último ano. 

— Vamos, ainda preciso ver o perfume.

Concordo a contragosto. Na loja de perfume, a vendedora mostra de nacionais a importados. Vez ou outra sou questionado por Mateus. Quase uma hora depois, saímos da loja com um perfume caro e doce que deixou com dor de cabeça. 

Andamos pelo shopping conversando sobre a escola e assuntos rasos. Nenhum dos dois quer tocar no assunto família. Conversar sobre isso é o mesmo que falar com uma porta. Se nem Lúcia, sua amiga mais antiga, o fez enxergar a merda que está fazendo. Não sou eu quem vou conseguir. Até porque a minha situação com meu pai não é das melhores. 

— Quem era menina de segunda? 

— Que menina? — respondo de automático 

— A que chupou o seu pescoço. 

— Já falei que não estava com ninguém, atrasei por conta da ligação. 

— Tá, acredito. 

— É sério! 

É uma puta mentira, mas não sei se Elena ia gostar de saber que estou contando sobre a gente para as pessoas. Ela sempre foi bem discreta sobre a vida pessoal, prefiro omitir a informação do que expô-la.

— Vou fingir que acredito. Ela é comprometida? É do oitavo ano? 

— Não e não.— respondo distraído olhando um tênis.

— Mas, você acabou de falar que não tinha nenhuma menina. — com um sorriso vitorioso, Mateus joga na minha cara a mentira. 

— Tem uma menina. — Admito sem ter mais para onde fugir, já que acabei de entregar a mentira. Ele espera que continue. — Só vou falar isso. 

— Ela é da nossa sala? 

— Sim. 

— Estava na festa do Renan? 

— Sim. 

— Vai dar uma de come quieto?

— Vou. 

— A festa foi boa né — Confirmo. — Só não consegui ficar com a Elena. 

Sei que ciúme é besteira. E não deveria ligar para a fala de Mateus, mas eu ligo. Eu sabia que ele tinha tentado ficar com ela na festa, porém, depois de semanas nem passava pela minha cabeça que ele continuava pensando em ficar com ela. E tal perspetiva, não me alegrou. 

— Foda né. 

A conversa morre ali. Mateus não fala de Elena e eu tenho tempo para refrear o ciúmes amargo que desceu pela minha garganta. 

Pouco depois, vamos embora. Mateus precisa se arrumar para o jantar. 

Mesmo depois de horas, a sensação de amargor não saiu da minha boca.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now