A primeira vez

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Ah! Quem eu tô querendo enganar: há quatro dias divido o quarto com o Bokuto; há três dias bato uma pensando nele.

Não riam de mim! Estou confessando, isso já é difícil demais, estou tentando aliviar o peso na minha consciência escrevendo isto aqui!

Mas sabe o que é pior? Pior do que expor esse rolê esquisito em um lugar fora da minha cabeça, é: ele é meu melhor amigo.

E nunca vi ele de outra forma, até:

— E aí, Bro, vamos treinar uns levantamentos sozinhos hoje? — ele disse atrás de mim. Eu não precisava ver sua feição: ele tinha brilho nos olhos, o tom da sua voz delatava.

— Claro, eu só preciso alcançar isso aqui. — Minha garrafa de água estava caída atrás do guarda-roupas.

— Espera, eu pego pra você.

Ele puxou um pouco o guarda-roupa, deslizou na minha frente e abaixou o tronco em direção à garrafa. Deveria ter me afastado. Deveria sim, eu sei! Mas meu corpo travou! Fiquei ali, sentindo sua bunda roçar nas minhas coxas enquanto se esticava até alcançar a garrafa. A camiseta dele deslizou, deixando a mostra parte das costas e foi quando eu soube das covinhas, as ditas sinalizadoras de quem é bom de cama.

Grrr.

Calor, senti muito calor. Era como se formigas estivessem subindo pela minha pele queimando das minhas pernas até minha barriga, mas em vez de dor me dava arrepios. Arrepios cálidos. Faz sentido? Não sei explicar direito.

Quanto mais ele se esticava, mais se apoiava em mim. Eu não ia deixar meu Bro cair, né? Ainda mais ele, estabanado do jeito que é.

Conseguiu alcançar a garrafa, quando se levantou e girou nos calcanhares ficou tão próximo, mas tão próximo que me vi refletido nos seus olhos — no reflexo eu estava caindo para trás.

— Epa! — Ele me segurou pela cintura e me passou a garrafa, em seguida levou a mão à minha testa. — Nossa, você tá vermelho, Kuroo! Será que é febre? Tá se sentindo mal? Podemos passar na enfermaria, vou com você.

— Não, não, Bro. — Minha boca seca caçava as palavras. — Tô bem, só vou- é- preciso buscar água. Te encontro na quadra! — Não dei tempo para ele responder. Só precisava sair dali, corri para o bebedouro coletivo.

Desde então me pego pensando sobre como ele me segurou antes de cair; como roçou sua bunda em mim; como meu corpo não quis se afastar; como eu queria mais; como...

Como não posso ter mais porque ele é o meu melhor amigo e é hétero!

Sim, eu sei, eu mesmo era hétero até 4 dias atrás, mas é diferente. Ele com certeza não entrou em uma crise de sexualidade há 3 dias!

GRRR.

Opa! E eu sou hétero sim. Isso aqui é só uma crise. Como os boomers falam mesmo? Um período? Ah! Lembrei: é só uma fase. Vai passar.

Mas mesmo assim, o peso na minha consciência vai acabar comigo. Diário, faça, por favor, o seu trabalho.

Tá, tá. Vou te ajudar a me ajudar voltando para os fatos:

Cheguei ao bebedouro e enchi minha garrafa. No quarto ao lado ouvi barulhos... é, como posso dizer... voluptuosos? Essa palavra é certa? Gramática é o caralho, pensando na biologia eram barulhos de coito (mas coito não é o mesmo de acasalamento? É possível usar a palavra coito para dois homens? Essa foi a primeira vez que um termo da biologia me deixou incomodado. Por que não poderia usar essa palavra para homens? Ou melhor, por que isso estava me incomodando?) Mas o fato era: dois homens estavam transando naquele quarto.

Diário de Acampamento | BokurooWhere stories live. Discover now