Song of the siren

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As águas estavam mais agitadas do que o normal naquele fim de tarde, tanto que Yewon pode sentir do fundo do mar a energia do barco se aproximando de onde ela descansava. A garota se animou com a possibilidade de “trabalhar” novamente depois de mais de dez anos sem movimento naquela região, e começou a se arrumar do melhor jeito que pode antes de subir até a superfície.

Com o corpo para fora d’água e os pés tocando a leve movimentação do mar, ela se ergueu encarando o pequeno barco pesqueiro que se aproximava sem controle até onde estava e quando observou os humanos próximos a borda lhe encarando encantados, estendeu a mão e sorriu serenamente.

— É um anjo? — um deles perguntou — Estamos no céu?

— É uma deusa! — se animou o outro sorrindo.

Yewon olhou para eles ainda com a mão estendida e sorriu mais uma vez para eles, desta vez com um olhar sedutor.

— Venham — sussurrou — Venham até mim.

Alguns se jogaram na água, esperançosos de que iriam chegar perto da “deusa” ou “anjo”, porém, antes mesmo de se aproximarem de Yewon, começaram a afundar graças aos tentáculos de Caríbdis que vivia nas profundezas, criatura da qual graças a uma promessa quebrada Yewon ficou responsável por alimentar.

— MONSTRO! — gritou um homem, despertando todos os outros marinheiros dos encantos de Yewon.

A garota observou os humanos entrarem em pânico ouvindo tudo o que eles diziam dentro do barco, alguém pedindo ajuda e ela quis gargalhar por saber que ninguém se atreveria a entrar naquela parte do mar por serem tão supersticiosos. O último resquício de paciência dentro de si se esgotou enquanto o homem teimava em obter ajuda que nunca chegaria, Yewon estendeu a mão para o barco e fechou com tanta força em um punho apertado que a embarcação reagiu da mesma maneira, primeiro tremeu para depois partir no meio deixando os humanos no mar.

Os pedidos de socorro eram altos enquanto Caríbdis os puxavam para as profundezas, bolhas e mais bolhas de ar cortavam as águas contendo a agonia das vidas perdidas.

Yewon viu os destroços do barco e com uma leve movimentação na água, empurrou as madeiras o mais longe que pode, o suficiente para que chegasse ao continente como um alerta de nunca entrarem na região do Triângulo das Bermudas novamente.

Lentamente, a garota voltou para o fundo do mar, ajeitou seu vestido branco que estava ali para se lembrar de seu castigo e deitou-se chorando nas últimas pedras de mármore que tinha no fundo, um dos poucos resquícios de seu antigo lar que se perdeu há mais de mil anos. A sensação do vazio lhe preencheu novamente e se virando para cima vendo o sol tocar timidamente a superfície do mar, Yewon torcia para que um dia esse tormento acabasse e ela pudesse ser livre novamente.

Ser humana outra vez.

Walpurgis Night - GFriendOnde histórias criam vida. Descubra agora