Capítulo 2 - Minha nova família

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Acordei sentindo o pinicar da palha nas minhas costas. Abri os olhos e vi que sim, os eventos de ontem não foram um sonho. Demorei a dormir na noite passada pensando que na manhã seguinte tudo isto não passaria de uma ilusão. Estou em outro planeta. Talvez até em outro tempo.

Estas pessoas realmente parecem ser da Pré-história. Ao mesmo tempo observei que se pareciam com as pessoas da nossa época e não aqueles seres humanos que quase eram macacos. A fala deles era bem desenvolvida, pele branca e traços atuais.

A caverna tinha uma entrada principal que se separava em algumas seções que usávamos como quartos. Meus pais dormiam juntos, enquanto minha irmã e eu tínhamos um quarto para cada.

Ah, ainda tenho que aceitar essa ideia de que ganhei uma família da noite para o dia.

Não consegui me lembrar de como cheguei aqui. Não tinha certeza nem da minha última memória. Às vezes lembrava do trabalho ou do meu apartamento. Era como se minha mente não conseguisse se focar na última recordação.

Se este é o plano de algum Deus poderoso para me fazer salvar este mundo, temo que terei que decepcioná-lo.

Fui militar, mas só fazia trabalhos administrativos. Mal segurei uma arma na minha vida.

Hoje acordei com as mãos trêmulas, coração pulsando forte e lágrimas descendo pelo meu rosto. Exatamente igual ontem. Sinto que algo terrível aconteceu antes da minha chegada aqui, mas não conseguia lembrar.

Parei de tentar e me acalmei. É um hábito meu analisar situações difíceis com calma.

Como não posso fazer nada no momento, vou ficar aqui até descobrir onde estou e meus próximos passos.

– Irmão, comida.

Dei um pulo. Minha nova irmã apareceu atrás de mim. Ela parecia do tipo tímida e inocente. Chegou com a cabeça abaixada evitando o meu olhar. Mesmo assim, o jeito dela me deixou mais tranquilo.

Pelo menos não são homens das cavernas violentos e canibais como dizem nas histórias.

Decidi que vou continuar no papel de filho por enquanto. Afinal, se este mundo é como o da Idade da Pedra, deve haver um sem fim de perigos lá fora e o máximo que já fiz foi acampar por 2 dias perto da minha cidade.

Sorri para a minha nova irmã e agradeci pelo convite. O que a deixou ainda mais vermelha.

Tão linda!

Saímos juntos do meu "quarto" e fomos em direção à parte mais aberta da caverna. No meio tinha uma pedra plana de 30 cm de altura que usavam como mesa. Os meus novos pais estavam sentados no chão perto dela esperando a nossa chegada.

Aproveitei para olhar os arredores. Não haviam móveis ou utensílios, mas vi alguns gravetos e peles em um lado da caverna. Minha mãe, muito animada, separou a comida encima da pedra para todos os membros da família. Por último, estendeu suas mãos na minha direção.

– Coma meu filho. Você precisa recuperar suas forças.

Estendi minhas mãos e recebi frutas que pareciam morangos, uvas, também nozes e ovos pequenos como de codorna. Observei os outros comendo por um tempo e comecei a comer também. Estava faminto.

As frutinhas e nozes até que estavam gostosas, mas não comi o ovo. Por quê? Porque estava cru! Essa gente estava comendo até a casca!

Meu pai reparou que eu parei de comer e perguntou.

– Está tudo bem filho? Ainda sente dor?

– Haha! Claro que não, está tudo ótimo. É que já estou satisfeito. Vocês se preocuparam tanto comigo ontem. Estou muito feliz. Comam a minha parte. Aqui, toma.

Todos sorriram ao ver que me sentia bem. Não pareciam desconfiar de nada.

Será que não notavam que eu não era seu filho? Bom, imagino que as pessoas aqui sejam muito simples para desconfiar de algo assim. Nem na Terra alguém pensaria nessa possibilidade.

Além disso, não vejo nenhuma tecnologia. Não havia nem uma fogueira na caverna. No ensino médio, lembro de ter aprendido que essa era uma das coisas que não faltava para as pessoas das cavernas. São úteis para iluminar, cozinhar alimentos e espantar animais perigosos.

Pensando bem, é estranho que eu possa enxergar tão bem dentro desta caverna escura.

A minha nova família tinha cabelos bons, peles lisas e características europeias. Pareciam até atores com fantasias bem realistas. Até a fala era fluida! Conversavam pouco, mas conversavam bem.

Me lembro dos livros de história que pessoas deste tempo deveriam ser parecidas com os macacos, pouco inteligentes e até violentos. Nada fazia sentido. Talvez nem seja a Idade da Pedra como assumi.

Ah, me falta informação...

Terminando de comer, meu pai levantou e me chamou para fora. Pegou uma lança na entrada e me deu outra. A lâmina de pedra estava amarrada no bastão de madeira por uma tira de couro. Quis recusar, mas ao mesmo tempo não queria agir estranho.

Começamos a andar pela floresta. Os caminhos eram cobertos de grama e havia poucos arbustos. Gostei da sensação que me davam nos meus pés descalços, mas fiquei um pouco assustado com a quietude do lugar.

Me acalmei ao ver que meu pai era um homem grande e que não mostrava a menor preocupação ao passar por aqui. Meus antigos pais sempre me diziam que eu me adaptava rápido. Provavelmente tinham razão.

Rapidamente copiei tudo o que o meu novo pai fazia. De vez em quando ele se agachava para pegar frutas dos arbustos ou subia árvores para pegar diversos tipos de nozes. Notei que algumas tinham leves diferenças das que conhecia. Algumas eram maiores ou menores. Às vezes mais coloridas ou de cores diferentes.

Minha maior descoberta foi que o sabor era muito melhor do que as da Terra. Talvez fosse pela falta de agrotóxicos.

 Talvez fosse pela falta de agrotóxicos

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Transmigrei para a Idade da PedraWhere stories live. Discover now