Caminhei em direção à minha carteira ainda com um sorriso. Talvez você possa me achar irritante por sorrir tanto, mas eu gosto. Sorrir por pequenas coisas te faz dar mais valor àquilo.

ㅡ Felizinha ela, né. ㅡ Ouvi uma garota falar num tom baixo.

ㅡ É, ta achando que está no dentista? ㅡ A outra comentou e logo ambas riram baixo.

Parei de sorrir e puxei minha cadeira. Coloquei minha mochila sobre a mesa e me sentei. Peguei o meu celular para coloca-lo no silencioso mas permaneci com a minha atenção focada na professora.

ㅡ Elizah, o meu nome é Patrícia e eu sou professora de história. Você não perdeu tanto pois as aulas que tivemos foram todas relembrando as matérias do ano passado. ㅡ Assenti e, depois de tirar o som do celular, o guardei na mochila novamente. ㅡ Hoje nós começaremos a estudar Era Vargas. ㅡ A professora se virou para o quadro e anotou o título na cor azul ciano. ㅡ Alguém sabe me dizer em que ano começou? ㅡ Ela se virou novamente e eu olhei pela sala, mas ninguém levantou a mão.

Com certa timidez - pois eu não costumava fazer aquilo - ergui minha mão. A professora apontou o piloto para mim.

ㅡ 1930, após a revolução de 30. ㅡ Eu havia estudado aquele assunto nas primeiras semanas do ano no meu antigo colégio.

ㅡ Muito bem. ㅡ Ela voltou a olhar para o quadro.

após a revolução de 30. ㅡ A mesma garota imitou minha voz de uma forma mais fina fazendo uma careta. Não demorou para que a risada das meninas soassem.

Encolhi meus ombros em frustração e olhei para a janela tentando não me chatear. Talvez aquilo fosse normal. Talvez fosse o jeito delas.

Uma coisa que Mariana e Marcos sempre reclamavam era que eu via o melhor de todos, sempre. A pessoa podia ser a pior das pessoas, mas eu sempre procurava entender o lado dela e não olha-la com maus olhos.

Segundo eles isso é ser trouxa.

Olhei novamente para as garotas que nem ao menos prestavam atenção na aula. Ambas mexiam no celular escondido dentro de suas mochilas.

Abaixei a cabeça e resolvi pegar o meu caderno. Eu já tinha resumos daquela matéria, mas cada professor explica de sua maneira e, talvez, a professora Patricia dissesse algo que a minha antiga professora não disse. Então seria bom anotar.

Eu tentei não me preocupar com os demais alunos pelo resto da aula. Era só o meu primeiro dia, não significava que os demais seriam da mesma forma.

[...]

O sinal do intervalo tocou enquanto eu estava terminando de terminar uma equação. Eu tive duas aulas de história e agora estava tendo uma de matemática.

O barulho das mesas se mexendo enquantos alunos se levantavam para sair acabou me desconcentrando e me fazendo escrever o número errado. Paguei a borracha para apagar o erro e, com a minha perfeita habilidade em desajeito, deixei a borracha cair.

Porém, eu não sei se é só com a minha borracha, mas quando ela cai, ela não simplesmente cai, ela cai e rola para o outro lado da sala.

Olhei na direção dela e estava prestes a me levantar para pegar quando alguém a pegou antes.

Daniel, que estava passando por entre as cadeiras para sair da sala, pegou a borracha e veio na minha direção. Eu me senti completamente sem graça quando ele parou perto de mim e me estendeu a borracha, mas não foi porque ele era muito bonito - porque era - mas sim pelo fato de eu olhar para a cara dele e me lembrar da vergonha que passei na janela.

ㅡ Obrigada. ㅡ Sorri no automático.

ㅡ De nada. ㅡ Ele respondeu e já se virou para ir em direção a porta. Meu cérebro naquele momento pensou em milhares de desculpas para puxar um assunto com ele. Eu estava me sentindo solitária e, querendo ou não, ele era o único na qual eu " conhecia ". Entre aspas porque eu só sabia o seu nome né, mas ele era meu vizinho. Eu precisava de amizades. Mas acabei não dizendo nada. Fiquei com medo de ele pensar que eu estava tentando forçar uma amizade e sei o quanto isso é chato. ㅡ Ah... ㅡ Ele se virou para mim de novo e eu o olhei. ㅡ Foi mal quase ter te... atropelado com a minha bike hoje. Eu estava com a cabeça em outras coisas.

ㅡ Não se preocupe. ㅡ Sorri para ele. ㅡ Essas coisas acontecem. Eu também não estava prestando muita atenção. ㅡ Dei de ombros e ele assentiu, mas logo saiu da sala me deixando sozinha ali dentro.

Me senti aliviada por uns segundos por uma pessoa que não fosse um professor ou diretor ou um porteiro ter falado comigo sem sarcasmo ou desinteresse.

Mas esse alivio passou quando olhei ao redor e me vi sozinha.

●●●
Continua...

Amarelo, a nova cor do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora