|𝑂𝑐𝑒𝑎𝑛𝑜𝑠|𝑲𝒕𝒉+𝑷𝒋𝒎|

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

O som das ondas se quebrando sobre as pedras na orla, o cheiro de mar, os respingos de água sobre a velha madeira do cais, toda essa composição me fazia pensar sobre ele.

Sozinho às duas da manhã, com os pés na água gelada e escura, debaixo de uma tempestade. As vezes, por capricho do universo, uma pessoa pode estar tão caótica por dentro, que acabe combinando com o temporal que está fora.

"Ele não deveria me amar."

Não, Jimin não deveria me amar, bom, talvez eu estivesse sendo egocêntrico o bastante para pensar que ele me ama, quem sabe não é apenas uma paixão ardente, um fogo devorador que acabará daqui cinco ou seis anos. A água está tão escura e agitada, o céu também, se não pelos relâmpagos.

"Você é meu feixe de luz."

Ele poderia ir embora a qualquer momento, me deixar sozinho na praia, restando apenas as pegadas na areia, que logo seriam levadas pelo mar. As memórias são pequenas fotos presas em um varal, passamos por elas quantas vezes queremos, até substituirmos alguma foto e sem perceber, trocamos todo o varal, se acostumando a admirar os novos retratos.

"

Jimin está dormindo em nossa cama, pelo menos estava quando saí, não trouxe um chinelo, nem um guarda chuva, apenas a minha companhia e minhas dores. Ele surfa alguns dias, em outros está trabalhando, em outro ele estuda até madrugada, e há só dias. Sinto falta de quem eu era quando o conheci, essa nova versão fragilizada não é lá essas coisas, ciumento, paranoico, sensível......
Jimin chama atenção aonde vai, ele é bonito e simpático. Junto ao nosso cachorro, um golden que só cresceu em tamanho e adora acompanhar meu namorado no surf, ele é a combinação perfeita para "um cara ideal". Tenho total certeza que os olhares daquela praia estão todos voltados para ele, consigo imaginar, alguém pediu seu número, talvez o pequeraram, talvez até tenham tentado algo com ele, o ciúme é como uma gasolina, queimando em grande escala pelo meu corpo, mas eu não posso os culpar, ele é realmente um homem para ser desejado. Porém ele não é um homem pra mim, para um escritor que passa seus dias em frente ao notebook, escrevendo as pesquisas que faço para uma universidade de psicologia.

Minha mente me lembra sempre que escuto os barulhos do teclado.

"Você é um farsa"
"DEIXE-O"
"Ele vai ser mais feliz sem você"
"Libere o caminho para alguém que o faça feliz"

E agora estou me perguntando se eu deveria ceder à esses pensamentos, me afogando em meu próprio veneno, sozinho, lidando com a tempestade que corre dentro de mim, uma mais violenta e devastadora do que a que está correndo externamente.

Os primeiros pingos de chuva foram suaves, mas depois se tornaram grossos e violentos, o mar estava agitado, as ondas quebravam com força, o cais estava sendo coberto. Era assim que eu me sentia, sendo coberto pela água, parado em meio à uma tempestade, sendo totalmente coberto pela água.

"Vem, vamos pra casa Taehyung."

Não sei como ele me me encontrou mas me levou de volta, sem se importar se seu pijama iria se molhar, sem perguntas, apenas me abraçou de lado e caminhou comigo até em casa.

"Não vou te deixar, esperarei que você me deixe, vou aproveitar o tempo que tenho com você, Jimin."

Vou esperar até que você se canse, até que você me mande embora, até que não reste mais nada sobre nós, se não o charme e as memórias.