Utopia⏐LS

𝖔 𝖝 𝖎́ 𝖒 𝖔 𝖗 𝖔

Oxímoro: figura em que se combinam palavras de sentido oposto, parecendo excluir-se mutuamente, mas que atuando juntas em contexto, reforçam sua expressão.

Desde Louis, posso afirmar a cada nascer do sol, que todos os dias no reino passam a se colorir um após o outro.

Têm se tornado um pouco complicado ocultar meu entusiasmo em cada café da manhã, a pressa durante meus afazeres, a distração durante minhas aulas e até mesmo uma certa dedicação para me ver livre delas o mais breve possível. A rainha de forma mais atenciosa me questionara sobre isso, obviamente, e me senti consideravelmente desconfortável em mentir, alegando que toda aquela motivação era resultado de meu nervosismo em relação ao matrimônio e o tratado com a França.

Honestamente, o único assunto que realmente me interessou em toda a França foi Louis.

No entanto, nossos diálogos e lições se resumem à biblioteca do castelo, onde a história e cultura francesa parecem não ter fim através dos manuscritos centenários de autores de quem eu não tinha ideia da existência. Tenho sorte de meu tutor conseguir ser convincente o bastante para me prender a atenção, mesmo que o próprio não tivesse consciência disso. De qualquer forma, não me recuso a admitir o quão cansativo é ter que me lembrar a cada mísero minuto sobre o futuro que me aguarda, por meio de aulas e mais aulas que incluíam governo, administração financeira, descoberta e independência (que ironia, não?), táticas de guerra e conquista, até artes, religião, literatura e gastronomia francesa, o que me despertavam uma porcentagem minimamente maior de interesse.

Contudo, os únicos detalhes que permaneceram em minha mente eram como a voz de Louis se torna mais suave quando pronuncia o francês, como seus lábios se movem graciosamente enquanto lê e as vezes se curvam em um pequeno sorriso quando está distraído, a forma que sua franja se deita sobre os olhos quando mantém a cabeça inclinada e ele a arruma com os dedos delicados, os vincos e os ossos em suas bochechas se destacando sempre que tenta conter um sorriso, e quando não consegue conter, ele o cobre com a mão, fazendo um som adorável enquanto seus olhos se tornam pequenos. A maneira que mantém toda a calma para me explicar e esclarecer dúvidas, ou como sua voz se torna alta e rápida quando conta sobre suas obras favoritas. Eu poderia contar seus detalhes pela eternidade, até que todos os livros do palácio não fossem o suficiente.

Mas infelizmente, quando poderia descobrir ainda mais sobre cada um deles, minha mãe me surpreende anunciando a visita repentina de Lady Horan e seu filho.

Niall Horan pode chegar a ser a mais próxima pessoa que me atrevo a chamar de amigo. Digo, nosso único contato recente foi em minha última festa de aniversário, há poucos meses, e apesar de se manter reservado quanto à sua vida pessoal, o marquês em ascensão de descendência irlandesa tem um sorriso contagiante e adora conversar. Por isso, não reclamo quando naquela mesma tarde, o mesmo me convida para uma partida de golfe.

Posso dizer que tenho me divertido em sua companhia durante os últimos cinquenta minutos, embora tenha que testemunhar a minha falta de talento em esportes na frente de praticamente toda a corte e o sol parecesse martelar livremente em minha cabeça. Sua luz era muito mais bela quando eu apenas a observava atingir a beleza de Louis na biblioteca.

Ao redor do campo gramado, quase noventa por cento do público era feminino. Não é surpresa que embora meu matrimônio fosse a notícia mais comentada por todo o reino, algumas moças insistiam em marcar presença como pretendentes. Era extremamente cansativo, levando em consideração que nem para esta união eu me sinto preparado. O cortejo para mim é irrelevante, ainda mais quando minha atração não se concentra exatamente voltada a moças. Porém, não deixava de retribuir sempre que alguma delas sorria e acenava em admiração, e no momento em que virava as costas, eu as ouvia rindo e cochichando entusiasmadas entre si. Imagino qual seria a sua reação se soubessem a verdade.