03 | CONTANTO QUE JOGUE BEM

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  Luan Devora estava sempre preocupado com algo, apesar de exalar confiança por todo o lugar. Era focado em seus objetivos e no de seus amigos. Seu cérebro precisava trabalhar as 24 horas do dia para que não afundasse em pensamentos intrusos.

  Naquele momento, sentado ao centro do enorme refeitório, procurava uma pessoa específica. Seu olhar azul vibrante vagava de mesa em mesa, observava a fila para pegar comida e a entrada a cada minuto. Fazia isso todos os dias, porém, aquela era uma data especial.

  — Vai ficar tudo misturado no seu estômago de qualquer jeito! — Mateo Flores zombava Luna, que separava a comida minuciosamente, não se importando com o comentário.

  Sem receber um retruque dela, ele encarou o garoto de cabelos brancos.

  — É arroz integral? — Natan Rodrigues se sentou do outro lado da mesa, analisando a refeição. Estava decepcionado. — Tudo muito saúdavel e esquisito demais neste lugar.

  O refeitório parecia uma lanchonete dos anos 50. Algumas letras néon se destacavam pelas paredes junto a lustres bastante luminosos pelo teto. O espaço não se encaixava com o resto do internato, parecia um arco-íris em meio ao céu nublado.

  — Esperava Mc Donald's com batatas fritas? — Mateo gargalhou sozinho, relaxando no sofá preto. — Seria bacana se esse buraco fosse como um shopping, cada um escolhia o que comer, se iria ao cinema ou vasculharia as lojas. O horário de fechamento já temos! — Gesticulava as mãos pelos ares, mal parando para respirar entre as palavras. — Daria tudo por um pote de sorvete agora.

  Todos ali sentados se entreolharam, enquanto ouviam atentamente. Ninguém tinha aquela energia e assunto. O garoto poderia entreter todo o Vale de Utopia sem muito esforço. Sua notoriedade era como a brisa de uma montanha-russa.

  Luan Devora sempre associava as personalidades de seus amigos a uma cena caótica.  Naquele momento, imaginava que, se o lugar explodisse de repente, provavelmente Flores seria o culpado. Ele até acenderia um baseado com o fogo atiçado e fumaria ao observar tudo virar cinzas.

  — Agora que está no time de basquete tem que seguir a alimentação do time. — Alyssa comentou. Ainda se esforçava para fazer seu companheiro de infância se encaixar.

  Sentada ao lado, a filha do presidente largou o garfo de repente, titilando em seu prato e atraindo a atenção de toda a mesa. Seu irmão empurrou um copo de suco à sua frente em um breve sinal de advertência. Sabiam se comunicar com sutileza.

  — Contanto que jogue bem, não há muita restrição. — Luan olhou para Natan ao seu lado, ignorando o desconforto da irmã.

  Era óbvio que Luna não queria o novato próximo dele — e com razão —, mas seus chiliques estavam sendo desnecessários, e logo, poderiam ir além de pequenos resmungos para retaliação.

  — Ah, poxa! O mais legal é a dieta dos atletas. — Mateo fingiu decepção, largando o garfo em uma imitação exagerada. A garota Devora fez uma careta, o que levou a outro escárnio. — E toda aquela coisa de treinar por horas e horas como se a vida dependesse disso?

  — Não é NBA. — Lembrou Luan.

  A perna dele balançava embaixo da mesa, ansiando para que o sinal tocasse logo. Desejava que seus amigos continuassem tagarelando para o manter entretido. A cada som de passo, seu olhar seguia, se decepcionando em seguida. 

  Por que o sinal não tocava logo?

  Vinha se questionando sobre tudo. Havia preocupações demais em sua mente. Nada era tão abalador, mas ele se sentia dentro de um furacão. Pensava muito antes de fazer algo, e ainda se remoía se não saísse tudo completamente perfeito. Queria a definição completa de perfeição.

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⏰ Last updated: Jul 30, 2023 ⏰

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