24. don't you dare look out your window, darling, everything's on fire

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— E você a outra, não é? — era uma pergunta retórica e Nina só conseguiu dar de ombros. — Como você está lidando com tudo? Estamos a menos de dois meses do final do semestre...

A informação não era nova para Nina. Mantinha um calendário preso na parede do seu quarto que a recordava que o restante das provas se aproximavam e que ela tinha ao menos quatro trabalhos para entregar nos próximos dias. Dividir isso com as tarefas da Kappa Gamma — a venda de garagem foi só o primeiro passo, as reuniões eram duas vezes por semana agora —, o clube de patinação e a monitoria de Econ121 estava acabando com o resto da sua sanidade. Quando ela chegava em casa — cansada, tensa e alterada — precisava estar sorrindo.

Não queria preocupar Leo. Não queria que ele soubesse que algo estava errado ou fora do lugar. Colocar mais uma bagagem nas suas costas era tudo o que ele não precisava no momento. Então Nina guardava para si. Todas as reclamações, a exaustão, a dependência que a fazia engolir em seco toda vez que ela se olhava no espelho e não se reconhecia. Quando achava que ia explodir, jogava uma água no rosto e ia se aninhar com Leo, sorrindo sozinha ao vê-lo cair no sono antes dela. Sempre nessa ordem.

— Estou aguentando — confessou, levantando o olhar para a amiga. Nem os olhos confiáveis de Claire a incentivavam a contar a verdade. Estava, naquela altura, atolada na própria roupa suja. — Ele diz que eu não preciso me preocupar e que não preciso estar presente a todo momento, mas... Eu tenho medo de deixá-lo sozinho e...

Não continuou. Optou por sorrir para disfarçar o bolo que tinha se formado na sua garganta e dar de ombros.

"Eu tenho medo de ficar sozinha também", ela teria dito, se fosse mais corajosa. Ultimamente estava se sentindo muito covarde para se encarar no espelho.

— Meu irmão está vindo para Silvermount — mudou de assunto bruscamente, sem esperar que Claire respondesse. Empurrou o café que mal tinha tocado para longe, sorrindo sem mostrar os dentes. — Hoje. Mais tarde, na verdade.

— Você não parece tão animada com a visita... — Claire supôs, arqueando as sobrancelhas quando Nina deu de ombros. — Não deveria estar feliz? Está sempre falando que sente falta da sua família...

A pergunta de Claire era válida. Estava morrendo de saudades de Lukas. Era dele que costumava receber os melhores conselhos da sua vida — Leon era quem ouvia seus desabafos, mas não podia ser confiado — e as conversas mais fluídas. Se ela quisesse se sentar ao lado de alguém e contar tudo sobre sua vontade de ser diplomata — incluindo toda a burocracia que nem todo mundo tinha paciência para escutar —, a escolha certa era Lukas. Ou sobre qualquer outra coisa, na verdade. O segundo Houston-Löwe a escutaria por todo o tempo e realmente estaria interessado.

Outra coisa a preocupava no momento: podia apostar todo o dinheiro que tinha na carteira que Lukas não estava lá apenas para conhecer a cidade. Devia ter um dedo da sua mãe e do seu pai para checá-la já que eles não podiam ir até lá e o prazo de três meses para ela ser testada já tinha passado — mas não esquecido.

— Eu estou, mas sei que é só uma das formas que meus pais encontram para ficar de olho em mim — confessou, rolando os olhos. Não sentia raiva dos pais por não confiar nela. Nesses momentos, na verdade, sentia ainda mais vergonha de si mesma por não ser capaz de fornecê-los confiança.

— Mas você parou com o remédio, não é?

Um instante de silêncio se seguiu antes da resposta. Nina sentiu sua garganta ficar seca, mas Claire parecia entretida demais no seu café para notar o cheiro de mentira que pairava no ar.

— Sim, já tem um tempo.

— Então você não tem com que se preocupar...

Nina assentiu mais uma vez, demorando um pouco o olhar em Claire antes de descê-lo para as próprias unhas e para o esmalte descascado.

Dirty Laundry ✅Where stories live. Discover now